“ - Inúmeros são os contos passados de boca em boca sobre o criacionismo. Cada um tão único e fabuloso quanto a lábia e o carisma de quem o conta. Factos que com o passar dos anos foram se tornando histórias mirabolantes e irreais, floreadas com poderes e seres sobrenaturais, perdendo-se a verdade no esquecimento camuflado do dogma que se cria em seu redor. O caso do arquipélago de Tho-jar não é diferente. Há nove séculos que seu povo conta que, Rhael teve a primordial ideia de criar um mundo refugiado do Mundo. O seu ideal fosse que este seu extraordinário mundo utópico, reinado pela paz e amor, estivesse fechado à estrangeiros, porém, aberto para observar o mundo pecaminoso exterior. Com ajuda de Fek, Trunof e Xexes, divindades com poderes únicos, Rhael foi capaz de criar um arquipélago de ilhas flutuantes nos céus, e por baixo delas, um oceano de água e nuvens.
À este novo Mundo, Rhael chamara de Tho-jar Hyperborea. “O Mundo acima do Mundo”. Sua geografia era única e exótica. Cada ilha com suas próprias estações e características. E a cada, atribuiu um reino e uma tribo. Oito reinos, oito povos, oito nomes, vastos e independentes de si mesmos, oiro raças distintas, com suas próprias características que as faziam diferentes e, porém, unidos por uma causa em comum. A paz.
No reino dos Dandelions, humanos escolhidos à dedo por Rhael, a tecnologia era imperativa. Orgulhavam-se de suas engenhocas, tanto no campo bélico quanto no da saúde e agricultura.
O império dos Arelion eram anjos únicos, com asas alvas e de estrutura invulgarmente alta. Responsáveis pelo alto concelho, ditavam leis e tratados, organizavam documentos históricos e lideravam a frente unida entre os reinos.
A pequena tribo Mayan, no minúsculo território de 900 mil metros. Seres celestes de asinhas pequenas avermelhadas e de cabelos ondulados e da cor do sol. Seu maior orgulho era sua ligação ao mundo espiritual. Pacíficos, em nove séculos jamais se ouvira falar de um Mayan que houvesse desafiado ser um aventureiro e deixar a ilha, em oposição às demais raças.
Javians, seres protegidos pelo Mar, cabelos escuros e de pele bronzeadas, fortes e ágeis, guerreiros excelentes no deserto. Orgulhosos de sua criatividade e liberdade na hora da luta…“
Abafando-se no esvoaçar do vento que por entre as altas copas esverdeadas que alcançavam o décimo-quinto andar, a voz rouca e grisalha do velho professor de história se perdia e um mero ruído de fundo ia se tornando para o pequeno Hizumy. Cá no fundo, distante dos restantes colegas de turma de duas ou mais décadas de vida, anos mais experientes, absorto pelas maravilhas da sua memória, segurando a maciez da face, toda ela arranhada, com sua pequena e suave mãozinha, navegava por entre sonhos de lembranças recentes.
De cinco em cinco anos apenas um escolhido recebia a honra de deixar o “Mundo acima do Mundo”. Normalmente, tal era escolhido através de vários exames teóricos, práticos e lutas. Um processo que levava cinco anos para escolher o mais digno de todos. O ser mais leal ao seu povo, aquele que manteria o segredo de sua existência, todavia, que estaria sempre apto a retornar se sua pátria o chamasse…
Fazia cinco anos que deixara sua tribo, sua família. Cinco anos que, pela primeira vez em toda a história de Tho-jar, havia se tornado no primeiro Mayan a ingressar na magnífica universidade de história do império de Arelion. O primeiro a explorar todo o arquipélago e suas ilhas de mil culturas. O mais jovem a alguma vez adentrar na Sagrada Universidade Arelioniana e, o único e mais novo herói de Tho-jar com proveniência Maya. Tudo com apenas doze anos.
Quando adentrou na Sagrada Universidade, mesmo com tamanho feito, não houve um único ser, celeste ou humano, que visse nele um candidato digno. Tudo mudou há alguns meses quando demonstrou a maior prova de amor pela existência de Tho-jar Hyperborea naquilo que ficou conhecido como “A Batalha dos Céus”.
