A coragem e a forma como ameaçava ceifar a vida do pequeno aos seus pés, fez o grandão engolir seco e erguer as mãos pedindo calma, o suor escorria do seu rosto, era visível seu temor. A pequena serpente fez seu trabalho, ainda era um filhote sem grande força, mas compensa em performance, somente alguém com conhecimento adequado saberia a verdade. Aquele animal não tinha veneno algum - Fica calma, pirralha - dizia o homem com a voz falha - Você está cercada, nosso Vice-Capitão quer vê-la, não pense que apenas por deixar o quarto, você está livre - A informação era nova, Jack ainda não estava ali, mas seu braço direito estava.

Os passos curtos da menina enquanto segurava o rapaz pelo colarinho fizeram seu outro inimigo recuar, deste modo, do pé da escada ela tinha um panorama geral. Havia menos homens, era cerca de seis deles, nenhum parecia assustado com seu teatro, pelo contrario, alguns sequer olhavam para a cena, não tinha como saber quem era o manda chuva ali, mas não parecia se importar muito com algumas ameaças.

Ela viu, sobre uma das mesas sua clava, praticamente esquecido, gritou alto para ele ser jogado ao seu pé e um dos homens soltou uma gargalhada - Eu falo, mulheres são a praga desse mundo - o sujeito se levantava, era alto, com um enorme bigode ruivo abaixo do nariz, vestia roupas camufladas que lhe davam um ar estranho - Seus babacas de merda, agora vou ter que machucar ela, vai valer menos no mercado negro - ele pegava o porrete e balançava, como se treinando para acertar alguma coisa - Sabem que Jack precisa de dinheiro para comprar aquela fruta do diabo ... além disso, temos que economizar para seguir para a Grand Line - ao concluir, ele jogava o porrete bem próximo de Akane.

Esse homem era diferente, devia ter mais de dois metros de puro musculo, seus olhos laranjas brilhavam mesmo naquele lugar, parecia alguém treinado para matar e não hesitaria em fazer - Vem garota, vou mostrar o abismo entre seus sonhos e a realidade - Logo, o restante do pessoal abriu uma pequena roda, ali seria a arena, entre mesas, cadeiras e outros mais objetos, apesar de ser um espaço aberto, a movimentação poderia ser difícil.

Estava ali, em sua frente, se conseguisse derrotar o ruivo, poderia conquistar sua fuga, se falhasse, teria muito mais do que uma dor de cabeça para se preocupar.

Histórico:

Podem dizer muitas coisas sobre Akane, mas a mulher tinha bolas de bronze, quer dizer, culhão, digo, coragem. Cercada pelos inimigos, sendo intimada por um homem com quase o dobro do seu tamanho, ela pegou sua arma e a primeira coisa que fez foi informar o caminho do hospital para um dos capangas de Jack. Verdade seja dita também, nenhum deles mostrou preocupação, o que virou uma risada coletiva silenciada somente pelo movimento ligeiro da Kuja.

Empunhando sua clava, a moça conseguiu se aproximar do ruivo, ele não se moveu ou tentou defender, o golpe acertou por inteiro no estomago do pirata. Ele caiu, foi jogado contra uma das mesas de costas, quebrando-a em vários pedaços, os demais arregalaram os olhos, claramente assustados e até mesmo consternados com a cena, como pode o segundo ser derrotado assim tão facilmente? Então, não pode.


O ruivo, coberto por poeira e lascas de madeira riu, uma gargalhada legitima - Eu gosto de garotas assim - disse, enquanto se ajeitava, retirando as coisas de si e ficando em pé. Um fio de sangue escorria do seu supercilio direito, seu rosto se tornava rosado e as veias saltavam sobre seu pescoço - Ninguém move um musculo, essa putinha é minha presa - Num ato de fúria, rasgou sua camisa, deixando seu tronco bem definido a mostra, onde o golpe de Akane acertou, agora estava vermelho e levemente roxeado.

Ninguém iria entrar naquela briga, o ruivo era um homem aterrorizante, havia derrotado mais homens que qualquer um naquela sala e seus capangas sabiam disso, eles não tinham mais raiva da garota, tinham pena, ninguém sobrevivia aos ataques de fúria daquele monstro, ela estava morta, somente não sabia ainda.

Ele iria atacar com uma sequencia de socos abertos, focando em força, por Akane ser menor, os golpes iriam vir de cima para baixo, com potencia máxima, três golpes poderosos com intuito de joga-la ao chão. Agora sim, um inimigo a altura da garota, era hora de mostrar que não somente de ameaças vivia, era hora do show.

