A perseguição dos piratas continuava à todo vapor. Caixas eram derrubadas, madeiras destruídas e azulejos esmagados. Um rastro de destruição era formado no porto enquanto em terra firme Às literalmente segurava as rédeas. Já em alto mar, o tritão fazia o que sabia de melhor: nadava. Sua velocidade em baixo da água era mais que o suficiente para que ele pudesse ir atrás dos elementos que causavam um alvoroço pela região. Em sua astúcia e sagacidade, esperava o momento certo para acertar os meliantes, enquanto sua irmã lutava para manter a dupla criminosa em ordem.

A mulher desviava ferozmente de garras pesadas e movimentos bruscos, enquanto direcionava aquela luta para o lado do mar. Ela podia ver a pequena cabeça de Akira fora da água, apenas esperando pelo momento certo. Sua tarefa, no entanto, se mostrava um tanto difícil. Mesmo que o homem carregasse o leão em suas costas, sua força física e peso eram grandes fatores que complicavam a vida da aventureira. Aproveitando, então, do prédio logo na traseira deles, o lagarto misterioso parecia começar a pensar, enquanto Às fazia de tudo para amarrar a sua blusa/rédea e utilizar uma mão só.

Quando terminava de arrumar seu nó, acabava por não perceber o movimento destrutivo que era desferido pela sua montaria. Sem se importar mais com a saúde física do capitão, ele jogava suas costas com tudo na parede de concreto daquele pequeno prédio, enquanto urrava um grito de batalha barbárico. Sua tontura após tanta atividade e esforço físico, porém, acabava por deixá-lo próximo das margens da doca, enquanto Às se recuperava atordoada daquele impacto. O leão, ainda consciente, mas nem um pouco útil, nada fazia naquele momento, estirado próximo do corpo da mulher.

A dupla de aventureiros queriam acabar com aquilo ali, e agora. Apenas uma coisa poderia ser feita, e sem ela, nada disso aconteceria. Pensando então nessa urgência, o tritão agia, e em um ímpeto, ele saía da água para a terra, se colocando imediatamente em ação. Seus punhos fechados carregavam consigo uma aura d'água em forma de bolha que impulsionava ainda mais o golpe do homem contra o tórax desprotegido daquele lagarto exausto. Como um bom médico, escolhia o melhor lugar na região para destroçar internamente, indo direto para o centro da caixa torácica.

O grito de dor ouvido era capaz de acordar toda a população da Cidade Central de Sorbet. Ele imediatamente se colocava de joelhos enquanto lutava para ter uma mínima partícula de oxigênio capaz de satisfazer seu corpo de três longos metros. Vendo a oportunidade, Akira se movia sem hesitar, indo agora para as costas do inimigo em busca de estourar internamente cada um dos vasos sanguíneos presentes naquele ser. A cada golpe um grunhido menor e mais desesperador era ouvido, reduzindo aquele lagarto aos seus estados primais de sobrevivência.

Sabendo que teria chance de lutar apenas se fizesse uma coisa, ele instintivamente desviava seu olhar para a Lua. Ele podia não ter controle das suas ações, mas era sua melhor chance naquele momento. Ele abria sua boca em um urro voraz, capaz de estremecer pernas e arrepiar alguns indivíduos. Seus braços eram abertos aos céus, como se aceitasse aquela benção e maldição em seu corpo, esperançoso para finalmente provar seu valor e derrotar os inimigos.

A luta dos dois aventureiros mudava de alvo, passando a oficialmente ser o lagarto "sequestrador". Uma perseguição ocorria e, eventualmente, a dupla conseguia alcançar o mink que estava levando em bora a presa daqueles caçadores. Mesmo que não precisassem do homem, eles queriam terminar o trabalho e levar Leon para a justiça, junto de seu comparsa. Receber o dinheiro pela recompensa daqueles dois iria ajuda bastante na longa jornada que eles tinham pela frente. Apesar das vontades, as coisas não eram tão fáceis assim. A Lua estava em seu pico, e sendo um mink, o lagarto rapidamente usava de seu artifício, entrando em modo berserker sem hesitar.

