Caminho das Sombras

- Pelo visto vou precisar de um banho quando sair daqui… - Comentaria, fazendo uma carinha de nojo ao perceber o odor putrefato que dominava o ambiente emanando daqueles dois corpos. Eu realmente queria dar o fora dali o mais rápido possível, mas antes eu precisava digerir todas as informações que a minha busca tinha rendido. Pelo visto, Torres matou aqueles dois e, provavelmente, tomou deles a mochila que eu vi ele carregando mais cedo. Outra informação importante que eu consegui era que, segundo os papéis sujos de sangue, ao que tudo indicava, a carga secreta do navio era realmente de seres vivos, mais especificamente animais e "anjos" - Será que isso tá se referindo a escravos celestiais? - Me perguntaria, coçando o queixo levemente com a mão esquerda. Bom, eu pelo menos não conseguia pensar em nenhuma outra possibilidade que se encaixasse naquele contexto.

Agora, eu já tinha uma boa teoria do que estava acontecendo ali. Torres de fato lidera um bando de caçadores de recompensas, mas pelo visto carrega um contrabando de escravos e animais raros a mando do tal patrocinador, que provavelmente é o tal do Aleph, que em troca dá toda a ajuda financeira necessária para o bando de caçadores continuar funcionando. Além de Torres, Jack pelo visto é o único outro membro do grupo que sabe sobre esse "esquema secreto". Se tratando de operações criminosas, essa pelo visto era muito bem planejada, eu estava até um pouco impressionada com tudo aquilo. Em todo o meu tempo como ladra, foram poucas as vezes que encontrei criminosos tão espertos. Mas como era de se esperar, eu era ainda mais capaz que eles, e sentia que estava muito perto de solucionar aquele mistério. Agora, a única coisa que eu precisava era confirmar do que de fato se tratava a carga e se o nome do patrocinador realmente era Aleph. Uma vez que eu tivesse de posse dessas confirmações, poderia ligar para o meu verdadeiro chefe e completar o servicinho. Com isso, fugiria junto de Izzy e com sorte nunca mais daria de cara com aquele grupelho.

Mas antes de tudo isso, eu precisava voltar ao barco e trocar informações com Izzy. Com sorte, ela teria mais contribuições importantes. Fiquei levemente preocupada com o fato de ter deixado Izzy sozinha com o Jack, afinal, éramos minks gatas, espécimes raras no submundo e ambas sabíamos muito bem disso. De qualquer forma, resolvi confiar que a minha irmã sabia se virar. Caso ela suma, aí sim vou ir atrás dela e resgatá-la. Quanto a eu mesma, realmente não tinha nenhuma preocupação. Já escapei de tantos grupos perigosos e vivo com um mafioso casca grossa no meu pé o tempo inteiro, não é um grupelho de caçadorezinhoes de recompensa que não conseguem nem mesmo se sustentar só com caçadas que vai finalmente me parar.

Com tudo aquilo em mente, deixaria aquele lugar tão desagradável para voltar ao barco. Tentaria ser rápida, mas evitando ao máximo parecer afobada, afinal, não queria levantar suspeitas de algum outro membro do bando que pudesse me ver chegando. Uma vez no convés, procuraria por Izzy. Caso não esteja lá, esperaria por algumas horas até que ela voltasse. Se por acaso ela lá estiver, eu me aproximaria de minha irmã e falaria, em um tom bem casual. - Mana, vamo lá no dormitório. - Após isso, andaria para lá junto dela, e ao chegar, me certificaria de que estávamos sozinhas lá e que todas as portas estavam devidamente trancadas antes de começar a falar. Caso tenha mais alguém lá, esperaria que saiam para que entrasse junto com Izzy.

Caso Torres me procure enquanto no convés, diria rapidamente pra ele que eu não estava me sentindo muito bem e que nosso "encontro" poderia ficar pra outra hora, sempre usando um tom bem simpático pra evitar que ele se irrite comigo.

Depois de tomar todas essas precauções, me aproximaria dela e perguntaria bem baixinho em seu ouvido. - E então, descobriu algo interessante? - Eu esperaria uma resposta antes de contar pra ela tudo o que eu havia descobrido.