Histórico:

Face contra um forte inimigo, a kuja não se diminuía, acertar seu primeiro golpe cresceu sua confiança e não recuou nenhum passo, nem quando três poderosos golpes foram em sua direção. Akane não tentou sequer desviar, acertaram seu bloqueio feito de forma improvisada e um deles acertou seu olho direito, onde um pequeno corte se abriu e o sangue escorreu ainda de forma tímida. Por pouco a garota não se ajoelhou, trancou seu maxilar e furiosa, tentou acertar o queixo do ruivo, esse por sua vez, inclinou seu tronco para trás e sentiu o vento passar próximo ao seu rosto.

Seus olhos se arregalaram, aquilo poderia ter causado um dano considerável. Ele logo recuou o braço para atacar, mas novamente foi arrogante, aquele golpe não havia acabado, a caçadora fez o movimento contrario e acertou o pescoço do inimigo, fazendo-o cambalear e errar seu soco.

A luta se tornava corpo-a-corpo rapidamente, o ruivo viu a menina pisar com força no chão de madeira e algo incrível aconteceu. Quando akane pisou, a tabua simplesmente gemeu e permaneceu firme, aquilo era de uma qualidade impar e bem feita, ou, a kuja somente não tinha força suficiente para quebra-la. Deste modo, o ruivo riu e preparou seu corpo para socar com a direita e de fato acertou, mas antes de levar a garota ao chão, sentiu um forte impacto em seu joelho. Ambos caiam, um de cada lado.

Caída, com o sangue cobrindo aos poucos seu olho, a kuja bradava que queria a merda do navio e isso fez o ruivo abrir um sorriso - Eu estou te quebrando para te levar para lá sua imbecil, larga a arma que eu te levo ... inteira, pelo menos - disse, ao começar a se levantar  e olhar para sua rival, que poderia continuar a luta, ou aceitar a proposta.

Histórico:

Não havia acordo, eles iriam para o barco, mas somente um iria acordado. O ruivo ria, soltando o ar pelas narinas, claramente desdenhando da sua adversaria, na sua visão, uma simples escrava de uma terra distante, uma mercadoria, que a cada machucado, perdia um pouco do seu valor, por isso, quando ela avançou novamente, ele percebeu que o espirito dela não seria quebrado por simples ameaças, iria moldar o rosto dela com medo, como fora ensinado na sua terra natal, onde somente se vive se provar seu valor, onde crianças que não derrotavam um animal selvagem antes dos cinco anos virava escravo, ele venceu por conta própria, era hora de derrotar outro animal selvagem, de pelo vermelho e garras afiadas.

A técnica de Akane era simples, mas não menos efetiva, o ruivo era um combatente experiente e apesar de ficar confuso por alguns segundos, conseguiu se esquivar a tempo de tomar um golpe direto, assim, seu contra-ataque também se mostrou lento, sendo facilmente previsto pela kuja, que saltou para trás já movendo seu bastão em encontro as costelas do pirata, bem, pelo menos era isso que ele pensava.

Colocando seu braço a frente das costelas, uma defesa clássica de concha, se viu enganado como um bobo, ao sentir o impacto em seu joelho, desta vez, não conseguiu se manter em pé, parecia que alguma corda havia se rompido, como se fosse um boneco. Sem perceber, estava ajoelhado, vendo o próximo golpe da garota vindo em sua direção, mas o que ele presenciou, foi Akane cair para o lado, um forte estrondo ecoou pelo local, pedaços de madeira se espalhou. Ele havia chegado.

Akane desmaiou imediatamente, uma criança de pouco mais de um metro e vinte estava na porta, cabelo loiro, liso e levemente ondulado, vestia uma camisa listrada com uma bermuda azul, uma criança saudável, mas algo destoava, havia uma pistola em sua cintura e um cigarro em seus lábios, seu rosto era jovem, mas havia olheiras abaixo dos olhos, dentes amarelados ocupavam sua boca, alguns deles já haviam caído - Que merda esta acontecendo aqui? - bradou, fazendo com que todos ali dentro ficassem em pé, inclusive o ruivo, que suava de dor pelo movimento - Eu dei uma simples tarefa, pegue as mercadorias, limpe o local e venham para o navio - caminhava lentamente, cada passo era sentido, até mesmo a madeira chorava, gemendo ao sentir a figura - Seus imbecis, não consegue fazer algo simples, eu tenho que fazer tudo? - A pergunta era retorica e ninguém ousava responder.

