A nuvem de poeira impedia qualquer visibilidade além de um palmo a frente, Niyah sentia sua garganta seca e seus olhos lacrimejavam com a sensibilidade afetada, destarte, ainda havia sua audição. Quando um sentido está impossibilitado, outro torna-se afiado, o ditado era verdadeiro, quando tinha apenas seus ouvidos, a mink conseguia ouvir o gemido baixo da criança, quase como um choro vindo do lado direito.

Sua aproximação foi lenta, mas suas mãos tocaram na vítima, que acordava com aquele barulho, ela gemia de dor, não entendendo o que estava acontecendo, tem que se dizer, que Niyah também escutava uma respiração ofegante vindo do fundo da caverna, seu algoz ainda estava vivo e parecia se levantar.

Os braços magros da garota agarravam o pescoço da mink, que sentia suas costas encurvar, como um tronco seco preste a partir, cada nervo emitia uma dor pelo seu corpo, que por pouco não a fez retirar o pouco que lhe restava no estômago para fora.

Sua voz feminina acalmou a menina, que apertou ainda mais seus dedos na roupa da gatuna, que ouvia o tritão ao fundo em pé, pois, cada passo dele levantava e aumentava a poeira. Foi então, que a primeira estalactite caiu, como um trovão, fazendo a garota tremer de medo, havia um caminho a percorrer e precisava ser feito com pressa.

A luz que indicava a saída se perdia naquele turbilhão de fumaça e poeira, aumentando ainda mais quando o segundo estalactite caiu próximo a dupla, que agora, estava em pé, o chão tremia tanto que era difícil manter o equilíbrio, Niyah agora tinha se apressar, ou poderia ser agarrada, soterrada ou esmagada pela situação.

Havia a possibilidade de correr e deixar a criança para sua sorte, a viver com isso? Ajudá-la lhe custaria tempo, mas pelo que se lembrava da saia, teria que manter um ritmo que causaria grande dor em seu corpo e talvez não fosse o suficiente. Tudo iria depender da sua força de vontade, seria tudo muito pesado para aguentar? Aquele era o mundo real, estaria a mink fadada a fracassar ali?

Histórico:

A garotinha não tinha força para correr em uma velocidade que fosse aceitável para a situação, não foram poucas as vezes que ela cambaleou e caiu, precisando da ajuda da mink para se erguer. Todas aquelas paradas atrasou em muito o avanço, de modo que, o inimigo estava próximo, era possível ouvir sua respiração pesada ao fundo, alguns metros atrás apenas.

Niyah resolveu colocar a garota em suas costas, a dor foi enorme, cada passada era como se estivesse enfiando agulhas em sua nuca, apesar da dor, ela conseguia chegar aos corredores, suas pernas vacilavam, sentia seus joelhos tremerem e por pouco não cediam ao solo, sua garganta parecia um deserto, respirar era uma tarefa complicada, a poeira tinha impregnado em sua língua, ficando na textura de uma lixa, seus olhos lacrimejavam e ainda havia a sensação do algoz ao fundo, seguindo-a, agora, mais próximo.

Não sabe dizer como, prestes a desistir, seja pela dor em seu corpo ou pela força ter lhe abandonado, uma brisa refrescante acertou seu rosto, empurrando seus cabelos para os lados, o cheiro de terra, algo que ela não sentia durante a sua rotina, agora, era o melhor odor que já tinha farejador, uma luz distante indicava a saída, bastava seguir até lá.

Ao mesmo tão perto, cada passada era tarefa herculana, tudo parecia desmoronar ao seu lado, barulhos de pedras caindo, a visão embaçada, a sede, as dores, tudo isso parecia tomar conta de Niyah, que se mantinha erguida somente pela força de vontade, em suas costas, uma vítima que estava agarrada nela, como uma mochila, ela tremia de medo, isso era sentido pela mink, que não podia vacilar.

Agora, estava mais próximo da saída, conseguia até ver o cenário lá fora, mas o destino ainda lhe guardava um último teste. Sem conseguir se defender, num último sprint, o tubarão correu desenfreado para frente, talvez fosse seu instinto de sobrevivência, seu corpo estava coberto de poeira, nisso, ele atropelou a dupla, não era sua intenção, mas aquilo talvez tivesse salvado a vida delas.

Tudo ficou escuro, Niyah ficou desacordada por alguns segundos, quando abriu seus olhos, viu o sol acima de sua cabeça, um estrondo alto ecoou por toda a floresta, fazendo aves voarem para longe. Olhando para o lado, podia ver a garotinha caida perto de si, alguns metros para a direita, o tubarão estava lá, com diversos ferimentos pelo corpo, mas ele se erguia novamente, seus olhos selvagens cravaram na menina, que mesmo no seu estado, teria que escolher, fugir e tentar se salvar ou apostar sua vida para salvar a de uma estranha.

