Havia algo na arquitetura do prédio que o entristecia profundamente, e Morgan sabia exatamente o que o afligia; era tanto minimalismo, tanta impessoalidade e falta de caráter. As sedes do governo eram sempre padronizadas e desgostosas, evidentemente para transmitir a sensação de unidade e supremacia que seus líderes ansiavam em reforçar. Para Morgan, no entanto, aquela perspectiva excessivamente sóbria afastava em demasia, principalmente em ideologia, aqueles a quem eles mais deveriam tentar se aproximar: o povo.
Calil parecia se encaixar perfeitamente à proposta da agência. Quase como se fizesse parte do conjunto geral, a sua aparência remetia à ideia de dedicação excessiva ao trabalho e devoção plena perante os assuntos da organização. Parecia exausto sob uma primeira perspectiva, sustentando olhares cansados e trejeitos de alguém que já havia morrido por dentro; mas igualmente detinha um ar de seriedade e experiência típicos a quem servia à Cipher Pol por anos demais.
Morgan se limitou a curvar-se em resposta, fazendo do seu silêncio a única mensagem que estaria disposto a passar inicialmente. À atendente ele dedicou um sorriso ligeiro, agradecido pela recepção prestativa, e não tardou em seguir seu superior pelas escadas espiraladas que se contorciam em direção ao andar superior.
Mantendo-se calado por todo o trajeto, o agente deitava seu olhar analítico sobre a decoração imparcial e vislumbrava cômodos demais para pessoas de menos. Certamente, ele ponderou, a estrutura havia sido programada para receber várias faces, mas não havia transeuntes vivos circulando pelo local. A base operacional era quase assombrosa quando vista por dentro, repleta de móveis cuja assinatura estética poderia ser atribuída a qualquer um. Não havia graça nem originalidade, muito menos razão para felicidade naquele recinto.
O cômodo que abrigava Calil era igualmente deprimente, embora sutilmente mais sofisticado que o restante da construção. Ornado com mais do mesmo, havia o mesmo tom minimalista e sem vida já habitual aos cães do governo, como se a composição do ambiente tivesse saído diretamente de uma revista genérica de arquitetura. Morgan quase sentiu pena de Calil, aparentemente fadado a viver enfurnado naquela decadência por toda a vida.
Seu tom de voz, no entanto, demonstrava algum pouco vigor, e Morgan imediatamente voltou sua atenção às palavras que lhe eram direcionadas. Dispensou educadamente as balas oferecidas pelo homem, agradecendo a gentileza com um aceno de cabeça, sem desviar a concentração das informações que, com ele, eram compartilhadas. Mantendo a postura ereta e a expressão serena, braços cruzados por detrás do corpo, ele ouvia os detalhes de sua missão com uma diligência de milhões.
Com o dossiê do seu alvo em mãos, Morozova não tardou em iniciar o seu trabalho. Inclinando-se numa mesura respeitosa, ele se retirou silenciosamente das acomodações de Calil, respeitando a hierarquia e a boa etiqueta, e moveu-se ligeiro em direção à saída do grande prédio. Atravessou o grande hall sem grandes frivolidades, limitando-se a menear a cabeça positivamente, num gesto de cumprimento rápido, caso cruzasse com mais alguém.
Dessa forma, uma vez que tivesse alcançado as ruas borbulhantes de Arosa, ele se encaminharia diretamente à forja mencionada por Calil. Sendo ela filiada ao Governo Mundial, o rapaz deduziu que, provavelmente, não precisaria pagar pelos materiais que por ventura viesse a adquirir; uma mordomia típica da organização que sempre lhe facilitava a vida. Percorreria as veias pulsantes do grande corpo que era a cidade, eventualmente interceptando algum estranho que pudesse orientá-lo em sua busca inicial, abrindo sorrisos afetivos a fim de causar uma boa primeira impressão.
Outrossim, caso encontrasse o estabelecimento de sua busca, Morgan se precipitaria para o seu interior discretamente, assumindo uma postura solicita enquanto direcionar-se-ia a quem pudesse atendê-lo por ali. Deixaria que seus sentidos vagassem pelo ambiente em busca de detalhes, procurando sugestões de perigo ou meramente algo que lhe despertasse a atenção. Sendo recepcionado, ele logo falaria:
–
Saudações! Meu nome é Morgan Morozova, novo funcionário do Governo aqui na ilha. – Apresentar-se-ia solene, intencionalmente suprimindo a palavra
agente da comunicação. Sabia que a Cipher Pol poderia não ter estima suficiente nas redondezas para servir-lhe como bom álibi, portanto estava disposto a usar da própria personalidade e presença como forma de ser benquisto pela população. –
Me foi informado que eu poderia conseguir uma arma neste local. Gostaria de dar uma olhada em alguns chicotes ou, caso seja uma possibilidade, seria uma maravilha se eu pudesse, eu mesmo, confeccionar um ao meu gosto, usando seus materiais. Não obstante, se por ventura Morgan não chegasse a encontrar a forja que procurava, ele se aventuraria pelas redondezas de mãos limpas, usando o dossiê em sua posse para realizar a missão que lhe fora incumbida. Haveria de encontrar o comerciante e com ele tratar de forma pacífica, e embora Morgan preferisse ir armado a tal evento, não seria a falta de um chicote que o impediria de realizar o seu dever.
「 C O N S I D E R A Ç Õ E S 」
✧ nada a declarar.
「 H I S T Ó R I C O 」
✧ post: 03.
✧ capital: ฿ 250.000.
✧ ganhos:
- n/a.
✧ perdas:
- n/a.
✧ ferimentos:
- n/a.
「 O B J E T I V O S 」
✧ realizar 3 missões;
✧ treinar qualidade ambidestria;
✧ fabricar uma arma.