Embora as informações que Izzy havia pescado, à primeira vista, não parecessem tão importantes assim para a situação, algo na fala da minha irmã despertou bastante o meu interesse. Ao sugerir que precisávamos descobrir onde os possíveis escravos seriam entregues, imediatamente veio na minha cabeça aquele dia quando o Torres falou que nosso próximo "peixe grande" estaria na Grand Line. Se até agora nossas teorias estivessem corretas, era lá que os escravos seriam entregues e possivelmente até aconteça a vinda de mais "carga" a bordo do navio. - É na Grand Line, lembra do Torres falando que nosso próximo objetivo estava lá? - Responderia. -  Se conseguirmos descobrir mais sobre a entrega, isso pode nos levar direto para o patrocinador secreto. Agora só precisamos saber qual ilha é especificamente. - Faria um sorriso de satisfação ao traçar o plano. Eram ótimas ideias, mas mesmo assim eu ainda não tinha cem por cento de certeza sobre o que falava, por isso, era bom ter alguma garantia de que não iria falhar completamente. - Mesmo assim, ainda existe a possibilidade da entrega ser em outro lugar. - Colocaria então minha mão esquerda no braço de Izzy. - Nós duas precisamos ficar de olho na sala secreta aqui no barco. Se você ver alguém tirando algo lá de dentro, ou até colocando, venha me avisar imediatamente. - Então finalizaria. - Esse provavelmente vai ser a parte mais crucial da missão, não podemos falhar.

Após terminar a interação com minha irmã, voltaria ao convés para então esperar o retorno do capitão. Me perguntava se por acaso ele ainda estaria usando aquela misteriosa mochila quando voltasse. Bem, isso era um pergunta que eu ainda não tinha a menor condição de responder. Tudo o que podia fazer no momento era contemplar as beleza do porto no convés e aguardar.

Torres deu mais um anúncio de que estávamos indo para a Grand Line, e dessa vez ainda acrescentou que tinha "afazeres" no farol. Aquele papinho sobre contrato não me desceu, na verdade, era claramente algo relacionado ao "outro trabalho" dele. Mais um sorriso triunfante aparecia no meu rosto ao ouvir isso, afinal, ele havia deixado escapar algo de tremenda importância para o meu plano de ação: os tais dos negócios no farol, o que provavelmente significava que era lá que a troca aconteceria. Se eu conseguisse observar a entrega, muito provavelmente também teria abertura que precisava para confirmar de vez a identidade do patrocinador, e além disso, como estaríamos em uma localidade relativamente grande como era o Farol, eu e Izzy tínhamos grandes chances de fugir e desaparecer das vistas do bando sem conflito, embora estivesse preparada para fazer o que fosse necessário. Bom, agora, tudo o que eu tinha para fazer era me preparar para a travessia da reverse e a chegada na Grand Line. "Com isso, acho que não vai demorar muito até completar o serviço." Refleti, cruzando os braços. "Daqui pra frente, só preciso me concentrar em não cometer mais nenhum erro bobo."

Ainda na intenção de evitar gerar suspeitas sobre mim, gastaria esse tempo livre ajudando os outros membros da tripulação a navegar o barco, caso seja necessário. Também tentaria, sempre que possível, ficar de olho em Torres e na sala secreta para observar qualquer tipo de movimentação suspeita que pudesse estar acontecendo, afinal, esse tipo de coisa nunca pode se dar como garantida. No mais, aproveitaria aqueles que muito provavelmente estariam perto de serem meus últimos dias junto daquela tripulação de caçadores de recompensas.

De repente, entramos em uma tempestade. O barco balançava e sacudia que nem louco, e eu pude ver Izzy quase ser jogada para fora da embarcação até ser salva por Beni. Isso me deu um susto bem grande, mas ao constatar sua segurança consegui focar novamente no que era de mais importante naquela situação. Não importa o quão capaz eu fosse, se o navio afundasse ali, todos os meus objetivos iriam,  bem literalmente, por água abaixo. Por isso, eu precisaria dar tudo de mim para ajudar os outros a controlarem o navio. Ao ouvir o comando de Torres, eu gritaria com toda a força: - Estou indo!!! - E então começaria a andar na direção da corda solta, tentando usar minha destreza para segurar em partes sólidas do barco para e evitar ser jogada para longe.