Histórico:

O mundo ainda girava, zonza e confusa, a garota sabia que aquele momento era perigoso, seu corpo estava fraco, sentia seus joelhos tremendo, sua respiração ofegante e falha não escondia sua situação precária. A sua frente, seu inmigo, um sujeito pesado, forte e feroz, saindo da cortina de poeira, ele fechava seus olhos negros, sem qualquer parte branca na garota, sua gengiva se movia de forma estranha, mostrando uma segunda camada de dentes.

A corrida da dupla começou ao mesmo tempo, passadas largas colocavam o tubarão em vantagem, seu corpo pesado balançava, fraquejando até o fatídico encontro. Ele tentou socar com seu punho, mas usou força demais, a garota se movia de forma ligeira, suas mãos agarraram o cabo da sua adaga presa no corpo do tritão, que urrou de dor, ao sentir a força da lâmina cortando ainda mais sua carne.

Em total desespero, conseguiu agarrar a garota pelos ombros, ergueu até próximo a sua boca e mordeu com força em seu ombro, cravando os dentes na carne, sentia o gosto do sangue em sua língua, a menina praticamente perdia os sentidos pela dor, seus olhos se enchiam de lágrimas tamanha dor, parecia o fim, a próxima mordida seria no rosto.

Contudo, não houve mordida, se ouvia o barulho de algo gosmento caindo no chão, como um monte de pano molhado, os olhos do tritão perdiam o brilho, Niyah usou o que restava de sua força, para rasgar todo o tronco do seu inimigo e quando foi erguida, abriu outro talho enorme, o estômago então saltava para fora, o tritão caia de joelhos, a mink sentia seus ombros serem soltos e seus pés tocaram o chão, com o corpo do inimigo ao lado, engasgando no próprio sangue, ele deu um último suspiro e se foi.

Todavia, a vitória tinha um custo, seu ombro direito estava dilacerado, sangrava por vários furos profundos, por pouco, não perdeu ele de vez, apesar do sol sobre sua cabeça, começou a sentir um frio estranho, fazendo-a tremer, bater até mesmo queixo, sua visão ficou embaçada, talvez fosse delírio, mas próximo a floresta, bem perto da árvore onde ela tinha ficado de vigia, viu uma mancha negra, as figuras se moviam, eram pelo menos sete, não, poderia ser mais, não houve muito tempo, seus olhos se fecharam e ela apagou.

Alguns dias depois …

Havia conversa vindo do outro cômodo, risadas, uma música lenta, alguns xingamentos, quando abrisse seus olhos, Niyah não iria reconhecer onde estava, seu ombro estava completamente enfaixado, assim como seu torso inteiro, indo até próximo ao umbigo, seu corpo doía bastante. Havia uma cômoda próximo a cabeceira da cama, um copo com água pela metade estava lá.

O Quarto era bem simples, havia sua cama, uma janela que mostrava pouco do lado de fora, estava de noite, podia ver estrelas de onde estava, duas cobertas cobriam suas pernas, ali, próximo ao seu pé, podia ver roupas novas, simples, uma calça de moletom cinza e uma camisa branca, a sua adaga estava lá também. Dito isto, poderia ficar ali deitada esperando alguém abrir a porta ou sair para ver onde estavam, cabia a ela entender o que devia ser feito, levando em conta seu estado atual.

Histórico:

Seus pés sentiram o piso de madeira gélido, seu corpo arrepiou no mesmo instante, mas foi bom sentir algo que não seja dor. Vestiu suas roupas, a camisa teve dificuldade, seu ombro não se mexia, se tentasse, uma dor aguda iria percorrer seu corpo, dando-lhe ânsia de vomita e lagrimas aos olhos. Contudo, se vestiu de forma simples, corajosa ou devo dizer, curiosa, abriu a porta do quarto onde estava somente para ver o local onde estava.

Seus olhos viram uma mesa grande, havia dois homens e duas mulheres jogando cartas, uma garrafa de vinho pela metade estava sobre a mesa, havia também pratos com pedaços de carne, milho cozido e algumas frutas (maças, peras, banana), tocava uma musica ambiente agradável, não havia clima de hostilidade, exceto, por uma caveira com galhadas pendurada na parede. Além da mesa, havia um sofa em forma de "L" no canto, onde uma pessoa pequena parecia dormir, estava de costas, por isso, Niyah não conseguiu ver seu rosto. Todos na mesa se viraram para a figura dela na porta.