“Séc. VI p.c., ano 713YXV
Por vezes, o amor tornar-se em um vício corruptível, e o anseio por cumprir um desejo, uma labareda capaz de cegar a nossa própria alma. Guiado por boas intenções perante seu criador, o reino de Víboras desviou-se do caminho que lhe era garantido, virando-se contra seus irmãos e começando a primeira grande batalha entre tribos. “
O chilrear alegre das aves que sobrevoavam o límpido céu azul se misturavam ao bater fervoroso das alvas ondas borbulhantes que encontravam seu fim nos grandes rochedos mirabolantes do porto. No seu reflexo, espelhado no vidro das janelas, era visível a sua preocupação. Os passos apressados, distantes, mas que aos poucos se faziam próximos, pelo corredor apenas poderia significar uma coisa, - Guerra. Não que o seu propósito não fosse aquele, todavia, algo não estava como o destinado. Rhael não sucumbira no sono profundo para despertar e ver sua criação se autodestruindo. Aquilo não poderia estar certo e Hizumy o sentia.
Por entre os questionamentos e indecisões, há alguns metros dali, podia sentir na própria pele os gritos agoniados dos que davam o seu último sopro. O oco e dilacerante som da carne a despedaçar-se pelos fios metálicos. O silêncio avassalador que, pouco a pouco, ia dominando as aldeias da tribo Mayan conforme o avanço das bestas. Rios azuis que de vermelho se mancharam, corpos esmagados, queimados e irreconhecivelmente destroçados… Aquela disputa sem sentido ia se alastrando por todo o continente e, irreversivelmente, parecia se acercar de Hyperborea, capital dos Mayans. Por mais que seu sangue fervesse, que seus membros tremessem de ânsia, tinha que se manter fiel a si e à sua moral. Sabia que para chegar à capital a cabeça da cobra vir-se-ia a rastejar por aquele caminho e, ao contrário de todos os Mayan que correram para a capital, cobardes ou receosos demais para lutar, seres que jamais haviam tocado numa arma ou pensado sequer em matar alguém, totalmente dependentes de outros para que lutassem por eles, o pequeno havia conseguido do grande mestre espadachim Knox dominar a arte da espada e esperava por fim trilhando tal caminho.
No longínquo, à margem do leito d’água, Jo’el se ajoelhava mergulhando as mãos em concha e as levando ao semblante. - Coronel, por este andar estaremos na cidade de Hyperborea ao meio dia. – Jo’el sorriu colocando-se de pé. Olhou de soslaio para a reluzente e pesada armadura feita em placas de metal e o escudo decorado com as insígnias da Lua Gêmea, que repousavam imóveis no exterior da tenda de campanha. Cabelos negros, imaculadamente cortados em degrade dos lados. Queixo limpo, disciplinadamente aparado e um bigode extremamente brilhante e saudável. Pele morena e nariz pontiagudo, comprido e arrebitado e, diferente de seus semelhantes, era um homem de pouco humor ou alegria, sempre pronto para usar suas armas não importasse o momento, nunca estando muito longe delas, como era de conhecimento comum por entre aqueles que já haviam trilhado caminho com ele ou ouvido suas façanhas. - Desfaçam o acampamento e preparem os cavalos. O meu sangue ferve por sangue selvagem! -
Jo’el Soir Víboras, coronel das forças armadas do Império de mesmo apelido, era aquilo que se podia chamar de “A lenda viva”. Todas as tribos tinham uma. Bem, quase todas! Pois ali era onde nasceria o primeiro da tribo Mayan. Acontecia de aquele ser o ex libris entre todos, principalmente da classe espadachim. Lendário desde seus vinte anos por aniquilar um dragão adulto, Jo’el conquistou o seu valor no meio da guerra e da matança por todos os campos de batalha por onde andava no mundo dos homens de baixo, fosse nas vielas das pobres regiões, ou à frente dos vastos batalhões à que teve a honra de comandar. Agora, com a força de treze mil homens, uma força duas vezes maior que a rival, e aliado à uma frota de piratas, preparava-se para marchar.
Jo’el estava irritado, parecia irritado. Nas suas mãos o mapa estilhaçado ao meio era evidência do seu ódio. Tudo o que podia fazer era olhar em volta para aquele cenário calamitoso e encher-se mais e mais de raiva e desprezo por aquele à qual outrora denominava seu povo. Seu nojo por aqueles selvagens de cabelos dourados e asas vermelhas havia copulado tanto que nem mesmo massacrá-los fazia todo o seu ser acalmar-se. Como podia?! Uma mera e insignificante criança daquela região atrasar em quase quatro meses seus planos. Dividia seu ódio apenas entre tal criatura e os guardas que havia mandado decapitar. Como raios haviam sido derrotados por um noviço?! Um simples pupilo na arte da espada! Sem experiência alguma em combate.
Foi então, ligeiramente deslizando o olhar do mapa destroçado que, subitamente, na ténue linha do horizonte, ele avistou algo, ou melhor, alguém que, rapidamente, um pequeno riso fizera nascer no recanto de seu bigode. O vulto dourado tornara-o impossível de equivocar-se. Sua presa vinha até si.
O acanhado vale embrulhado em névoa içou-se tal oásis entre duas colinas imberbes. Esguias árvores, secas e escuras, majestosas da sua própria forma, levantavam-se soldados eretos protegendo do mal o trilho. Todavia, nem mesmo fixas guerreiras amazônicas puderam resistir ao feroz impacto da troca de golpes. Cada colisão entre lâminas fazia eclodir crateras no meio do terreno. Suas veias, palpitantes, grossas e enraizadas na superfície da sua pele por todo o seu corpo pareciam berrar. Seus olhos, avermelhados de sangue, iam perdendo aos poucos o sobro de vida que lhe restava. As pernas tremiam e lutavam por entre si para se manterem em pé e em movimento. Era difícil respirar. Era difícil manter-se vivo. Os milhares de arregalados olhos que neles vidravam em choque acompanhavam aquele fenómeno. Como sequer era possível tal criatura estar à altura do grande Jo’el?! Enquanto elas se debatiam, o garoto ia percebendo que seu plano estava a correr na perfeição. O veneno que havia depositado em suas refeições e bebidas havia o enfraquecido e, aos poucos, roubado sua vida sem que ninguém desse por isso, nem mesmo Jo’El. Não era algo que o deixava orgulhoso. Mas era o que havia de ser feito! Não podia permitir que seu povo fosse massacrado enquanto todos os demais debatiam auxílio.
A dantesca espada de dois cumes vinha em sua direção com uma força descumunal. Jo’el não tinha forças e contava apenas com a gravidade para empunhar seus golpes descendentes. Hizumy viu o sinal e mergulhou rapidamente de forma a passar pelo cavaleiro. Inclinou-se abruptamente para o lado e mergulhou novamente. Seus olhos fixavam um único alvo, um único objetivo, um único dever. Seus olhos endureceram e fecharam conforme o eminente impacto se aproximava mais e mais. A espada, afiada e pronta, afundou dentro da carne do tórax do velho cavaleiro rasgando a carne macia. O grito de angústia e dor irrompeu como um trovão. Horrível e aterrador. Um grito que ficaria com ele por muitos anos. Não havia mais o que Jo’ el pudesse fazer. Jazeria ali, fosse pela perda descontrolada de sangue que o mataria em meros segundos, ou pela dose de veneno letal à base de mercúrio que houvera inserido ao longo dos últimos dias. E, ao contrário do que se esperava, aquela criança não estava sequer a pensar em permitir o fado decidir a forma como o majestoso cavaleiro, outrora um herói, escolheria morrer. Saltando o mais alto possível, de ímpeto, desceu acelerado perfurando a lâmina verticalmente na goela do idoso.
Com seu líder derrotado, não havia o porquê daqueles guerreiros continuarem a marchar em fronte. Além disso, os Mayans haviam recebido um novo guerreiro, o que fazia com que a outrora abatida moral se debatesse e erguer-se uma nova, mais vitoriosa e belicosa. Por outro lado, o mesmo herói que havia acabado de nascer, parecia estar prestes a perecer…
Inconformados, muitos vieram a sussurrar meses pós tal batalha que de herói o celestial não tinha nada. Que usar veneno era um método para cobardes e fracassados. Outros o glorificaram e honraram, afinal era um Mayan invulgar, como nem um outro jamais existiu.
A verdade era que, gostassem ou não, fosse justo ou quiçá uma injustiça colossal, o alvorecer de uma nova manhã nascia perante o vulto daquele jovem aventureiro e historiador. Deixava o seu papel de noviço para trás, e trajava o manto oficial de um arqueólogo. E era no ponto mais à sul de Lorenia, onde era sempre banhado pela forte luz do solstício de verão, do alvorecer ao crepuscular, que subia a bordo da nau que o levaria à terra firme.
