Operação T.N.C.T.O.N.I.

Corava ao receber o elogio do ferreiro do barco. Ouvia seus conselhos a respeito da profissão e respondia-lhe: — Um dia serei uma ferreira tão capaz que criarei armas tão bonitas e poderosas como as Wazomono. Esse é o meu sonho!


Após isso, dediquei tempo, concentração e energia em meu treino, parando só quando já estivesse completamente esgotada. E, somente então, fui convocada para ouvir mais detalhes sobre a missão. O agente que nos lideraria, Mark, parecia alguém bem excêntrico, mas ao menos nos dava uma relativa liberdade. Ouvia todas as informações que nos eram passadas e, então, levantava a mão. — Agente Chocho Kimiko, senhores. Como já experimentamos antes, confiar nas aparências não é algo 100% aceitável ao lidarmos com a Greta. Apesar de achar que nenhum de nós aqui tem um irmão gêmeo do mal para nos atormentar, ainda assim existem outras maneiras de se passar por alguém. Proponho um sistema de senhas e contrassenhas entre nós. Não precisamos ficar pedindo o tempo todo, mas ao menos quando formos fazer a troca de turnos de vigia. Daria um tempo para absorverem a ideia e, caso concordassem, complementaria: — A minha senha será "a borboleta que acorda cedo recebe o pólen mais doce". Novamente aguardaria alguns segundos para que todos absorvessem e, então, diria minha contrassenha: — "O sangue na asa da borboleta mostra sua última vítima."


Repetiria mais uma vez, caso alguém tivesse dúvida, além de explicar os detalhes de como funciona um sistema de senhas e contrassenhas, se alguém não soubesse. Por fim, viraria-me para os outros agentes e diria: — Já que temos de revezar em turnos, sugiro pegarmos em 4 grupos de três pessoas, assim teremos como descansar uma quantidade razoável de horas e, em caso de ataque, teremos o nosso vigia para observar, uma pessoa para acordar quem estiver dormindo e outra para alertar o resto que estiver acordado. O que acham?


Aguardaria e ouviria as sugestões dos outros. Não me oporia a outro tipo de organização, desde que fizesse sentido e nos proporcionasse algum conforto. Deixaria que escolhessem como montar os grupos, apenas solicitaria que eu estivesse no primeiro turno de folga, pois o cansaço vindo após forjar uma arma e treinar exaustivamente manifestava-se. Quando estivéssemos com tudo definido, entregaria a Aiko as encomendas que a garota me fizera e sairia em direção ao quarto e me deitaria. pronta para dormir e sentindo já saudades do quarto que alugara em Flevance. Ainda assim, aceitava que em missão não podíamos esperar os mesmos luxos. Quieta, aguardaria o sono vir, acordando somente quando me chamassem para a troca de turno.

Consegui fazer todos meus animaizinhos de massinha até que me chamaram para uma reunião. Guardava a massinha dentro de minha mochila e a levava comigo. Acabávamos indo para uma pequena sala cheia de gente, qual seria o problema do governo em fazer salas mais arejadas? Todo lugar acabava em uma sala assim.

Na sala havia um homem que nunca vira e parecia o manda chuva, tanto que o agente dispensava algumas pessoas sem problemas e depois ainda falava que Amanda poderia começar a falar. O primeiro nome do papel que acabava conhecendo... o que era inútil, pois a própria falava para simplesmente ver os rostos do povo que ali estavam, esses eram os confiáveis. Começava a olhar cada um e tentava gravá-los.

No final dos discursos perguntavam se havia alguma dúvida. Onde um homem ali da sala acabava fazendo uma pergunta meio ingênua, o governo ser atacado não era tão estranho assim, revolucionários vivem para isso.

Quando acabaram, ouvia a sugestão da princesa. Não tinha por que ir contra um sistema de senhas, não sei se seria muito útil, mas não havia por que ser contra. Esperaria o povo todo se manifestar quanto a gostar ou não da ideia, mas se fossemos dividir em quatro grupos de três pessoas, comentaria para todos ali. — Se mais de um de vocês tiverem uma boa visão, seria bom colocar um em cada turno — comentaria. — Ou se algum de vocês enxergar bem no escuro... não sabemos quanta luz a lua fornecerá a noite e não acho bom ligarmos luzes no convés do navio a noite — falaria.