A gatuna metralhou diversas perguntas, um dos homens riu, mostrando um dente de ouro no lugar da presa esquerda, mas quem respondeu foi uma mulher de pele branca, olhos afiados, queixo fino e cabelos dourados - Aqui é o sede dos Caçadores da região - ela apontava para a caveira pendura, onde havia um símbolo cravado na testa do animal - Nós chamam de "Galhadas" - disse, ficando em pé -  Você dormiu por 2 dias, a garota está no sofá, descansando também, ela cuidou bem de você - a mulher caminhou até um baú e pegou um saco - Disse que você à salvou, como uma heroína - completou, jogando o saco na ponta da mesa onde Niyah estava.

A moça continuou, sentando-se novamente - Ai está o preço pela cabeça do seu alvo, o tritão era conhecido como "Martros", havia uma recompensa de 5 milhões pela sua cabeça - se Niyah abrisse o saco, veria alguns bolos de dinheiro e o cartaz do tritão que ela havia mandado para o inferno - Somos filiados à Marinha, enquanto você dormia, mandamos os relatos e confirmaram a caçada, o dinheiro é seu, como de direito - ela bebia um gole de vinho - Obrigado por cuidar da nossa área - todos levantavam os copos em sinal de agradecimento e brindavam - Agora tente comer algo, deve estar faminta - Assim, a caçadora, pode se dizer, podia comer o que estava na mesa e beber vinho, se quisesse, poderia tirar o restante das dúvidas, afinal, ali estava um grupo que teria muitas respostas.

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O grupo observava Niyah simplesmente devorar tudo que era posto a sua frente, como um pequeno animalzinho, migalhas de pão caiam em seu colo e pedaços de milho triturados pelos seus dentes ficavam no canto de sua boca, era previsível, seu estomago estava vazio, como uma despensa com teias de aranha, os demais riam, era comum, eles também já passaram e ainda passam por situações parecidas, desmaiar depois de uma caçada difícil, era algo comum.

A garota agradecia a hospitalidade e não se importava em perguntar algumas coisas, mesmo não gostando das presenças masculinas, era possível notar que quem comandava era uma mulher e foi ela quem respondeu - Sim, esse nome é relativamente famoso no East Blue ... O tritão que você matou era um dos aliados dele, existem vários nessa região, uma teia de condenados, provavelmente a garotinha ali teria o destino que você teve, quando mais jovem - completou, enquanto enchia mais um pouco sua garrafa de vinho - Você já é uma caçadora, registramos seu nome da captura do tritão que mandamos para a Marinha - ela retirava um broche de galhada - Isso é para lembrar de nós e se precisar de ajuda ... Agora basta continuar limpando o mundo dessas pessoas ruins - ao concluir, todos brindavam pela nova caçadora e pela morte de um escroto.

Continuaram a comer, Niyah pensava sobre seu futuro, entendia que precisava seguir e encontrar seu algoz, por isso, perguntou sobre algum barco saindo da ilha - Você tem sorte, o pai da garotinha aqui, é um mercador relativamente bem sucedido em Polestar, ele irá chegar em 2 dias para buscar ela - A mulher se virava e olhava a figura encolhida - Ela foi capturada numa viagem nos barcos do pai, um ataque pirata, por sorte, você a salvou ... se pedir, ele pode te levar até lá de graça, afinal, ele te deve um grande favor - A sorte sorria para a pequena mink, além de ganhar um dinheiro inesperado, virava oficialmente uma caçadora e agora poderia seguir para a ultima ilha do East Blue.

A noite seria fria, Niyah poderia terminar de jantar e logo sentiria dores em seu corpo, precisava repousar por mais alguns dias, o barco chegaria somente em dois, quando o dia amanhecesse, poderia conversar com a garotinha, que estaria acordada no sofá, lendo um livro sobre uma princesa raptada, bem incomum, para uma garota da idade dela.

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A garota rapidamente fecho o livro que estava lendo quando notou a presença de Niyah, suas bochechas coraram e sua postura ficou mais rigida - Eu me chamo Olivya - disse com voz baixa, quase sussurrando - É ... obrigado por me salvar - completou, abaixando sua cabeça em agradecimento, um gesto comum. A gatuna sabia que no fundo, sua meta era monetario, mas seus valores foram colocados em jogo e ela se saiu muito bem, venceu o vilão e salvou o dia, por isso, podia colocar a cabeça tranquilamente no seu travesseiro - Sim, papai virá me buscar, eu vou pedir para ele te levar com a gente - Não teria problema, Niyah iria sair da ilha no dia seguinte, era hora de trilhar seu próprio caminho.

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