O contraste era cristalino, apesar da aparência jovial e infantil, aquele era um homem vivido, com voz grossa e rouca, fumante e alcoólatra, viciado em apostar, ele era - Capitão, me desculpe, fui ensinar uma lição para essa escrava e ela era mais forte do que pensei - disse o ruivo - Acho que você está amolecendo, pelo que vejo, ela lhe ensinou uma lição - ele parava ao lado de akane, observando a pequena cobra erguer a cabeça e mostrar sua presas - Recolham e vamos para o navio, aproveitem meu bom humor, preciso de vocês lá, o nosso objetivo está próximo, eu terei uma fruta do diabo, eu irei dominar a maldita Grand Line JAJAJJA - os homens se moviam, pegando bebidas e armas, o ruivo pegava o corpo desacordado de akane e colocava no ombro, rapidamente, todos seguiam Jack.

Quando a kuja acordou, estava amarrada pelas mãos, sentia suas costas doloridas e ainda havia um gosto amargo de sangue na garganta. Pelo balanço, podia afirmar, estava num barco, as duas crianças também estavam lá, fitando-a, mas agora não havia medo, eles pareciam diferentes. O local era um dos cômodos do barco, havia caixas, alguns animais amarrados, galinhas, bodes e porcos, o cheiro era ruim, azedo e fazia o nariz coçar (o que era impossível, as mãos estavam amarradas), podiam ouvir passos na parte superior, onde ficava o convés. Akane novamente se encontrava amarrada, mas agora no local de desejo, estava no barco dos piratas.

Histórico:

Quando acordou, apesar da dor em suas costas, a primeira coisa que Akane sentiu foi a falta da sua amiga. Onde estava Lienne? Ela não estava em seu corpo e não estava no chão, vendo o desespero da ruiva, o garoto, o mesmo que estava preso no sótão da casa falou pela primeira vez - Ele pegou ... o Capitão Jack colocou ela numa jaula - disse, sem temor, sua voz era cortes e calma, mesmo naquele estado, tinha alguma coisa diferente, não havia temor, talvez antes eles julgassem a kuja uma pessoa estranha, mas vendo como ela agiu, parecia ter conquistado o respeito deles.

Não precisou perguntar duas vezes, o garoto não estava amarrado nem preso, julgavam que ele era somente um produto, um produto incapaz de fazer algo, tolos, esse erro iria custar caro, muito caro. A corda estava bem amarrada, o garoto estava fraco, provavelmente por não ter se alimentado bem ultimamente, mas depois de alguns minutos, conseguiu tirar a corda do pulso da mulher, que sentia o sangue voltar para suas extremidades. Ele ainda se mantinha perto dela, olhando em seus olhos - Moça, eu sei que você é forte, se puder ajudar a mim e a minha irmã a fugir, minha família pode lhe pagar uma quantia em dinheiro, só peço que não nos faça mal - O garoto tinha bolas grandes, apesar de claramente assustado, era visível que ele queria proteger sua irmã antes de tudo, seria a promessa uma mentira? Cabia a Akane julgar o que fazer.


O que importava era que ela estava solta, apesar da dor em suas costas, podia se mover sem limitação. Estava cercada de vários caixotes de madeira e sacos de comida, alguns animais, acima de si estava o convés, ela não alcançava as aberturas no teto, local da onde vinha a luz, podia ouvir uma grande movimentação no convés, de modo que, ninguém iria ouvir o barulho vindo do deposito. A porta era de madeira, ressecada e velha, mas ainda cumpria seu papel. Para sair dali, precisava contar com a sorte e ela vinha através de luz, algo incomodava seus olhos, a luz refletia no metal, jogado, um martelo ao lado de um serrote velho, o ultimo a usar deixou ali, eram apenas ferramentas, havia sido usado para arrumar algumas tabuas no chão. Assim, era hora de Akane agir, o que será que estavam fazendo com sua cobra? Estaria ela viva ainda?

Histórico:

Havia uma mesa longa no convés do "Pequeno Peixe", navio dos Piratas Jack, onde os membros se encontravam do lado direito, todos portando espadas e sabres, algumas pistolas velhas, mal encarados, contavam dezoito homens e duas mulheres, eram de portes variados, havia pessoas similares a Jack e pessoas altas, enquanto isso, do lado esquerdo, havia seis homens, todos bem trajados de ternos escuros, alguns usavam óculos e chapéus, outros, somente óculos, sentado na mesa, somente Jack e outro homem, havia uma enorme tensão no ar.