Tirando essas observações, não havia muito o que falar, não importava muito o grupo que fosse ficar desde que fosse o melhor para a missão. Quando acabássemos, me aproximaria da princesa e comentaria. — Olá, trouxe as minhas espadas? — com a noite se aproximando já precisava delas para qualquer eventual problema que pudéssemos ter, principalmente se não ficássemos no mesmo grupo.

A agente Waller não era uma pessoa difícil de se encontrar em meio aquela embarcação tão apertada. Logo eu era encaminhada para uma sala apertada com uma quantidade enorme de outros agentes, onde os dois superiores faziam suas apresentações e demonstravam não serem tão amigáveis.

O ato que mais me levantava questões (que eu obviamente não expressaria), era o momento em que o agente Stronoff começava a dispensar muitos dos companheiros que estavam na sala, fazendo com que eu inicialmente ficasse apreensiva com a decisão até perceber que a maioria dos agentes da lista de confiáveis haviam permanecido por ali. O próprio Stronoff, no entanto, não estava na lista.

“Como que o nome do chefe da missão não estava entre os confiáveis? Isso não faz sentido nenhum, ele deveria ter sido o primeiro da lista…” Questionava sem realmente expressar verbalmente essa dúvida. A conversa continuava e os agentes em comando apresentavam mais uma vez a missão e diziam o que deveríamos fazer enquanto estivéssemos na embarcação, que se resumia a ficar de vigia e derrotar quaisquer invasores.

A pergunta feita por um dos agentes me parecia na verdade bem idiota. Se não houvesse pessoas corajosas o suficiente para atacar a embarcação, não precisaríamos estar ali. Aiko e Kimiko, no entanto, pareciam ter contribuições de fato frutíferas para o caminhar da missão.

“Que senha complicada…“ Pensava ao ouvir a senha de Kimiko “Mas deve servir” Ao fim da sugestão de todos, começaria a encarar o grupo esperando que alguém talvez cumprisse um dos requisitos de Aiko. Minha sugestão, apesar de não poder ser dita, era fazer com que ao menos duas pessoas da lista de confiáveis ficassem em cada grupo, para o caso de realmente haver um traidor entre nós.

Para fazer com que minha ideia fosse ouvida sem ter que expressá-la, deveria ser eu a dividir os grupos - Bom, se importam se eu fizer a divisão então? Vamos agilizar isso - Dizia ao grupo - Para a primeira ronda, sugiro que a divisão seja eu, Martha e Scott. Que tal? - Dizia já pensando em como eu faria para lidar com o número ímpar de pessoas confiáveis, decidindo por fim confiar no julgamento de Kimiko que parecia confiar em Mei e estava também na lista de Vincent - Para o segundo grupo, Aiko, Kimiko e Zansa - Dizia passando os olhos por cada um dos integrantes - Eleine, Mei e Edward - Fazia uma pausa muito breve, só agora percebia o quão exóticas eram aquelas duas novatas com asas e chifres - O que me leva ao último grupo, Damon, Catherine e Jon.

Feita a divisão, ficava calada por um tempo esperando aprovação do restante do grupo, mas mostrava bastante segurança em minha expressão. Ao fim de tudo, me voltava para os superiores - Com licença, disseram que faremos a viagem junto com os marinheiros. Eles também farão rondas? O que podemos esperar deles? - Questionava. Por fim, se tudo estivesse decidido partiria para a primeira ronda.

Céus, havia encontrado mais um carrancudo anti social, o tal Mark não se dava o trabalho nem de responder minha pergunta. O caminho até o navio havia sido silencioso - Wúliáo de suspiraria enquanto andava juntamente a eles. No fim, ele juntava todos os agentes escolhidos em uma sala na embarcação, inclusive as outras meninas que estavam na missão anterior. Pelo menos a proporção de carrancudos era equivalente a de beleza dos presentes ali, observar a todos já me deixava um pouco mais feliz.

As explicações eram dadas pela agente Amanda, seria uma logística um tanto complicada, mas necessária para evitarmos transtornos. Mark também teve um momento de fala e assim que ambos terminaram nos fora dado um momento para questionamentos, onde um dos agentes falava algo um tanto idiota. Talvez estivesse sendo paranóica, mas essa situação era até um certo ponto suspeita, afinal estávamos lidando com uma organização perigosa.Colocaria meus olhos por certo tempo nesse agente, mais tarde seria fácil identificá-lo caso ocorresse alguma coisa.

