[Narrada/Fechada] 1 - Vozes

Mais um dia surgia no grande Reino de Illusia. A neblina das máquinas industriais quase fazia as pessoas esquecerem que estava, de fato, de dia, mas apesar disso elas seguiam seus caminhos fazendo sua rotina diária e fazendo o grande reino prosperar. Ali, no distrito comercial, onde Tsana se encontrava, o local estava ainda mais agitado que o comum: as ruas estavam quase que completamente lotadas, os vendedores estavam falando mais alto do que o padrão gritando para vender sua mercadoria e vencer a concorrência, enquanto os vendedores faziam tantas filas que nem era possível saber se tinha alguém vencendo ou se coletivamente o mercado estava fluindo para todos os lados.

Naquele ambiente a oni chamava bastante atenção, com vários vendedores de todo tipo de coisa tentando chamar a mulher para ser a "moça propaganda" do seu próprio estabelecimento. "Opa moça, você com esse corpo tão grande e forte, não estaria interessada em ser a modelo da nossa loja de armas?!" um deles falava, seguido de alguns outros: "E que tal da nossa loja de roupas?!", Você não se interessaria em estar ajudando a anunciar nosso peixe?!", enfim, eram vários.

Aquele não era dos dias mais comuns de Ana Paula, que estava ali no distrito comercial por pura coincidência, e logo teria que voltar para seu trabalho na mina de carvão. Apesar disso, poderia tirar algum tempo ali para se divertir. O distrito comercial estando tão ativo provavelmente seria fácil de encontrar o que quer que ela buscasse, mas também poderia ir até a área de entretenimento não muito distante com diversas atrações e ela conseguia enxergar até mesmo um parque na distância.

A situação para a gigante era apenas desconfortável, para não dizer angustiante, de ver todos aqueles homens passando por ela e a vendo apenas como um objeto para marketing. Infelizmente era a realidade que alguém com corpo de tamanho tão exótico quanto a jovem tinha que lidar, ainda mais sendo também atraente fisicamente. No fim, a oni resolveu ignorar todas as possíveis atrações do parque e do centro comercial pois tinha um objetivo claro em mente: Encontrar uma picareta.

A tarefa provavelmente se provaria mais difícil para Ana do que ela imaginava, considerando seu tamanho, não havia muita mercadoria disponível. Olhando ao redor enquanto caminhava pelo centro comercial era possível ver diversas lojas de armas, de utensílios, e até mesmo algumas instalações de ferreiros, porém todos eles olhavam para a possível aproximação da mulher de doze metros de altura como um desastre natural e rapidamente fingiam ou estar fechados ou que a moça não existia. Alguns deles até tentavam ser simpáticos, mas não tinha como conseguir um objeto tão específico para aquele tamanho, pelo menos não tão fácil.

Não foi até Tsana se afastar sem perceber do centro em si para que ela pudesse ver um local há distância que chamava atenção: O lugar era uma enorme casa de madeira, porém havia diversas amostras de objetos de metal na frente, um grande símbolo de bigorna no topo da casa e uma fumaça combinada com cheiro de carvão e metal. Não era difícil de identificar só pelo cheiro o que era a instalação. Ao se aproximar da enorme porta, a gigante podia ver diversos homens trabalhando ferozmente como ferreiros naquele local, batendo fortemente no metal para fazer das mais diversas coisas como espadas, escudos e até mesmo o que pareciam partes de ferro de um barco.

O local era como uma grande garagem, cada setor dividido por tipo de produção e os vários trabalhadores fazendo seus trabalhos. Por dentro o lugar quase não tinha luz, era tudo envolvido na fumaça e no vermelho dos objetos, porém era visível o suficiente para Paula enxergar alguém que não se encaixava ao ambiente, uma jovem garota de apenas 1,40m de altura, cabelos de cor laranja forte, pele branca sendo suja pelo carvão e um tipo corporal que parecia frágil. Apesar disso, ela parecia fazer seu trabalho quase tão bem quanto os outros. Em pouco tempo de Ana encarando, a garota percebia a gigante e se aproximava dela com um sorriso gentil.
- Bom dia, tem algo que a gente possa ajudar? — ela dizia, cumprimentando a oni.

Imediatamente após se aproximar da oni e cumprimenta-la, a garota ferreira era recebida com um olhar levemente sedutor por parte da gigante que lançava um beijinho na direção dela logo após a chamar de “gatinha” e “fofura”, ambos os elogios que a jovem não esperava receber, mas também não parecia reclamar de ter recebido os elogios. Ela dava um breve suspiro para recobrar a compostura depois da confusão bem expressa em seu rosto e voltava a falar:

- Uma picareta? Huh, é um pedido bem peculiar. Especialmente de alguém do seu tamanho... – ela voltava a olhar a oni de cima pra baixo, como se estivesse avaliando algo, mas logo retornava a dizer – Bom, não posso dizer que temos algo do seu tamanho, mas não se preocupe, a gente pode dar um jeito de fazer! Você mesma falou que iria pagar bem, então, por que não? O problema vai ser conseguir material suficiente para o seu tamanho, mas por sorte eu tenho uma solução...eu acho! – logo em seguida ela fez um sinal de “já volto” para a oni e foi para dentro do armazém conversar com alguém: um homem de aparência mais velha, porém bastante musculoso, se alguma coisa era provavelmente o dono do lugar pela forma educada que a ruiva conversava com ele.

Tendo demonstrado alguns sinais de felicidade ela retornava para Natasha, agora com um tipo de bilhete em mãos – Aqui, eu sei que deve ser muito pequeno para você, mas acho que vai dar certo. Daqui mais ou menos meia-hora vai chegar um carregamento novo no porto de um rapaz que ajuda a gente aqui, se você levar esse bilhete para ele, ele certamente te deixa pegar um pouco do material. Você parece ser muito forte, então não vai ter problemas em trazer o material eu imagino. – ela entregava o papel para a gigante, mas parecia ficar meio envergonhada quando percebia a situação – Ah, sim, perdão, você é a cliente aqui haha. Não deveria fazer você ter que ir lá resolver tudo. Podemos ir nós duas, ou você tem alguma ideia melhor? Posso ir sozinha também provavelmente. – desde que a resposta a seguir não fosse grosseira, a ruiva abriria um sorriso e aceitaria qualquer alternativa oferecida pela gigante, e finalmente lembraria das etiquetas básicas se apresentando de verdade – Me chamo Lucia. Qual o seu nome?