“O Conto da Espada - 14 anos “
O suor escorria-lhe gélido pelas têmporas. Como que diabos havia se metido naquela barafunda?! A regra do jogo era simples. Com uma pequena faca na mão, separados por meio metro, os dois rivais permanecem sentados à espera do momento certo. À fronte de ambos uma belíssima katana japonesa, de punho vermelho e bainha com a cauda felpuda de um animal raro, fincada no solo. Para desferir um golpe fatal no adversário com a faca, o mesmo não poderá permanecer sentado. Aquele que se levantar primeiro perderá a vantagem. Aquele que conseguir a espada oriental primeiro, receberá a vantagem. Tudo o que ele queria quando entrou ali era comprar uma espada e não se inscrever num jogo sangrento e nada misericordioso! Desde que deixara Thor-jar que há 2 anos que se meter em alhadas como aquela era o pão de cada dia! ~ Estou a morrer de fome… sede… e sono… ~ Fazia já 2 dias que ambos estavam ali, apenas trocando olhares fulminantes, não podiam comer ou dormir. Seu rival era um homem esquisito, de armadura pesada e um chapéu de cowboy. Músculos três vezes que o moleque, veias salientes por toda sua carne. Parecia insaciável e, verdade seja dita, impressionava sempre que olhava para ele. ~ Não acredito que paguei por isto… Só queria uma espada nova! ~ Cada vez mais se arrependia de ter atracado naquela ilha. Um dia ruim todos temos, mas mal por os pés e acabar num desafio onde o prémio é a própria vida… Tudo porque no seu último duelo enfrentara um mestre espadachim que, não só sua força bruta como sua mestria, fizeram com que a lâmina da sua espada falhasse.
~ Vai até Iron Steel, disseram eles! Não te vais arrepender! aff! ~ O arqueólogo indagava-se se aquilo não teria sido uma brincadeira de mal gosto de seus antigos companheiros de viagem. Estiveram com ele durante dois anos: um gigante, um tritão e uma historiadora. Juntos o quarteto havia desfrutado de muitas desventuras, porém, Hizy havia decidido que ao contrário deles, ainda era demasiado novo para assentar e deixar a emoção das aventuras e dos descobrimentos escapulirem-se-lhe por entre os dedos miúdos.
O enorme formigueiro nas pernas vinha em péssimo momento até que, talvez dando as boas-vindas ao João Pestana, o matulão do rival cerrara as pestanas por quinze segundos. Quinze segundos! Numa situação normal seria quiçá o suficiente para garantir vantagem, mas a fraqueza atingiu seus joelhos. Em desespero, numa reação quase que instantânea, cravou a faca na coxa e, milagre ou não, afugentara a fraqueza. O cavaleiro acordou somente à tempo de deslumbrar a criança a empunhar a katana e seria ali que começaria a verdadeira batalha se… Se o grande cavaleiro, ao se levantar, de boca seca e estômago vazio, de enorme armadura pesada, não tombasse desmaiado no solo.
- Acho que te vou chamar de Arisha! - E foi assim que o rouxinol batizou a espada, com um nome de sua terra que significava “Boa Sorte”.
“O Conto da Paixão Melancólica! Ártemis era seu nome! - 19 anos “
A imensa chuva torrencial não dava sinais de cessar. Tarde era a hora naquela taberna assombrada pela negritude do salão. Na extremidade das paredes de madeira húmida e mofadas, prestes a desintegrar-se pelo tempo, a luz fraca lutava para luzir das chamas inquietas das velas penduradas por castiçais enferrujados, e delas silhuetas imaginárias eram projetadas. Um ou outro pirata, bêbado, oculto nas sombras, figuras solitárias, deixadas ao abandono pela própria tripulação. Do outro lado, um quinteto de pescadores jovens cantava abraçado, encharcados de rum até a goela, baloiçando o líquido de dentro da caneta rústica e o deixando entornar no chão assoalhado. Escondido no recanto mais afastado do estabelecimento, sentado numa mesa com pouca iluminação, Hizumy escrevia suas anotações. Gostava de manter suas descobertas e histórias guardadas, não fosse a memória fugir-lhe. Tudo se enquadrava na normalidade daquela região até que ela apareceu. Tinha a face mais brilhante que alguma vez vivenciara. Seus cabelos de uma cor única. Sua tez pálida como a neve mais pura de inverno. Todo o seu ser destacava-se daquela escuridão bruxulenta.
Momentos antes, Ártemis puxava as rédeas da montaria sombria a parando prontamente. O ambiente silencioso que a cobria fazia-se ouvir berrante. Atrás de si o chão manchado de carmesim, árvores nuas e cinzentas. Cerrando os olhos, pequenas lágrimas se formaram, escorrendo pela face a baixo. Deixando a história que até ali a perseguira, adentrara na taberna à sua frente escapando à chuva.
Hizumy havia prometido, em cinco anos de viagem, que faria tudo ao seu alcance para salvar os mais fracos e os indefesos, que lutaria contra injustiças. E aquela jovem, por mais bela e atraente, por mais que fizesse seu coração palpitar como nunca antes, sabia que algo havia acontecido e que ela precisava da sua ajuda.
Quiçá por se fazer aproximar demasiadamente cauteloso, Ártemis encolheu-se ao ouvir o som da madeira rangendo de dor por trás dela e, em menos de um segundo, enxugara as lágrimas do rosto e desembainhou sua arma. Mortíferos, uma fera ferida, seu rosto delicadamente mais belo que a própria Afrodite, pintara-se de emoções de raiva.
O desconhecido, cabelos tão dourados como o ouro e olhos âmbar dourado, paralisou com as mãos para cima e um sorriso honestamente gentil. – Está tudo bem! Não quero brigar contigo! Apenas vim avisar que precisa de ter cuidado… Monstros vagam por locais como este… - Levantando a voz, a jovem berra exigindo explicações perante tal afronta. – Quem pensas que és?! Diz-me, charlatão, o que realmente queres? – Deixando um pouco do seu suspiro e transpiração escapar, Hizy rapidamente responde. – O meu nome é Hizumy Mizushiro Mayan. Hizy para os amigos! He he he! – Sorriu. – O meu propósito é apenas o que te disse. Olhe em teu redor… - Todos ali a encaravam desde o momento em que entrara. Era uma mulher, para muitos, uma suposta presa fácil e pronta a adquirir. – Ah! Não que eu duvide da sua força e habilidades! Apenas acho que desta forma podemos evitar qualquer tipo de violência! – Justificou, não fosse ela achar que seu cavalheirismo não passava de machismo camuflado. Talvez fosse feitiço, talvez ela estivesse apenas exausta de uma viagem do qual não queria falar, seja como for, a rapariga abaixou suas armas e aceitou a companhia do loiro.
Naquela noite, por achar perceber pelo que a moça estava a passar, imaginando já ter passado pelo mesmo, Hizumy decidira aliviar a tensão que a mesma carregava nos ombros. Sobre histórias de culturas antigas e suas aventuras desastrosas falou. Deixou-se cantarolar por toda a noite, transportando suas memórias mais surrealmente divertidas e alegres para a mente da garota. Horas passaram e, por alguma razão, Ártemis aceitara o pedido impróprio daquele já não tão desconhecido de passear com ela no seguinte dia.
Dias foram se passando com os dois juntos. O que era para ser apenas uma conversa para aliviar a amargura daquela jovem, passou a ser encontros divertidos. Esses encontros transformaram-se em diversas viagens e aventuras juntos. E, ao longo de tais aventuras, o amor de ambos foi florescendo até que se declararam.
Após três anos juntos, viram-se obrigados a se separarem. Havia chegado a altura de seguirem caminhos diferentes, pelo menos por aquele momento. Hizumy teria que regressar à sua terra natal e Ártemis tinha seus objetivos. Contudo, ambos prometeram regressar, um para o outro e voltariam a encontrar-se no West Blue, oceano que os havia juntado.
Seis meses havia se passado desde que completara seus vinte e cinco anos. A idade, apesar de que para alguns muita, não alterava o facto de ser quem era ou sua personalidade quase infantil e esperançosa. Estava de regresso ao West Blue. A ilha em que se encontrava era Derlund. Após anos em Thor-Jar, onde tivera que atuar como professor e explorador, além de herói, finalmente voltara a estar livre, agora de uma vez por todas, para explorar o resto do mundo e reencontrar-se com sua Ártemis. A vida em Derlund não tinha sido muito fácil desde que chegara, mas estava a aguentar-se.