Pouco tempo depois começavam as sugestões a respeito das rondas, Chocho era a primeira a se pronunciar propondo um sistema de senhas e contra senhas - Por mim tudo bem diria enquanto começava a pensar A minha vai ser "O pássaro sobrevoou o ninho" a ideia era realmente não fazer tanto sentido a minha contrassenha será "Brilham os passarinhos de verão" repetiria quantas vezes fosse necessário para que todos decorassem minhas palavras. Elizabeth se adiantava e já selecionava os grupos, ela não revelava o critério por trás das escolhas, talvez estivesse escolhendo aleatoriamente.

Não me importava tanto com o grupo ela havia me colocado até porque não tinha problemas com ninguém até então. A primeiro momento não procuraria por descanso depois que saíssemos da sala, me dirigiria até o convés para olhar o mar por algum tempo. Fazendo isso me recordava dos tempos de adolescência quando ainda estava em Shan, ver as ondas se chocando contra a encosta da ilha imaginando como seria quando saísse dali para viajar. Apesar de tudo, eu sentia falta da minha família e das outras pessoas que havia conhecido ali, mas após ser banida nem mesmo pisar na ilha eu conseguiria.

- Obrigada! - Falei esbanjando simpatia para agradecer aos cavaleiros que nos deixavam livres de continuar carregando aquele peso. Quando ia dar o primeiro passo após isso, uma voz me chamava atenção. Me virei já levando a mão direita até a testa para a continência mesmo sem saber ao certo quem era aquele. Bom, como me era ordenado, apenas segui o Agente Mark, dando uma breve olhada para a outra garota que estava com ele.

Enquanto alguns eram indicados para sair não podia negar que meu coração acelerava um pouco, tentava manter um olhar de seriedade e comprometimento, não queria ser rejeitada, mesmo que tivesse pouco elo com minha mais nova colega, também desejava que ela fosse junto a mim e me sentia aliviada quando o comando para sair finalizava. Agora podia finalmente me sentir mais confortável ali, mas segurava o suspiro de alivio.

Meus olhos passavam por todos ali, ainda de pé, tentava decorar os rostos de meus colegas, mesmo sabendo que não conseguiria decorar seus nomes, enquanto continuava observando os outros quase não consegui perceber quando a Agente falava comigo.

- Zansa Minos! - Sem saber ao certo como devia agir com isso, outra vez bati continência.

Alguma coisa nas palavras do Agente Mark chamavam atenção, sua forma de dizer, o jeito como mudava sua postura, meus olhos quase brilhavam, em suas palavras dava para ver que ele tinha escolhido a mim e Eleine por razões que eu só poderia especular, mas devia ter algum motivo especial... Talvez por claramente sermos diferentes dos outros? Uma pessoa que não enxerga nossas diferenças como algo ruim, mas sim vantajoso? Hm... Talvez pudesse descobrir depois, certamente era uma pessoa qual eu gostaria de conversar mais sobre.

Outra vez olhei ao redor buscando alguém que tivesse alguma dúvida, e quando a única era sanada, percebia que alguém já começava a tomar as redeas de liderança da missão. Quando todas terminavam de falar, levantei minha mão aproximando-me do grupo.

- Com licença... Mas se cada um tiver uma senha... Vamos mesmo conseguir lembrar? Somos muitos... Talvez seja melhor uma senha só. E... outra coisa, falaram algo sobre irmão gemêo que eu não entendi, já tiveram um encontro com essa tal Greta? Podem contar o que aconteceu? Acho que pod ser útil. -

Já tinha informado meu nome anteriormente, então acreditava que todos ali ainda lembrassem, logo depois de falar me aproximava de Aiko, visto que faria parte de sua quipe e a garota parecia ter uma personalidade forte de liderança.

-Ah, e eu não visão noturna, acho que enxxergo tanto quanto vocês.

Graças a ajuda de Zanza, carregar as caixas era mais fácil do que pensava, chegamos sem qualquer tipo de problema ao porto e entregamos a caixa a outras pessoas. Estava pronta para buscar algo a fazer quando fui chamada, girou nos calcanhares me pondo frente-a-frente com o homem uniformizado, batia continência de forma ereta e responsável. O homem chamava a mim e a Zanza antes que pudéssemos responder e nos guiava para dentro de uma sala lotada.

