O macaco tinha feito experimentos em mim, sinceramente, aquilo não me causava surpresa alguma. Sim, por um momento pensei que ele estava me respeitando completamente, porém, pelo jeito ainda tenho um grande caminho à trilhar. De qualquer forma, pelo menos o que quer que ele tenha feito havia dado certo, não precisava mata-lo ali mesmo, se bem que, será que eu consigo? Não, a oportunidade para me testar irá vir outra hora.

A festa estava boa, encher o estômago com comida e bebida me parecia um bom jeito de afastar as mágoas ou então afoga-las, era o que estava precisando — A criatura aqui dentro. — Apontava com o indicado para lateral da cabeça, batendo com ele duas vezes no couro cabeludo — Falou esse nome, algo que nunca tinha dito antes. — Completava enquanto dava uma boa golada na bebida — Essa serpente se encaixa como algo bom ou ruim? — Questionava para buscar entender um pouco mais o que aquilo significava — Paciência, entendi. — Mesmo com a fala da Besta, as palavras de Deep deixavam algumas coisas claras em minha mente — Obrigado, capitão. — Finalizava olhando pro nada, unicamente focado em minha própria mente e nas palavras que a figura demoníaca havia me dito anteriormente — Não serei uma vítima novamente. — Externava aquela frase com convicção.

Tudo parecia se encaixar aos poucos, o caminho que devia seguir se tornava mais palpável em minha mente — “Não posso perder o foco outra vez, muito menos me deixar levar pelo momento.” — Algumas coisas começavam a se ajustar — “Sem piedade, com inteligência e paciência.” — Era dotado por tais qualidade, só precisava fazer um uso melhor dos recursos ao meu dispor — “A Besta precisa dominar em momentos pontuais e assim será.” — Não deixa-lo sair custou meu braço, mas aquilo também acendia um alerta que precisava treinar, me fortalecer para não depender unicamente dos instintos da criatura em minha interior.

— “Duas vezes mais.” — Agora sem um braço eu precisava ser duas vezes mais esforçado, agir com inteligência e conseguir ainda mais recursos para aumentar minha força. Como? Ainda não fazia ideia, porém, agora que sabia das minhas fraquezas tudo parecia ficar mais nítido, não era hora de continuar se lamentando, mas sim curar os ferimentos, agir com astúcia e destruir cada pedacinho de Draham — “Aguarde por mim...” — Olhava para savana com certa selvageria, a Lua brilhava com certa intensidade, enquanto a festa continuava. Aquele era o fim? Não! Aquele era o começo de uma nova história — “Nidhogg, este fui eu em alguma era.” — A criatura falava em minha mente com sua voz rouca — “O Percutor da Malícia.” — Pela primeira vez ele estava falando sobre si, o que me era estranho e ao mesmo tempo despertava o meu interesse — “No mundo congelado encontrei o calor daquelas chamas... é com ela que iremos queimar todo o mundo.” — Chamas? Espere, ele está falando sobre aquela antiga “lenda” entre os celestiais? — “Esse é o nosso objetivo?” — Questionava a Besta agora nomeada — “Sim...” — De fato, parece que realmente as coisas estavam se encaixando agora — “Onde? Onde encontraremos essas chamas?” — Era aqui em Hasagt? Talvez em algum lugar específico?

Por um momento o silêncio voltou a imperar em minha mente, a criatura se recolheu novamente em seu silêncio, até que sua voz agoniante ecoou novamente — “Com sangue e ira de um vermelho ardente... arrancado à força de um cadáver ainda quente... somado ao nosso ódio que arde infernal... queimaremos a todos... esse é o destino final!” — Aquele velho cântico novamente? Espere, isso faz sentido! — “Entendi.” — Respondi de maneira sucinta, agora tudo estava claro em minha mente.

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As coisas se encaminharam com tranquilidade, aquele festejo era algo interessante para acalmar os ânimos e resetar todo o acumulo de cansaço físico e mental — “Então Nidhogg, o que exatamente é você?” — Questionava mentalmente na esperança de ser respondido, mesmo que soubesse que isso provavelmente não iria ocorrer — “Nada mesmo?” — Tentava mais uma vez ainda segurando-me na última fagulha de esperança — “Entendi, irei descobrir sozinho.” — Finalizava com um tom ligeiramente ríspido, mas não era como se pudéssemos brigar fisicamente.