Às e Akira sabiam as implicações de lutar contra alguém na sua forma Sulong, mas mesmo assim não se amedrontavam. Os perigos eram reais, mas eles tinham a determinação necessária para massacrar a vontade dos inimigos. Não pensando duas vezes, eles assim o faziam. Combinando um ataque previamente treinado, os dois partiam para cima do pirata que crescia em tamanho e deformava o próprio corpo, perdendo cada vez mais de si mesmo. Seus olhos passavam a uma nova tonalidade, e seus urros se tornavam mais primais, enquanto a transformação acontecia. Apesar de estar naquele estado de empoderamento, sua situação ainda era crítica pelo golpe de Akira.

Suas pequenas pernas cambaleavam, enquanto os braços tentavam manter equilíbrio junto da escamosa cauda. Não perdendo tempo ao ver essa janela de ataque, os dois iam para cima totalmente daquele réptil. Akira e Às cerravam seus punhos fortemente, mesmo que doesse por feridas anteriores. Eles sabiam que deveriam acabar com aquilo usando apenas um único e forte golpe, acabando assim com todas as chances daquele novo transformado. Mesmo que sua força de vontade fosse louvável, o poder daquela dupla estava em outro patamar.

Dando tudo deles mesmos, a grande hora chegava. O lagarto se movia de um lado para outro, mas o golpe encaixava perfeitamente na têmpora do inimigo, que, com essa altura, era um alvo fácil para os dois. O karatê tritão de Akira remexia os líquidos cerebrais do alvo enquanto ele convulsionava e seus músculos entravam em espasmo. De fora, era possível ouvir alguns cracks característicos da quebra de um crânio. Enquanto isso, Às e sua luva metálica aumentavam ainda mais o poder e o impacto, levando aquele fora da lei ao chão sem sequer pensar no que fazer. Ele possuía um traumatismo craniano, e ficaria desacordado por um bom tempo.

Seu sono era pesado, assim como sua respiração ofegante. Leon, assim como ele, estava em um estado não tão bom, mesmo estando vivo. Finalmente aquela luta havia acabado, e os vencedores incontestáveis eram Às e Akira. Devido à força empregada em seu último golpe, o tritão machucava sua mão ainda mais, só sentindo após a adrenalina dissipar e o sangue esfriar. Para eles agora só sobrava uma coisa a fazer: levar o carregamento para a guilda e então dormir e descansar o descanso dos merecedores.


A entrevista para o jornal local com as duas aventureiras finalmente terminava, deixando as duas para um breve descanso antes de toda essa loucura voltar a continuar. Elas tiveram seus minutos de fama pelo local, porém, não era hora de ficarem quietas. Portanto, iam até a Guilda dos aventureiros para coletarem a recompensa pelos vilões e finalmente terem um descanso fora daquele quarto de hospital. Os médicos, segundo Sasha, não foram tão atenciosos com ela, a deixando mais aliviada por estar fora daquele lugar, mas ainda tendo a consciência de que quanto mais tempo repousasse, melhor ficaria.

As duas então ficavam por ali, em uma das mesas que os aventureiros da guilda usavam como ponto de confraternização. A maioria dos olhares era inevitavelmente voltado para as mesmas, tanto pelo fato de serem minks quanto por serem uma espécie de celebridade pelo local. As duas novatas que conseguiram derrotar o grande vilão da ilha com toda certeza chamaria atenção, até mesmo das indesejadas. De qualquer forma, não demorava para que chamassem alguém para pedir o alimento. De imediato um pequeno garçom aparecia, com um pano em seu antebraço e uma caderneta na palma da mão esquerda, escrevendo com a direita.