Haviam muitos agentes naquele lugar, a grande maioria sendo expulsa pelo homem que havia nos levado a sala. O agente Sênior Mark Stronoff. Sua secretária começava a explicar os pontos daquela missão, fazendo com que aquela viagem finalmente me brilhasse os olhos. Sim, teria de passar mais dias enfurnada dentro de um navio, mas havia certa animação em sentir que poderia ser atacada por uma organização criminosa. Finalmente aquela viagem se pagaria.

- Recruta Eleine Worzel, se apresentando ao serviço - . Me apresentaria quando fosse chamada pela secretária, logo após Zanza, com uma nova continência.

Havia sido escolhida junto com Zanza, mesmo sendo uma novata. Talvez o capitão soubesse um pouco de minha história do passado, ou talvez tivesse dado sorte de estar no lugar certo e na hora certa. De toda forma, agora estava na sala de reunião, encarando com seriedade todos os outros participantes, registrando cada detalhe dos participantes daquela missão.

Rapidamente os outros agentes começaram a disparar sugestões sem fim sobre o que deveríamos fazer ou como faríamos. Algumas sugestões eram válidas e eu concordava com as separações dos times, outras nem tanto. Não gostava da ideia de múltiplas senhas, era simplesmente complexo demais para uma tarefa como aquelas.

- Concordo com Zanza. Senhas individuais vão tornar esse processo muito mais complexo do que o necessário, além do que, as senhas deveriam ser simples para que todos nessa sala tenham facilidade em se lembrar. As frases que vocês duas escolheram falham em cumprir esse requisito, acredito que devam refazer essas escolhas.

Concluía meu pensamento, aguardando que o restante da mesa falasse o que estava pensando.

A reunião era pura confusão, cada um dava sua opinião, algumas senhas eram ditas, outros achavam as senhas inúteis, bem, também achava... e, infelizmente, não era só a reunião que era uma confusão. Vincent havia nos falado sobre marinheiros, mas agora não havia marinheiros mais. Lembrava das falas do meu superior com facilidade, a lista menor de nomes, e no tanto que nada fazia sentido no momento, não só a lista era ignorada, como informações já não batiam mais. O agente Mark era sequer confiável? Ele não estava na lista de Vincent, mas a pessoa que estava confiava nele...

Pensava nisso enquanto encarava as duas katanas novas que a princesa havia pegado para mim e que todo mundo ia saindo para fazer seus próprios afazeres, deixando assim minha pessoa sozinha com o superior e as duas novatas. — Senhor, posso fazer algumas perguntas? — indagaria enquanto ajustava as katanas em minha cintura com a outra, deixando-me com três, acabaria sorrindo, estava longe de ter a destreza para utilizar duas espadas ao mesmo tempo, imagine três. — Às vezes se distrair respondendo minhas perguntas bobas te ajudarão a relaxar e pensar melhor no que te atormenta — comentaria, o que era provavelmente verdade, quando você se foca demais em um problema pode acabar ignorando uma solução óbvia que está na sua frente.

Se Mark aceitasse, faria a primeira pergunta. — Eu tinha uma ideia quanto ao funcionamento das CPs por causa do meu trabalho de escritório — começaria a falar para demonstrar que realmente não entendia o que estava acontecendo neste navio em específico e nesta missão. — Por que um agente de uma CP da Grand Line está aqui nos Blues? — perguntaria lembrando que apesar de nem Mark e nem Amanda terem citado, Vincent havia comentado sobre o CP dele ser a 5. — Principalmente um agente de alta patente como o senhor — comentaria lembrando que ele era agente sênior ainda.

A diferença entre nossas patentes era abismal e isso me preocupava. Queria subir de patente justamente para ter a liberdade, bom, talvez liberdade não seja a palavra, mas para perseguir o objetivo de prender minha mãe, mas ali estava um homem entre os cargos mais altos de uma CP que trabalhava na Grand Line, mesmo assim ele estava cuidando de um caso em que meras novatas eram chamadas nos Blues, longe de ter a liberdade ou o objetivo grandioso que queria.

Caso uma possível resposta citasse que a Greta era importante ou qualquer coisa do tipo, passaria para a segunda pergunta. — Você poderia falar da Greta então senhor? A Zansa aqui havia comentado que não sabia sobre a organização, então seria bom para a minha colega saber contra quem vamos lutar — falaria enquanto racionaria na resposta e comentaria sem pensar muito. — Mas como vocês sabiam da Greta? Ontem quando fomos investigar... não era nem mesmo a Greta o objetivo, ela acabou caindo no nosso colo — isso claro, se a resposta houvesse citado a Greta como motivo para ele estar ali, o ambiente ficava ainda mais confuso.