Passei o tempo por ali, observando a lua e o ambiente como um todo — “Agora já sei o caminho, pelo menos, parte dele.” — Pensava olhando para o vazio do lado esquerdo, o que faria para suprimir a falta de um dos braços? Lutar no mano a mano talvez fosse uma desvantagem naquela situação, afinal, ficaria exposto do lado deficiente, o que daria uma grande gama de brechas para meus inimigos — “Preciso empunhar uma arma, agora, qual?” — Questionava qual seria a escolha, pensando nas opções com cuidado, imaginando algumas cenas que podiam ser feitas em meio ao combate — “Uma lâmina curta seria interessante, aproveitar da velocidade para me mover... mas ainda sim ficaria exposto.” — Complicado, muito complicado — “Uma lâmina maior... uma espada?” Me parecia mais interessante, podendo abusar da variação de tamanhos, tinha um número considerável de opções.

Gradativamente o tempo foi passando durante aquele período de reflexo e logo vi o dia raiando em toda sua magnitude, o tom laranja no céu chamada a atenção, assim como os tons azuis e cor de rosa — “Quem aqui pode me ensinar?” — Observava meus aliados com ressaca, tentando identificar a existência de um espadachim entre eles, claro, não iria aprender naquele estado, mas brevemente estaria apto para realizar o treinamento, algo que facilitaria minha vida. Por fim, me mantinha observando a situação como um todo, atento aos arredores e também as figuras criminosas que estavam por ali, também, buscando identificar a quantidade de tripulantes no bando dos Infernais.

Histórico:

Vinte e cinco? É um número interessante, mas se quisermos dominar toda à ilha precisaremos de mais — “Ou simplesmente destruímos tudo.” — Essa opção começou a me parecer mais viável ao passar dos dias naquela ilha. De qualquer forma, os tripulantes acordavam com ressaca e tudo mais, enquanto pude me manter silencioso como um verdadeiro observador, buscando pro uma pessoa que pudesse me ensinar a arte da espada — Encontrei. — Deixei escapar ao ver o rapaz com aquela arma presa em seu cinto — “Será que consigo aprender nessas condições?” — Ponderava as opções, talvez fosse melhor esperar? — “Não, preciso me fortalecer o quanto antes, sem desculpas!” — Balançava a cabeça como se mandasse para longe aquele pensamento antigo, não cabia ao “novo” Deucalion.

Levantava com cuidado, usando o braço direito como apoio para ficar de pé, afinal, não tinha mais o outro. A dor ainda dava suas caras em meu corpo, sinal que realmente não podia exagerar naquele possível treinamento, isso é, se aquele “velhote” fosse me ensinar. Meus pés não demoravam a me levar até ele — E ai. — Falava em um tom mais sério — Preciso aprender a manusear uma espada e você vai me ensinar. — Não daria chances para uma negativa, afinal, eu sou o segundo no comando — Estou pronto, pode começar. — Falava mantendo-me inerte por enquanto, observando suas ações.

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— “Kurt... certo.” — O nome do meu futuro professor ecoou pela minha mente por alguns instantes, lembrando-me que não sabia o nome de cada um dos membros dos Infernais — “Não acho que ninguém seja louco de tentar se infiltrar, contudo, acaba sendo interessante ter esse controle.” — Concluía o pensamento lógico com velocidade. Saber a faceta e o nome de cada um deles me ajudaria no futuro, seja auxiliando em algo importante ou evitando uma possível emboscada, era algo a se pensar daqui em diante.

De qualquer forma, não demorei a receber informações sobre o depósito de um dos navios, onde fui em passos lentos no encontro da espada que serviria como meu guia naquele aprendizado. Sendo bem sincero não tenho um olhar clínico para saber quais espadas são melhores ou piores, no entanto, naquele momento meu foco era buscar por algo leve e simples, já que não queria exigir muito do meu corpo. Então, em meio as opções busquei por duas espadas bem semelhantes, que carregavam os princípios citados anteriormente. Ao encontrar daria uma olhava para encontrar algum trinco ou sinal que elas iriam se quebrar, segurando-as na única mão disponível até então, voltando com maior celeridade até Kurt.


— Estão boas? — Questionei ao homem ficando ambas as espadas no chão — Sim, essa aqui está um pouco desgastada, então, recomendo usar a outra. — O homem falava colocando-se de pé e indicando a espada mais útil para tal aprendizado — Você sabe algo sobre a arte da espada? — Continuou enquanto ajeitava sua postura e sacava sua lâmina que cintilava com o brilho do astro rei — Não, nunca tive experiência com nenhuma arma. — Falava de maneira sucinta — Até então nunca havia visto à necessidade, porém, agora é diferente. — Falava olhando para o lado esquerdo do corpo de “canto de olho” — Entendo. — Respondeu o rapaz.

Kurt então começou a falar um pouco sobre a teoria do manejo daquele tipo de lâmina, destacando os pontos positivos e também os negativos de utilizar uma arma como aquela. E bem, não demorou para que começássemos a treinar de fato. Manejar a espada causada incômodo em meu corpo ferido, mas não colocava muita força no manejo, realizando movimentos com o braço “bom” da melhor maneira possível, repetindo com toda paciência do mundo. Os erros estavam aparentes, mas Kurt fazia seu papel como processor para me direcionar ao caminho correto — A espada precisa ser um com você, uma extensão do seu corpo. Isso é complicado, porém, é necessário seu empenho, Senhor. — E também era respeitoso.

Explicações como postura e base maleável eram dadas, o que me mostrava todo potencial perdido com a perda do braço — “O tempo de lamentar já acabou, Doss.” — Reforçava em minha mente, parecia que minha alma estava relutante à deixar tudo aquilo para trás — “Não posso fraquejar!” — A firmeza voltava para minha mão que se movia no ar empunhando aquela espada. Aos poucos passava a ver as semelhanças com o Kami no Tekken, manter a base firme, mover o corpo com atenção, a real diferença estava em meu alcance, que era maior. Em determinados momentos perdia o equilíbrio, muito pela falta do membro superior esquerdo, mas também por conta das dores que se espalhavam como fisgadas em certos instantes.

Me mantive na posição de aluno pelo tempo necessário, sem ter o mínimo de pressa para finalizar tal treinamento. Repetia os movimentos básicos até sentir firmeza nos mesmos, passando para ações que requeriam um pouco mais de empenho, porém, sempre tomando cuidado com o corpo danificado.


— Obrigado. — Agradeci assim que o término do aprendizado ocorreu — Preciso de mais uma coisa. — Continuava tomando alguns segundos para observar a lâmina em minha mão — Você consegue dizer se uma espada é boa ou não? — Questionava esperando um pequeno espaço de tempo para ser respondido. Caso recebesse uma positiva por parte do grisalho — Pode me trazer à melhor espada do depósito? Algo não muito grande, que seja voltada para movimentos velozes, contudo, que seja forte para bloqueios. — Destacava as características que buscava. Porém, no caso de ter uma negativa não perderia tempo e então — Conhece alguém na tripulação com esse olho clínico para armas? — Por fim, mantive-me inerte esperando por uma resposta.

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O tripulantes atendia ao meu pedido e não demorava de trazer algumas opções que julgou de boa qualidade, restando a mim a escolha que mais me agradava — Entendo. — Falava em resposta a todo o seu falatório. Ponderei por algum tempo qual seria a melhor escolha, afinal, eram espadas com estilos diferentes e entendia um pouco mais sobre elas após a explicação do meu “professor”, que facilitava muito minha vida — “Ataques rápidos talvez seja o que eu preciso, sem o braço preciso manter uma movimentação constante...” — Era um pensamento sábio, mas as outras espadas também me interessavam bastante. Uma tinha um alcance maior e era mais pesada, provavelmente poderia causar um dano ainda maior em meus inimigos, enquanto a outra era o famoso “pau para toda obra”, como um pato ela não era boa em nada.

— “Qual devo escolher?” — Continuava pensativo analisando as opções, buscando identificar qual era a melhor para minha situação — “Vamos começar com essa.” — Falava olhando diretamente para rapieira e então a pegando, sentindo seu peso e fazendo alguns movimentos com ela — Vou pegar essa e a Katana, mas a última deixarei guardada. — Indicava que o homem poderia levar a espada longa para outro lugar ou simplesmente ficar com ela, cabia a ele decidir.

De qualquer forma, pegava ambas as espadas em mãos e partia em direção a embarcação principal dos Infernais, aquela pequena escuna que nos trouxe ate Hasagt. Ia até o dormitório, guardando a Katana próximo a cama para utilizar em outro momento, mantendo a rapieira presa na lateral da minha cintura, no lado oposto ao meu braço — “Certo, agora eu preciso tentar fazer as chamas envolverem minha espada, será possível?” — Retirava a espada da cintura e deixava as chamas tomarem conta da minha mão, esperando que aquele elemento fosse direcionado a arma, contudo, provavelmente seria algo falho — “Por que não foi?” — Pensava observando a espada em minhas mãos, será que minhas chamas eram fracas? Talvez fosse necessário banhar a espada em um liquido inflamável? Não sabia ao certo, mas iria descobrir em outro momento — “Agora preciso aproveitar o momento para fazer aquilo.” — Concluía o pensamento caminhando para o convés novamente, dando uma boa olhada nos arredores para ver se nada de errado estava à espreita.

Meu próximo destino? Encontrar alguém que pudesse me ensinar algo sobre a cozinha, minha mente havia me levado a algo relacionado com a comida, talvez unir isso ao poder da minha Akuma no Mi? Era uma ideia disforme, porém, que podia render alguma coisa lá na frente — Sabe quem entende de cozinha? Preparar os alimentos e saber suas propriedades? — Questionava ao primeiro tripulante que passasse em minha frente. Aguardava sua resposta e logo em seguida partia em direção a figura indica, isto é, se existisse alguém ali com tais habilidades.

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