O pequeno homem anotava o pedido das duas cuidadosamente e retornava para pedir ao chef. Uma boa alimentação, rica em nutrientes e saudável era o mais importante naquele momento para as duas, devido aos seus machucados e recuperação que provavelmente não seria tão breve. Nesse momento, os olhos que já olhavam para a dupla passavam a prestar mais atenção, enquanto uma se aconchegava na outra. Qualquer informação sobre as novas concorrentes ao cargo mais alto da Guilda seria interessante para todos naquele local.

Dispersando o clima que poderia ficar meio tenso, chegava, enfim, o garçom com o alimento em mãos. A comida fumegava e aparentava ter acabado de sair do fogão enquanto posta ali na frente. O suco de uva e vitamina também eram entregues, quase não cabendo na pequena mesa redonda daquela espécie de taverna. De qualquer forma, o tão esperado almoço chegava, e com ele, a abertura para um novo tempo de aventuras.

A batalha feroz e difícil finalmente chegava a um fim. O lagarto, que trazia confusão aos aventureiros por aparentar ser um mink réptil, jazia no chão de madeira rachado e estraçalhado, descansando da trilha de destruição que causara sobre aquele píer. Leon, mesmo que ainda consciente, não possuía forças restantes para batalhar; nem ao menos conseguia levantar sua cabeça e olhar para a Lua, procurando recorrer a sua forma Sulong. Frustração era o único sentimento que se passava por sua cabeça, após tanto treinar, não conseguir usar o seu trunfo. De maneira similar, Akira caía de costas no chão para um breve descanso enquanto engolia a dor em seu pulso, enquanto brincava um pouco com sua irmã, aliviando a tensão do ar.

Mesmo que cansados, não pretendiam perder mais tempo naquele local. A noite corria rápido como água corrente, e ainda deveriam fazer algumas coisas antes de finalmente descansarem nas camas quentes que os esperavam. Ali mesmo, determinavam os próximos passos: Akira iria checar Rango e a nova embarcação que adquiriram como parte do contrato, enquanto Às levaria os dois criminosos até a guilda de aventureiros para serem presos e julgados pelos seus crimes. Além disso, é claro, beberia todas até não aguentar mais; a noite pedia por uma celebração à altura.

O tritão, procurando realizar tudo de maneira rápida e bem direta, ia até a nova embarcação deles pela água. Sua velocidade naquele ambiente era praticamente inigualável, chegando lá antes mesmo que Volkerbäll conseguisse pegar os dois minks, duas vezes maior que ela mesma, nas costas. Diferente do que já esperava, era recebido com um silêncio familiar para uma madrugada como aquela, porém, não em embarcação inimiga. Sua visão então logo captava seu irmão, Rango, com um pedaço de palha na boca enquanto admirava o céu noturno com o barulho das águas batendo no casco do navio. A calmaria era perturbada por Akira, que o cumprimentava com um forte abraço.

— A barra ta limpa, nadadô. — dizia ele após se soltar do agarrão, se encharcando junto do tritão que acabara de sair do mar. O homem prontamente ouvia as novas instruções, enquanto observava seu irmão a olhar o navio, fantasiando com a bela festa que fariam lá um dia. Não demorava muito para que a reunião acabasse e o tritão voltasse para seu rumo principal: a Guilda de Aventureiros. Ele eventualmente encontrava Às pelo caminho, que mal conseguia se locomover com todo aquele peso sobre seu ombro.

Retirando então o lagarto, e aliviando aquele fardo, os dois caminhavam lado a lado para o que prometia ser um belo descanso e recompensa; nada mais justo após uma batalha daquele escalão. A viagem até o local não era longa, porém, os minutos se estendiam pelo fato de estarem carregando seres de quatro metros sem auxílio nenhum. Ao enfim chegarem no tão desejado lugar, colocavam os corpos desacordados por ali, enquanto desabavam cada um em seu lugar de descanso. Akira arfava de maneira pesada, enquanto Às sentava em uma das várias cadeiras vazias pelo local; naquele horário, só estavam eles e os atendentes do estabelecimento.