Caso infelizmente o superior não aceitasse se distrair desta forma, acabaria aceitando que não havia muito o que fazer. Triste com a situação, comentaria para as duas enquanto Mark estava discutindo com ele mesmo. — Eu também não sei muito, só o que li por mim mesma dos arquivos mais cedo... já que ninguém parecia me contar quem eles eram... — falaria meio tristonha, assim, faria o que não fizeram por mim e contaria o que havia lido nos arquivos e que explicasse para elas a situação.

Se por um lado meu sistema de divisão em grupos de três pessoas havia sido aceito, a ideia das senhas e contrassenhas era ignorada pela maioria. Talvez eles subestimassem os revolucionários, talvez só não compreendessem a importância de um sistema de inteligência. Mas me espantava como agentes podiam ser tão relapsos. Lidar com informações era o propósito nosso. Entretanto, morrendo de sono, somente dava de ombros, optando por ignorar a ignorância. Guardava, entretanto, os rostos dos agentes e as senhas daqueles que resolveram adotar o mesmo sistema.


Tão logo Elizabeth dividia os grupos, saía da sala, meio capengando e ia para o quarto. Se eu entraria no segundo grupo, não teria muito tempo para dormir, então precisava de aproveitar ao máximo cada segundo. Se me perguntassem agora, não saberia dizer se caí na cama e adormeci imediatamente ou se caí na cama porque já havia adormecido.





Meus olhos abriam-se assustados. Tentava focar minha visão e enxergar no breu de meu quarto. Havia tido um pesadelo? Não... não achava que era o caso. Mas então por que havia acordado ansiosa? Sem entender o que se passava, tentava relaxar e voltar para meu sono, mas começava a ouvir sons distantes... O eco de metais se encontrando, burburinhos como se vozes chegassem de muito longe a meu encontro. Sentava-me, fechando novamente os olhos e fazendo conchas com as mãos em torno dos ouvidos. Aos poucos ficava mais fácil distinguir o que ouvia, mas ainda não compreendia bem.  "Aonde já ouvi esse padrão?"


Pensava, tentando me situar. E, de repente, os sons tornavam-se reconhecíveis. Embora descoordenados, o pátio de treinamento militar da guarda era sempre repleto com os mesmos barulhos. "Estamos sob ataque!?" Imediatamente punha-me de pé e começava a me vestir. Fazia tempo que não recebíamos invasores, mas éramos treinados para reagir em situações assim, buscando a nossa preservação. Assim, estranhava que meus guardas reais não haviam vindo me notificar. Isso por si me deixava mais preocupada do que os distantes sons, embora se aproximassem a cada minuto.


Trajada devidamente, resolvia abrir a porta de meu quarto para perguntar o que estava acontecendo. Ao tentar fazê-lo, sentia uma resistência enquanto empurrava-a, necessitando de força para conseguir sair. E, assim, encontrava o corpo de Kojuro. — AHHHHHHHHHHHH!!!!!! Gritava, surpresa, ao ver o cadáver do chefe de minha guarda pessoal. Imediatamente agachava-me a seu lado para tentar achar sinais vitais, mas a poça de sangue e o corte em sua garganta confirmavam que já não havia vida em seu corpo.


Apesar do assassinato, o restante do corredor não mostrava sinal algum de luta ou de que havia algo errado. Minha vontade era de correr pelo palácio, procurar por alguém, tentar entender de onde vinha o perigo. Arfando, levantava-me, pronta para correr pelo corredor, quando meus olhos enxergavam algo escrito com sangue em minha porta.

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Citação :

N.a.²: Caso ninguém acorde a Kimiko, o sonho continua no próximo post. Caso acordem, retomamos em outro momento.

Aquelas senhas complicadas não eram nem de longe a parte mais confusa daquela missão. A cada segundo que passava, as informações que recebíamos pareciam entrar em conflito umas com as outras e nada parecia ter sentido, fazendo com que eu começasse a me questionar sobre o que estava acontecendo ali.

“O Governo Mundial não deveria ser mais organizado?” Questionava em meus pensamentos. Toda aquela história estava mais do que mal contada e aquilo me preocupava. Primeiro, mandar embora agentes do governo de um navio cheio de novatos que possivelmente seria atacado não me parecia a melhor ideia que um superior poderia ter. Além disso, como assim não haviam marinheiros? Além das pessoas confiáveis ou não, eles estavam dizendo que Vincent havia passado a informação errada?

Suspirava meio perdida com tudo aquilo ao ponto que até mesmo esquecia de formular minha senha, algo que não acabava não me importando muito ao perceber que quase ninguém o havia feito. Saía da sala, ficando pensativa ao lado daquelas duas pessoas e, a bem da verdade, meio paranóica com toda aquela confusão.

Waller estava na lista de confiáveis, mas ela mesma havia trazido aquele homem que nunca havíamos ouvido falar e o deixava comandar a missão e dispensar vários de nossos companheiros. Além disso, também havia sido ela a negar a informação de Vincent que até agora era um dos únicos confiáveis por ter sido ele a, no dia anterior, nos colocar na missão que acarretou em toda essa operação.

“Se essa merda toda for por causa de algum plano dos superiores de não nos contar nada direito eu juro, eu…” Começava a ficar furiosa, mas logo percebia o que estava acontecendo e respirava fundo, seguindo meus dois companheiros de vigília. Não conseguia tirar da cabeça que alguma coisa já estava acontecendo naquele navio, então o que me restava era pensar a fundo no que fazer.

“Vamos lá Liz, quem você SABE que é confiável aqui?” Pensava um pouco paranóica enquanto disfarçava este sentimento para falar com meus companheiros - Pois bem, como vamos dividir isso? - Perguntava de forma séria, enquanto continuava pensando “Aiko, Kimiko e Mei estavam naquela missão ontem, então acredito que teriam todas as chances para se livrar dos documentos incriminatórios ou mesmo ajudar os inimigos a matar todas nós. Não devem ser inimigas do governo...” Pensava decidindo as três primeiras pessoas confiáveis.

- Scott, que tal você ficar em cima do mastro? Enquanto nós duas fazemos as rondas aqui embaixo em direções opostas? - Questionava “Sim, Scott deve ser confiável. Ele estava na lista de Vincent e além disso concordou com o sistema de senhas de Kimiko, então ele parece se importar com o sucesso da missão… Não que isso queira dizer muita coisa, eu mesma não falei nada, mas tenho que começar de algum lugar. Claro que isso torna Jon confiável também.” Concluía o raciocínio enquanto esperava a resposta de Scott. Colocá-lo no mastro era uma estratégia para não deixar a não confiável Martha “esquecer” de nos alertar de um possível perigo.

Ali embaixo, tinha algumas ideias. Faria minha ronda passar convenientemente por perto das portas e janelas da sala de Mark. Esperava talvez ouvi-lo falando algo com Waller ou algum outro agente que houvesse ficado na sala, algo que me fizesse entender melhor o que estava acontecendo ali. É claro que eu usaria minhas habilidades de furtividade para me esgueirar e não ser vista durante este processo. Além disso, se possível passaria próxima do local onde deveriam estar guardados os documentos e os prisioneiros que haviam sido comentados antes (coisa que também não me lembrava de ter ouvido de Vincent), para averiguar como estava a situação por ali.

Por fim, manteria meus olhos atentos a Aiko durante a ronda. Ela era uma das confiáveis ali e, por mais que não tivesse tido uma boa impressão dela durante o dia anterior, estava mais interessada em sobreviver a essa missão sem sentido. Diferente de Mei que também poderia estar acordada por ali, Aiko estava na sala de Vincent e entenderia do que eu estava falando.

- Ei, Aiko! - Diria caso a encontrasse mais isolada, tentando não chamar a atenção de outros que não fossem ela. Tentaria me comportar como se estivesse fazendo algumas perguntas bem “oficiais” para a garota, para não alertar ninguém que pudesse estar espiando. Chamaria da mesma forma caso ela estivesse acompanhada de Kimiko, Mei ou Jon, que poderiam vir junto.

- Você se lembra que o Vincent falou sobre marinheiros, né? E além disso, não é estranho o nome de Mark, que é o responsável pela missão, não estar na lista de confiáveis? Você viu a força daqueles caras ontem, somos um bando de novatos. Dispensar tantos da missão quanto ele dispensou me parece bem esquisito - A bem da verdade, não me sentia segura nem enquanto falava para Aiko tudo o que eu pensava. Não era do meu feitio confiar em agentes do governo e aquela situação não ajudava, mas eu precisava fazer algo e não poderia fazer sozinha, sabia bem disso. Caso alguém parecesse suspeitar demais da conversa, apenas diria - Depois conversamos - E seguiria com a ronda.