Caso consiga chegar até a corda, eu imediatamente tentaria agarrá-la e segurá-la usando toda a minha destreza, se possível, amarrando-a no casco do navio para que eu não precise segurá-la por muito tempo. Se não tivesse sucesso, tentaria novamente até conseguir, afinal, nossas vidas dependiam disso. Também ficaria atenta a outros comandos de Torres, aos quais eu tentaria seguir fielmente para evitar a morte de todos em um possível naufrágio no meio dessa tempestade infernal. Além disso, se estivesse de noite, evitaria ao máximo olhar para a lua para que eu não me transformasse na forma Sulong.

Eu já tinha feito a subida da reverse uma vez na vida, mas naquela ocasião, eu não precisei ajudar na navegação do barco, provavelmente pelo fato do bando que me deu carona ser bem mais numeroso que os meus "colegas" atuais. Enfim, faria um suspiro profundo de alívio ao perceber que tínhamos superado a primeira parte da subida, mas minha alegria durou pouco pois logo mais fui lembrada de que ainda tinha a descida. - Pessoal, foco! - Gritaria, em resposta aos devaneios de Torres sobre sua terra natal. Eu realmente precisava que ele se concentrasse em nos tirar dali vivos e não em nostalgia barata.

Embora perigosa, a reverse era realmente um local bastante bonito, principalmente o topo dela que se localizava bem alto na red line. Sem dúvida era uma paisagem bastante única e linda, mas perigosa na mesma medida. Imaginei por alguns instantes quantas tripulações não teriam perecido enquanto tentavam atravessar aquela montanha em direção à Grand Line.

Mais uma vez, procuraria seguir todos os comandos do capitão durante a descida referentes a navegar a nossa embarcação, seja para segurar cordas ou qualquer outra coisa. Daria o meu melhor, afinal, minha vida estava em jogo. Caso ache que existe perigo de eu ser jogada pra fora do barco, tentaria me agarrar com as garras de gata na madeira do casco do navio, de preferência em um lugar bem seguro, usando toda a minha destreza, e ficaria assim até que o perigo passasse.

Enfim, depois da travessia violenta da reverse, nosso grupinho havia chegado no mar propriamente dito da Grand Line. Mais uma vez eu me encontrava naquele mar tão traiçoeiro e cheio de singularidades, porém, dessa vez, euzinha não contava com proteção de ninguém e teria que me virar sozinha para enfrentar seus perigos. De um jeito ou de outro, estava curiosa para descobrir o que me esperava naquela área tão importante do mundo.

Durante a queda, não pude deixar de perceber gritos vindos do fundo do navio. "É, isso praticamente confirma minha teoria de que o Torres tá transportando pessoas." Faria um sorriso de forma confiante, sabendo que mais uma vez tinha conseguido acertar. Agora, o restante do plano já estava bem alinhado. Eu iria seguir o Torres até o local da entrega, e então, descobrir mais sobre o tal patrocinador a partir do receptor da "mercadoria". Com quase toda certeza, por se tratar de alguém assim, ele poderia ao menos confirmar se o nome do homem misterioso por trás daquela operação era realmente Aleph. Ou talvez até o receptor acabasse sendo o próprio, de qualquer forma, se eu conseguisse arrancar essas informações de quem quer que fosse receber os escravos, eu estava convicta de que conseguiria completar a missão, ou ao menos chegar bem perto de fazê-lo.

