No meio de todo aquele caos, o jovem solitário se destacava, ele não tirava seu olhar fixo para o chão, nem mesmo quando Atreus perdido em sua curiosidade se aproximava, de forma extravagante e sequer tendo sido chamado ele sentava e logo chamava uma das garçonetes.

Eram tantas mesas para cuidar que a moça dava um sinal que logo iria atendê-lo mas pela sua cara talvez o atendimento fosse ficar para mais tarde.

Não que as amendoins fossem o prato principal, na verdade serviam mais para incentivar o homem a falar. A luz sobre a mesa que sentavam balançava com o vento que entrava por uma fina fresta na janela de madeira.

A batida na mesa era o click necessário para que instantes depois o garoto levanta-se seu rosto, com a luz batendo de cima para baixo seu olhar ficava profundo e sua feição era séria porém não agressiva, era calma contudo vazia e seus olhos expressavam toda a escuridão que o jovem carregava.

— Você não parece ser o cara mais introvertido que eu já conheci… caçador — O garoto lentamente pegava uma maleta de couro que se apoiava na mesa, abrindo-a e retirando uma pasta com incontáveis folhas — Eu preciso que você capture essa garota… Tudo que você precisa saber sobre ela tem nesses documentos, altura, personalidade, estilo de combate, peso aproximado, última localização vista.

— Porque eu mesmo não faço isso ? Bom, meu chefe não quer que ela me veja tão cedo… e sim, isso é uma caçada não oficial — Respirava olhando à volta — Você pode levantar o ponto de que já tem dois alvos para caçar… — Pegando agora a maleta, ele a abria sobre a mesa e quando a luz ia e voltava ela mostrava o conteúdo, era dinheiro, muito dinheiro, talvez a maior quantia que Aza já teria visto —  Mas creio que nenhuma paga tão bem… certo ? Bom… capture-a com vida e a leve até essa doca — Soltando um papel com o número da doca ‘65’ — Faça seu trabalho cão da marinha — Era dizendo isso que quando Atreus voltasse seu olhar para frente, o garoto não estava mais lá.

Restando a ficha com as informações do alvo e o papel com o local de entrega… afinal de contas, o que havia sido aquilo e quem seria essa garota ?


O loop de sempre, em dado momento a moça iria se recordar da atual situação e surtar, não! Não desta vez, afinal, a garota tinha um plano, para fechar aquele ciclo de uma vez por todas, ela precisava matar esse mal pela raiz, sim, explodir a loja do Zé… um plano ousado não é ? Na verdade não para Ahmya.

Era viajando em seus pensamentos que começava sua missão, parando um senhor já mais velho que parecia ter todo o tempo do mundo para ouvi-la, algo que contrastava com sua idade avançada e os poucos minutos que ainda lhe sobravam.

Inicialmente esbugalhando os olhos e arqueando as sobrancelhas com susto e um certo medo, o velho engoliu em seco dando uma risada nervosa — Guehe..hehe, Não é meio cedo para querer fazer um atentado ? — Apreensivo da moça interpretar da forma errada e acabar sobrando para ele, o velho começava a mexer as mãos em forma de negação.

— Quando eu era jovem havia uma loja muito boa mas já não sei mais se ela estava funcionando… não! Com certeza ela está, siga-me — Sem olhar para trás ele traçava o caminho, até porque caso notasse que a garota não havia o seguido, ele provavelmente sairia correndo com suas últimas energias.

O que não acontecia, com Ahmya em seu encalço, o senhor andava com paciência pelas ruas, o que mais o assustava era uma moça tão meiga querer tais coisas e ainda falar de forma aberta.

— Aqui e-está — Apontava para a loja à frente, com uma fachada de cores mortas que contratavam com munições douradas a garota não perdia seu tempo chutando a porta e entrando, era quando o velho notava uma brecha e saia correndo.

A entrada triunfal não era nem um pouco legal para tal local e o dono atrás do balcão logo sacava um rifle, mirando-o na garota — Aqui não é lugar pra criança… De meia volta e vá embora… ou aja como um adulto — Curto e grosso o moço mantinha a mira na moça, porém com o dedo fora do gatilho.

— Você realmente quer esses itens? Pois saiba que aqui temos tudo… mas não vai ser barato… — Lá no fundo o vendedor priorizava o dinheiro que receberia no final do dia do que para quem iria vender e no fim, ele não queria perder um comprador.

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Atreus recebia mais uma caça e já tenho uma certa experiencia, era necessário ver apenas a foto do alvo que já sentia que não seria a caçada das mais fáceis.

Antes mesmo de abrir o espaço para despedidas o garoto sumia, deixando Atreus sozinho naquela mesa com um mar de papeis e informações.

Não no horário desejado, mas os amendoins chegavam e com o local mais vazio, abria espaço para a garçonete trazer a anotação com seus gastos, cem mil berries.

Aza pagava e finalizando sua pequena porção ele partia, afinal, a pressa não ficaria parada e a cada instante que demorasse ele poderia estar mais distante daquela maleta de dinheiro.

Nas ruas essa hora já mais vazias pelo horário tardio, com o sol começando a desaparecer, ele conseguia chegar no local onde Ahmya havia sido vista pela última vez.

E para a surpresa do caçador, era uma lojinha de quanto de esquina de vendia hot-dogs, sim esse era o local indicado pelo misterioso homem de antes.

Um velhinho com uma cara de rabugento começava a armar as mesas e ligar as luzes, ele preparava tudo ainda que resmungasse — Onde está minha assistente essas horas do dia? — Acendendo um cigarro, ele entrava no local se direcionando para cozinha.

Eram seis mesinhas pequenas, feitas de plásticos que se espalhavam pela calçada a frente da loja, já o interior do local era bem vazio, com um balcão para pagamento, uma porta que dava caminho para uma cozinha e uma geladeira ao lado da entrada para quem fosse comprar qualquer tipo de bebida.

Pouco a pouco as mesas iam enchendo, sobrando duas mesas sem pessoas e com o velho retornando para tirar os pedidos, ele dizia ao garoto que até agora estava de pé sem fazer nada.

— Ta fazendo nada? Venha me ajudar garoto... Tsc, eu vou demitir aquela garota... todo dia atrasada... Ande, vá fervendo as salsichas lá na cozinha.


O vendedor notava toda a loucura da garota quando mesmo com um rifle apontado para sua cabeça, ela continuava agindo naturalmente, adentrando na loja e analisando os itens.

Atrás do homem uma parede com armas para amostragem e no balcão feito de vidro a sua frente, uma coleção de armas de fogo menores além de granadas e armas brancas.

O sorriso macabro quebrava o momento de silencio com o som do dedo do vendedor indo ao gatilho, juntamente das risadas da moça, tudo ia ficando mais tenso e a fala em seguida de Ahmya era o estopim para resmungando o moço abaixar a arma.

— Então você quer explosivos, bom tirando as granadas que tenho, os explosivos são em maioria para construção civil, no caso... são bem potentes e caros — Ele dava uma curta risada ainda que não vendo a quantidade exata de dinheiro, o vendedor sabia que aquilo não seria suficiente — E acho bom você ter mais dinheiro que isso, porque com isso você no máximo vai sair daqui com uma arma....

Ele ficava em silencio ouvindo as opções que eram dadas a ele, a primeira rapidamente recusava com o mexer da cabeça, mas parava quando ouvia a segunda opção.

— Pode ser essa, mas agora quem vai ouvir as opções é você... Pois bem, eu tenho um concorrente que vem tomando meus negócios conforme a loja dele foi crescendo para mais perto do porto, por isso, eu te dou três opções — Sorria coletando algumas papeis que ficavam nas gavetas daquele balcão — A primeira é você roubar um comboio de armas que vai estar chegando para ele essa noite... A segunda é você pessoalmente matar ele, o que acho tão perigoso quanto afinal, ele vai estar numa loja cheia de armas.

— E a terceira, mas não menos importante, você pode casar comigo e ai estará tudo certo! — Com convicção ele falava aquilo, dando uma leve risada ao fim para descontrair, mas sem exagerar, pois... havia verdade naquela fala.

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Notando o interesse de Atreus na oportunidade de emprego, o velhote jogava um avental nele, assim suspirando e continuando suas reclamações — Ela é uma garota de estatura mediana, meio maluca da cabeça e da pra notar em seu rosto que ela não gosta de trabalhar aqui.

— Seu corpo pequeno também dificulta no trabalho, não que seja muito difícil carregar pratos e lava-los, mas você sabe, toda mulher faz manha para não trabalhar Guehehehe...

Apontando para a pia cheia de louças o velho soltava um s bolo de dinheiro sobre uma das bancadas da cozinha — Cem mil berries pela noite... agora pare de falar e comece a trabalhar... o mundo é capitalista garoto.

Antes de lavar o mar de pratos, Atreus se agilizava botando as salsichas na panela e logo começando a ferve-las, partindo então para os pratos, que um a um eram limpos.

Voltando com alguns pedidos, o velho começava a pegar os ingredientes para fazer o molho, quando o garoto se metia e dado sua idade o velho não era bobo — Já que está tão entusiasmado, faça o molho, eu vou lavar os pratos que restaram.

Trocando de objetivos, Aza tomava conta do preparo dos ingredientes, o velhote nesse momento acabava de limpar os pratos e partia para fora, acendendo um cigarro, dando a liberdade para que a mente criativa de Atreus aflorasse.

O hot dog com a assinatura do garoto era montado e quando o dono da loja retornava para levar os pedidos, ele provava o primeiro, seus olhos enchiam de lagrimas e ele dizia — Isso está maravilhoso nem parece aquela merda que a garota fazia quando passava o preparo para ela, achei que você só queria meu dinheiro, mas vejo que leva jeito para a cozinha.

Partindo com os pedidos, os próximos minutos eram bem tumultuados, a banca crescia no numero de mesas e algumas pessoas sentavam-se na calçada ou até mesmo no chão, o hot dog estava maravilhoso.

— Ta tudo certo continue assim... Vou demitir imediatamente Ahmya quando ela voltar... o que não deve demorar, aquela garota sempre volta.


O velho ia perdendo aquele rosto sério conforme as bochechas de Ahmya se avermelhavam — Guahahahaha... ta vendo? Você me achou atraente, só não quer admitir, seu rosto alá pimentão entrega tudo boneca... Guahahha.

— Aqui — Dizia o vendedor soltando um papel sobre a mesa — Esse é o endereço da loja — Voltava os olhos para o relógio preso na parede e então continuava — Se você for agora deve pega-lo fechando a loja, sorte a sua.

Pegando as armas que havia solicitado, faltando a missão para conseguir as bombas, Ahmya ia se animando e logo partindo de lá.

Indo em direção ao destino, ela se deparava com uma pequena loja, um velhinho a frente que mal conseguia se manter de pé, usando de uma bengala de apoio fechava a porta principal.

Ouvindo as maluquices que ela falava, ele sorria para a moça — O “Boss” sou eu mocinha... pode falar, mas não estenda muito a conversa... eu tenho que ir buscar minha neta no parque...

— A remessa? Ah ela acabou atrasando, vai chegar só amanhã... — Sorrindo envergonhado pela notícia, o velhinho completava — Que pena, deve ter feito um longo caminho para chegar até aqui não é mesmo? — Tirava do bolso uma balinha de chocolate — Aqui está... se ao menos isso for suficiente.

— Gostaria de falar mais alguma coisa? Que tal... que ir comigo buscar minha neta? As noites estão perigosas e uma proteção cairia bem... — Sem aguardar pela resposta, a curtos e lentos passos ele ia se afastando de Ahmya, tomando seu rumo para o parque que havia comentado.

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Não era nem um pouco justo aquela proposta do velho, mas quando o tal mundo capitalista um dia teria sido justo? Fato era, as coisas corriam bem e por mais que existisse os momentos de caos dentro de uma cozinha, nada que fosse desesperador.

Ao fim do expediente, Atreus podia relaxar, logo fazendo sua barganha, mas não parecia ter efeito, já que minutos depois o velho voltava do caixa entregando-o uma bolsa de couro com cem mil berries.

— Eu até poderia te pagar mais..., porém preciso guardar dinheiro para rescindir com a garota, decimo terceiro e essas coisas, você sabe como é...

Resmungando ele acendia um cigarro — Talvez ela não volte, ontem ela saiu bem irritada daqui..., mas maluca do jeito que é, não duvido que ela apareça querendo cobrar o que tem de direito.

Soltando a fumaça o velho continuava conforme começava a varrer a calçada — Onde você aprendeu essas habilidades gastronômicas? E garoto, se for do seu interesse, posso aumentar seu salário para duzentos mil o expediente, mais comida e transporte... Os clientes gostaram das suas habilidades.

Ele acabava de varrer, guardando a vassoura e fechando então a lojinha — Se quiser... pode até demitir a garota por mim, o lugar onde ela mora fica aqui — Entregava um papel com uma localização no subúrbio da ilha.

— Espero te ver amanhã — Com essas palavras, ele partia sem aguardar por respostas.


— Do que você está falando mocinha? Gohohoho — Continuava caminhando a passos lentos, rindo de olhos quase fechados o velho ao fim tossia, voltando ao silencio de antes.

A inocência demonstrada era o necessário para que Ahmya decidisse o caminho pelo qual caminharia, passando por uma rua vazia e bem escura, com postes de luz piscando, ela encontrava uma brecha.

O plano era tão bem pensado que o velho não tinha tempo de reação, era pego pelo chute e em seguida agarrado, sendo preso contra a parede, o sorriso gentil continuava enquanto a moça falava.

Mas subitamente a expressão mudava, um olhar sério e nem um pouco convidativo fixava sobre Ahmya, no mesmo instante tudo a volta do velho começava a pegar fogo, chegando até mesmo a queimar a mão da garota.


Que movida pelos seus instintos primitivos soltava o velhinho, assim dando alguns passos para trás, saindo da zona de perigo do fogo.

Ele se mantinha sério, olhando-a e empurrando o kimono que cobria seu corpo, uma katana estava presa sobre sua cintura, ao encostar nela, o fogo se espalhava e ela entrava em chamas.


Ele olhava a frente, analisando-a para ver o que a garota faria — Você mexeu com o velho errado... esse velho aqui tem uma netinha para buscar e você está me atrasando!!

— Quem te contratou?! Diga imediatamente ou matarei você no lugar dele — Dizia ponderando sobre sacar ou não a katana que segurava.

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