Ficava em silêncio observando as conversas paralelas que aconteciam ali, por alguns segundos eu perguntava a mim mesma se discordar sobre as senhas tinha sido uma boa ideia, quer dizer... Tinha causado uma má impressão com isso? ... Era possível, mas não tinha a mínima condição de eu conseguir decorar frases aleatórias de umas dez pessoas, elas conseguiam? Ao menos Eleine tinha concordado comigo nessa.

Fiquei ali observando sair um por um daquela sala, colaria em Aiko, já que ela parecia conhecer as outras e assim eu podia talvez me integrar nesse grupo de agentes que tomaria parte dessa missão. Portanto para dissipar um pouco o sentimento de estar perdida, ficaria perto da colega para conseguir uma espécie de "guia" do que exatamente deveria fazer nessa missão, afinal de contas era a minha primeira vez.

Logo via a forma dela conversar com o Agente Mark e me parecia que tinham alguma intimidade e quando meu nome era mencionado apenas acenava com a cabeça confirmando a minha dúvida. De qualquer forma sentia que essa missão poderia se tornar algo interessante.

Sem que uma decisão fosse tomada, uma boa parte dos agentes decidia deixar a sala de reuniões. No final das contas, as senhas haviam sido ineficientes como metodologia de validação de nossas identidades. Na verdade, com exceção a nossa aparência física, não havia forma alguma de identificarmos quais de nós realmente éramos agentes e quais eram infiltrados, o plano havia sido um absoluto fracasso!

Suspirava em meio a sala com um punhado de agentes e buscava algo para fazer dali em diante. Ao menos tinha um turno a seguir, não que conhecesse quem seriam os membros que dividiriam o turno comigo, mas ao menos sabia que seria responsável pelo terceiro turno, teria tempo de pensar em algo a fazer até lá. Por hora, decidia ficar na sala e acompanhar o questionamento de Aiko ao nosso superior.

A garota parecia ser uma das mais integradas a situação dos agentes do governo, além de disposta a responder parte das dúvidas de Zanza, ao menos, a parte em que ela saberia ajudar. Ficaria pronta para também aproveitar-me do que seria dito, afinal sabia tão pouco sobre aquela organização quanto minha companheira recruta, não havia entendido a necessidade da sugestão de senhas seguras, ou qualquer outra coisa do gênero para nos comunicarmos. Quem sabe aquela conversa me trouxesse um pouco de luz.

- Senhor, também estou curiosa para entender um pouco mais sobre a organização. Porque Complementaria os questionamentos de Aiko, inserindo eu mesma parte de minhas dúvidas em meio a conversa. Estava, acima de tudo, curiosa em relação ao modus operante daquela tão temida organização, ou saber o que tinha feito com que todos aqueles agentes tivessem tanto receio acumulado.

Ainda observando a grande imensidão do oceano naquela noite podia sentir a liberdade que ele exalava. Finalmente poderia desfrutar isso, até conhecer Annerose só havia conhecido o caminho dos Huang ensinado por meu pai, que sempre fora muito rígido e procurava um herdeiro que fosse igual a si. Meu irmão passava longe de ser assim, ele era relaxado e a definição da preguiça em pessoa, mas eu já não podia dizer a mesma coisa. Talvez ter sido deixada de lado inicialmente fez surgir uma necessidade de provar que também era capaz, pensamentos de uma criança que buscava mais atenção dos pais.

Nessa época nunca imaginaria que seria uma pessoa diferente, novos desejos, pensamentos e sonhos percorriam minha mente agora. Mesmo sentindo saudade da ilha nesses momentos de solidão, posso dizer que não me arrependo de nada, a tatuagem que carrego em minhas costas significa que meu passado estava para trás, mas que sempre estaria trazendo comigo. Depois de algum tempo soltaria um suspiro, momentos reflexivos são sempre importantes, porém estava na hora de espantar toda a melancolia que tinha acumulado enquanto olhava para a água. Acompanharia também por um instante a movimentação do convés, talvez pudesse ver algo que ninguém ainda tinha visto - Tá na hora de entrar voltaria para a sala anterior onde estavam as pessoas que não eram do grupo atual da ronda.

Não havia muitas coisas para se fazer ali que não envolvesse algum serviço, restava tentar conversas com os outros tripulantes da embarcação. Já conhecia Elizabeth, Aiko e Chocho, mas seria bom conhecê-las um pouco assim como as pessoas que ainda não havia tido tanto contato. Se por acaso ouvisse algo sobre a Greta novamente seria a oportunidade para me aproximar de quem estivesse por ali - Posso contar o eu ouvi do velho da padaria que capturamos? diria inicialmente. Após isso procuraria algum lugar para me sentar - Eles são um grupo cruel responsáveis por diversas mortes inocentes e também destruíram outras organizações para formar um monopólio, além de ter membros em várias partes do submundo ao menos nesse momento agiria com seriedade - Segundo ele, é como se os membros estivessem dentro de uma seita estando dispostos a matar e morrer por Calros seguiria - Indivíduos assim são bem perigosos e tem tendência a deixar um rastro de destruição, não à toa acabaram com a padaria finalizaria.

Esperaria por uns instantes antes de voltar a falar queria um momento mais tranquilo para iniciar algum assunto descontraído - Mas então, podemos deixar isso de para fazer algo divertido? voltaria a colocar o sorriso em meus lábios - Que tal um jogo? questionaria esperando uma resposta positiva - Estava pensando em verdade ou consequência, talvez assim possamos nos conhecer melhor diria praticamente em seguida. Caso ninguém manifestasse algum interesse, me levantaria de onde estava sentada - Credo, vocês são tão chatos soltaria um suspiro demonstrando certo desânimo com a situação. Após isso procuraria pelo dormitório para descansar até que fosse a vez do meu grupo na ronda - Parece que é proibido ser feliz aqui falaria sozinha.

"Fuja!". Ao ver a mensagem, escrita com sangue, percebi que Kojuro usara suas últimas forças para escrever aquilo para mim. Mas por que não haviam invadido meu quarto quando o assassinaram? Ainda não conseguia compreender isso. Mas entendia muito bem que ir pelo corredor não era uma opção naquele momento. Retornando a meu quarto, arrastava-me para debaixo de minha cama, tateando pelo local na parede onde o fundo era falso. Uma estreita passagem se fazia presente após a retirada do bloco. Entrava primeiro pelos pés, arrastando o resto de meu corpo em sequência e, por fim, puxava novamente a parede falsa para cobrir a entrada, para que nunca desconfiassem que eu entrara ali.


Aos poucos o plano reclinava-se para baixo, facilitando com que eu chegasse ao subsolo e impedindo o retorno por onde viera. Aquele quartinho do pânico era projetado especialmente para que a família real se escondesse em caso de necessidade. O segredo era passado somente pela família real e o chefe da guarda, o que tornava-o altamente seguro. Assim que chegava, tateava no escuro até localizar o local da tocha na parede. Usando minha espada para fazer faísca, acendia-a e confirmava que estava sozinha. O bunker, metálico, parecia tão frio quanto mergulhar na cachoeira durante nosso inverno. A solidão tão densa quanto o sangue de Kojuro que impregnava minhas mãos. Até então tivera forças para seguir nosso protocolo, chegava à proteção e agora abria a passagem para o túnel mais abaixo, permitindo que ar chegasse e não corresse o risco do oxigênio ser consumido pelas chamas. Mas agora, com tudo isso feito, só conseguia me escorar na parede e chorar, enquanto tremia.


Ali, alguns metros abaixo da terra, isolada do resto do mundo, tudo que podia ouvir era meu próprio soluço, enquanto aguardava. Comida não faltaria, ao menos por uns dias, pois anualmente reabastecíamos o local com rações humanas que aguentariam períodos prolongados sem estragar. Água também havia em quantidade suficiente. Tínhamos até mesmo alcatrão, para renovar as tochas, e alguns livros, para passar o tempo. Tudo ali fora projetado para permitir a sobrevivência da família durante crises. Mas, até então, nunca havia precisado estar ali. Duvidava sequer que meus pais precisaram. Pais... Onde eles estavam? Por que ainda não haviam vindo para cá? A intensidade do fogo diminuía e era meu único parâmetro para calcular quanto tempo havia se passado. A escuridão me envolvia mas, a essa altura, já não sabia se vinha de fora, pelo fogo se apagando, ou de dentro, por estar morrendo minha esperança de que alguém vinha me buscar.

Citação :

N.a.: Caso ninguém acorde a Kimiko, o sonho continua no próximo post. Caso acordem, retomamos em outro momento.