Com isso tudo já em mente, chamaria novamente Izzy a sós para os dormitórios, assim como tinha feito das outras vezes, tomando todas as precauções para que não tenha mais ninguém ali enquanto nós conversamos e mantendo todas as portas fechadas. - Mana, eu tenho um plano. - Falaria baixinho para Izzy, sussurrando em seus ouvidos, caso ela tivesse vindo comigo. - Quando chegarmos no farol, vamos ficar de olho no Torres e no Jack o tempo inteiro, e quando percebermos que eles estão indo fazer a entrega dos escravos, vou seguir o grupo sem ser notada. - Embora estivesse sussurrando, meu tom de voz exalava confiança. - Uma vez que eles façam a entrega, vou identificar quem tá recebendo a mercadoria e então tirar dele as informações finais que a gente precisa. - Faria então uma pequena pausa antes de finalizar o planejamento. - Se algo der errado, improvisamos na hora. - Daria uma risadinha, certa de que qualquer que fosse o desenrolar dos acontecimentos, eu sairia por cima. Após falar sobre o plano para minha irmã, voltaria para o convés e aguardaria até que o barco chegasse no farol.

De repente, algo bastante inusitado aconteceu, o que provavelmente me levaria a ser forçada a adaptar meu planejamento. Todos os outros membros da tripulação salvo por mim e Izzy estavam no convés, e o Torres havia deixado a porta da sala secreta aberta, embora isso com certeza não fosse durar muito tempo. Essa era a oportunidade perfeita para eu confirmar com meus próprios olhos minha teoria sobre a mercadoria que estávamos transportando. - Mana, fica de olho naqueles quatro e tenta atrasar eles caso queiram descer. - Falaria, sorrindo cheia de satisfação. - Vou dar uma olhadinha rápida na sala secreta e depois volto pro dormitório. - Ao falar isso, imediatamente correria na direção da sala secreta, usaria toda a minha velocidade, e ao mesmo tempo buscaria não fazer tanto barulho. Ao chegar lá, daria apenas uma bisbilhotada rápida lá dentro apenas para confirmar o que se encontrava em seu interior, e depois vazaria também à toda velocidade de volta em direção ao dormitório.

Caso a situação fique preta e eu veja que não vou conseguir escapar sem ser vista pelos corredores, rapidamente tentaria me esconder dentro de alguma caixa ou barril, ou atrás de alguma estrutura para que a tripulação não me perceba até que vão embora e eu possa voltar com segurança até o dormitório. Tentaria fazer tudo isso na menor quantidade de tempo possível, afinal, ainda não estávamos no farol, a missão ainda não estava completa e eu não podia arriscar ter a minha identidade revelada a essa altura do campeonato. Eu precisava ser prudente.

Para a minha surpresa, as únicas coisas que eu tinha achado na sala foram uma mochila cheia de dinheiro e um espelho, o que significava que os escravos provavelmente estavam dentro do alçapão que levava para os andares inferiores do navio. De qualquer forma, eu havia aprendido mais uma informação importante, e agora tinha certeza de onde a carga estava localizada. Meu plano continuava o mesmo, e eu estava totalmente disposta a entrar em ação assim que possível.

Nosso grupinho tinha finalmente chegado no farol, o que me dava um certo alívio, afinal, não estava mais presa naquele barco e agora poderia ter um pouco mais liberdade. A arquitetura do local era bem simplória, diferente de Polestar, mas ainda assim tinha seu charme na minha opinião. O local parecia um clássico porto pirata, onde todo tipo de criminoso se encontrava e havia pouca presença da marinha. Fazia total sentido que Torres e Aleph escolherem este local para conduzirem seus negócios escusos. Pensei em ficar no navio vigiando o alçapão esperando o momento da troca, mas o chefe inesperadamente me convidou para acompanhá-lo para algum lugar, algo que era perfeito para mim. Talvez finalmente ele tivesse começando a confiar em mim, e eu não podia perder aquela oportunidade.

- Claro que posso, chefe! - Responderia, bem animada enquanto andava em sua direção. - E então, onde vamos? - Perguntaria logo em seguida, disposta a segui-lo para onde quer que fosse independentemente da resposta dele. Andaria ao lado de Torres para onde ele quisesse me levar, mas ficaria bastante atenta aos meus arredores e a qualquer possível movimento suspeito ao meu redor, afinal, já estávamos na Grand Line e o buraco aqui era, mas muito mais em baixo.