Mizuki, a empregadora, apenas sorria de maneira requintada, ao ver os dois naquela situação. Sem hesitar muito, entrava na brincadeiras deles enquanto pegava os papéis com o dinheiro da missão. — Infelizmente não temos taxa por periculosidade... mas vocês podem ter comida extra por hoje! — exclamava quietamente a mulher, enquanto acordava a outra atendente da guilda que tirava uma bela soneca ao seu lado. Quase imediatamente, algumas pessoas vinham e traziam dois canecos de cerveja, com uma garrafa e alguns bifes quentes; era o mínimo que podia fazer ao ver o estado dos dois.

Nesse momento, tudo parecia se tornar mais tranquilo. Às degustava o que lhe era servido, enquanto brincava com Akira ao ser tratada pelo mesmo. Os dois irmãos mostravam a intimidade que tal relação proporcionava, acabando em alguns instantes quando o tritão partia para a parte burocrática. — Aqui está: 1 milhão por Leon, seu barco na íntegra, sem a carga e 500 mil pelo lagarto... — ela pausava um pouco ao falar do réptil, parecendo se lembrar de algo, mas escolhia não entrar naquela conversa.

A noite para o tritão acabava por ali. Ele imediatamente começava seu tão ansiado retorno à fazenda, enquanto Às ficava por ali, ainda em seu momento de descanso. Luna parecia não estar presente no local naquele momento, deixando toda a experiência ainda mais solitária. Mizuki trabalhava com papeladas enquanto suas colegas cochilavam em serviço pelo horário avançando. E naquele silêncio, os minutos passavam assim como os copos de cerveja se esvaziavam.


A temporada de descanso da dupla de aventureiras começava. O melhor ponto de partido para as duas era sem dúvida uma bela alimentação, e assim faziam. Na Guilda de Aventureiros, logo após aquele combate que as exauriram e a breve recuperação no hospital, as duas passavam um tempo juntas ao passar do meio-dia. Presentes exóticos e itens novos apareciam ali misteriosamente, mas, complementavam positivamente o tempo de qualidade que as minks compartilhavam.

Sem demorar muito, ambas atacavam o alimento que lhes era oferecido na mesa. O prestígio delas crescia cada vez mais após a grande batalha que tiveram nas cavernas da mina, fato esse que refletia também na qualidade da comida e atendimento, além da forma como as pessoas as tratavam agora. Alguns olhos ainda carregavam o desdém e preconceito para com a raça mink, mas a grande maioria as via como um estandarte; um caminho a se seguir, ou até mesmo um ponto a se alcançar.

De qualquer forma, a degustação daquela refeição cheia de nutrientes era feita de forma a refletir a fome e a necessidade das duas. Pack, há algumas horas sem comer, também entrava para o banquete, se alimentando junto com a dona que dividia o alimento consumido. Sua boca nem abria em resposta para Sasha, sendo utilizada exclusivamente para se alimentar. Ao fim de tudo, se espreguiçava e voltava para os cabelos emaranhandos da gatinha, com a barriga cheia e pronto para uma longa soneca.

Com o fim da comida, era hora agora de voltar para a cada de Vanessa para descansar mais um tanto. O sono nas duas era visível, além é claro do cansaço físico e psicológico que aquela batalha trouxe. A caminhada, como sempre, era breve e monótona, não demorando muito até chegarem na residência da mink generosa. O Sol, em seu pico, queimava levemente a pele de Sasha, além de transmitir um calor extremo para Shiori. Essa sensação se esvaía imediatamente ao entrarem na casa, deixada exatamente como estava ao saírem, ainda sem sinal de Vanessa. Parecendo não se preocupar com isso, ambas rumavam diretamente ao quarto, onde, antes mesmo que se dessem conta, fechavam os olhos e aproveitavam de uma bela soneca vespertina.