Spear & Shield — 01

Atreus abria os seus olhos lentamente, com a luz do sol incomodando-o por um momento. É, nem sempre é o dia do caçador e o jovem guerreiro sentia isso no seu corpo! Aquele javali não passava de uma presa habitual, apenas um pedaço de carne esperando para ser espetado, mas não antes do segundo javali, não visto pelo jovem, atropelá-lo e jogá-lo ao ar, destruindo sua lança e escudo no processo. E, de fato, Atreus podia ver os restos de madeira e metal espatifados e espalhados pelo solo lamacento. Ao menos, os animais não estavam mais em seu campo de visão e, o celestial desarmado, estava seguro.

Seu trabalho, assim como seu objetivo, dependiam de uma arma e, portanto, ele seguiu rumo à cidade. Foi uma longa caminhada indo da região norte à região sul da ilha, uma das maiores do West Blue. Ou seria a maior? O jovem não sabia! A floresta era uma região perigosa, fosse em seu terreno mais fechado ou na extensão mais arejada, repleta de animais selvagens, ladrões e trambiqueiros. Mas viver e caçar naquela selva por anos fez com que Atreus evitasse tais perigos com maestria.

Após uma monótona caminhada de quarenta minutos — Era isso o que se ganha ao escolher viver longe da civilização! —, a cidade finalmente era visível. Pela altura do sol e pelo frio ameno, devia ser em torno das dez horas. As ruas já não estavam tão apinhadas, embora o caçador atraísse olhares de homens e mulheres igualmente. Será que admiravam seus músculos? Ou talvez estivessem abismados com suas várias cicatrizes? Na verdade, julgavam suas roupas sujas e farroupilhas, mas enfim…

Ao abrir a porta da loja, o sininho preso acima tocava e passos rápidos eram escutados vindo em sua direção. Após tantos anos, o jovem já devia ter perdido a conta de quantas vezes entrara ali para repôr seu equipamento. — Oh! Atruze! Há quanto tempo! — O homem usavas vestes para lá de espalhafatosas, mas o celestial sabia que sua personalidade era bem diferente de um burguês esnobe. No entanto, ele persistia em errar seu nome. Seria de propósito? — Pensei que havia me trocado pela concorrência! — Dizia ele, apontando para o caçador com um olhar sério, mas logo abrindo um largo sorriso. — Não faça isso, por favor, ou vou morrer de fome! GEGEGE! — Ele passava a meia hora seguinte exaltando cada peça em sua loja até que Atreus saísse de lá sem um mero berrie em sua posse! — GEGEGE! Boas caçadas e volte logo! — Se despediu.

De fato, o celestial ansiava por uma caçada, mas desta vez ele buscava por uma presa um tanto diferente. Mais uma caminhada, esta bem mais curta, o levou até o QG G-23, com seus números estampados em branco por todos os edifícios. — Alto! — Gritou um dos soldados. — Diga seu nome e o que deseja! — Após especificar seus propósitos, ouviria: — Quer ser um caçador, ein? — O soldado o encarava de cima a baixo, embora não demonstrasse nenhum julgamento. — Ok, siga reto. O quadro fica à esquerda, logo após a entrada.

Se seguisse as indicações, se veria entrando no edifício central do complexo. Marinheiros entravam e saíam, armados e desarmados, alguns apressados e outros conversando despreocupados. Tinha de tudo por ali. Uma bela moça na recepção lhe dirigia os olhos e um breve sorriso, antes de retornar às suas papeladas. O grande relógio atrás dela indicava que eram exatos 11h37. À direita — Sim, e não à esquerda como o soldado da entrada havia informado. — estava o quadro com os cartazes de recompensa. Haviam três, dando à Atreus a capacidade de escolher. Eram eles:

Spear & Shield — 01

— Oh, olá! — Respondia a moça da recepção. Ela tirava os olhos dos seus papéis e dava mais um educado sorriso para o grandalhão à sua frente. — Claro, sem problema. Apenas deixe-me achar a ficha dele aqui… — Enquanto ela abria uma gaveta e remexia nos papéis, Atreus pôde observá-la um pouco melhor. Talvez seus traços mais distintos fossem seus cabelos cor de fogo e seus olhos cor esmeralda. Ou talvez, para o jovem celestial, o estilo da moça tenha lhe atraído mais, com sua bandana, suas jóias e algumas peças de couro no braço e ombro.

— Aqui, achei! — Disse após um pouco menos de um minuto. Ela puxou uma folha de papel, leu rapidamente e esticou seu braço para que o caçador pudesse pegar do outro lado do balcão. — Basicamente, ele é um líder de um grupo de bandidos. Aí tem algumas instruções de como encontrar sua base. — Na metade inferior da folha havia uma espécie de mapa da ilha, marcando um ponto bem ao norte, nas montanhas congeladas. — Você deve imaginar de onde veio sua alcunha… — Na parte superior, haviam algumas informações extras indicando rotas que seguiam desde a cidade até o topo de uma das montanhas. O caçador poderia considerar aquilo como uma jornada, passando pelas florestas, por animais, ladrões e montanhas até chegar ao seu alvo.

A moça olhava para os lados de forma suspeita, cerrando os olhos para cada marine presente, até se curvar por sobre o balcão e sussurrar tão baixo que Atreus quase não conseguia compreender: — Existe um boato que eles trabalham para um dos parlamentares, por isso que estamos de mãos atadas. Se você trouxer uma prova disso, lhe garanto um extra! — Ela se jogava de volta à cadeira tão rapidamente quanto havia se curvado. Ainda assim, dois marines que passavam no momento olharam na direção da atendente e do caçador e ela forçou uma expressão de leve constrangimento, movendo sua franja para trás da orelha e olhando para o grandalhão com um sorrisinho bobo. Restava ao celestial dançar conforme à música, ou não!