Ao lado de Jack, um baú grande e pesado, ali dentro tinha ouro e joias, perto do outro outro homem, sobre a mesa, um baú menor, mas o seu conteúdo era tão valioso quanto. Claramente, uma negociação estava em andamento e a voz ouvida era do homem de terno - O dinheiro todo está contigo? - Jack acenava positivamente - Se tentar alguma coisa, meus homens irão acabar com sua raça, esteja avisado - dois agentes foram até o baú, abriram, mexeram um pouco no ouro, pegaram o objeto e colocaram ao lado do agente sentado - O gosto é ruim, ouvi dizer, você não ganhara nenhum grande poder, apenas ficara alto e provavelmente mais inteligente - disse, fazia sinal para levaram o pequeno baú para o lado de Jack.

O capitão abriu, lá dentro uma fruta rosada de forma estranha se encontrava, Jack tocou e a tirou do objeto, cheirando-a com um largo sorriso - Isso me basta, ser grande ... - ao abrir a boca para morder, um grande estrondo aconteceu, a porta que levava do andar inferior para o convés simplesmente era esmagada pelo peso de uma pessoa.

Voltando um pouco no tempo, Akane se enfurecia pela captura da sua amiga, o simples pensamento da cobra aprisionada fazia sua pulsação acelerar, com o serrote em mãos, não demorou para abrir uma passagem na porta, não havia conseguido derruba-la no chute, mas não foi demorado serra-la, ainda tinha o martelo em sua cintura. Com o corredor livre, correu sem direção, como um touro sedente por sede até a única saída que encontrou, desta vez, uma voadora foi o bastante para derrubar a porta.

Quando a bagunça começou, os homens de terno se viraram a tempo de ver uma garota ruiva pousar com uma face intimidadora. Os piratas se assustaram e sem pestanejar, sacaram as pistolas e atiraram, o homem sentado levantava - Jack, que erro você cometeu - Numa velocidade incrível, se moveu e seu dedo acertou o ombro de Jack, fazendo a fruta cair no chão do barco. Homens atiravam e os agentes se moviam, o cheiro de pólvora tomava conta do local, no colo de um dos piratas, a pequena cobra branca erguia sua cabeça somente para ver Akane triunfante. A bagunça estava instaurada.

Histórico:

O forte cheiro de pólvora, sangue e suor inundavam o ambiente, Akane via uma cena de guerra em sua frente, havia homens gemendo de dor, outros sorrindo e alguns chorando, os homens de preto eram habilidosos e apesar da desvantagem numérica, conseguiam compensar com suas técnicas estranhas, com o dedo indicador, feria vários piratas, algumas vezes, balas batiam em seu peito e caiam no chão, era algo diferente, havia uma clara diferença de força.

Akane acertava alguns piratas, por ser agil e pequena, se perdia no meio da muvuca, mas havia algo, ou melhor, alguém que ela conseguia achar, um ponto especifico, sua cobra pendurada em uma gaiola apertada, presa ao cinto de um dos piratas. Sem pestanejar, ela se moveu, verdade seja dita, tomou alguns socos na cabeça e nas costas, mas conseguiu, ficar frente a frente com o rapaz, sua pequena amiga ergueu o tronco e seus pequenos olhos pareceram brilhar.

Jack apesar do tamanho, se mostrava um excelente combatente, portava duas adagas afiadas em mãos, enfrentava o líder do outro grupo, era uma luta equilibrada, ambos sangravam, podia ver que o ruivo, seu algoz, estava caído, desfalecido com um furo do tamanho de uma azeitona em seu peito. O convés estava se transformando, aos poucos, no cemitério prometido, os piratas caiam, sofrendo com a falta de preparo, mas seu capitão ainda estava de pé, por isso, lutavam.


Não foi difícil derrubar o inimigo, uma martelada forte na cabeça fez com que ele caísse sobre um barril e ali ficasse, mas nessa queda, a gaiola presa em sua cintura, foi esmagada, seu corpo pesado agiu como uma prensa. Não havia como saber, Lienne não era vista, então, um fio de sangue escorreu de onde a gaiola estava esmagada. Teria Akane, perdido sua amiga, sua única lembrança da sua terra natal?

Histórico: