NARRAÇÃO

A vida é feita de escolhas e é fato dizer que nosso destino é formado por cada uma delas. Em diversas obras de ficção temos a oportunidade de presenciar a importância de cada decisão, desde a escolha de Sofia até as pílulas coloridas em Matrix. Tensei estava em um desses momentos, posto que possuía um objetivo e para alcançá-lo precisaria fazer uma boa rota. Fugindo do óbvio, ele escolheu o mais seguro: usar o colírio.

A irritação na vista diminuiu quase que instantaneamente, revelando ser uma característica mais emocional do que verdadeiramente física, embora um terceiro olho parecesse deveras incômodo, principalmente com os cabelos o cobrindo quase que constantemente. Somente após estar devidamente preparado, pôde enfim escolher corretamente. A opção foi o caminho mais movimentado ou também conhecido como “escondido à plena vista”. A maneira mais fácil de passar despercebido era estando em evidência, caminho este completamente diferente dos becos desertos.

Como idealizado, o trajeto ocorreu sem problemas. Tirando a cor dos cabelos, nada demais chamava a atenção pois a franja tampava seu terceiro olho. E assim passou pelas pessoas, percebendo que a multidão se dava por um festival que ocorria e no porto. Um tipo de festa ao ar livre feito para movimentar a economia local ao trazer marinheiros e passageiros de embarcações para a ilha e forçá-los a gastar os berris. Ironicamente, Tensei havia preparado comida no restaurante, contudo, ele próprio não havia comido e após um dia trabalhoso, cansativo e agitado, ele estava com fome e com sono. Os marinheiros não pareciam estar buscando por algum suspeito diretamente. Pelo visto, estavam ali apenas para coibir roubos e passar sensação de segurança aos frequentadores. Na feira, havia praticamente tudo que se possa imaginar. Barracas de comidas exóticas, acessórios, jóias, armas, decorações, bebidas, etc. Os hotéis estavam preparados para receber os turistas e até alguns moradores ofereciam seus quartos vagos por um valor baixo como fonte de renda extra.

Tensei:

NARRAÇÃO

Um festival lindo e bem arrumado poderia aquecer os corações mais frios e tristes. A animação dos presentes e a variedade de culturas também eram dignos de satisfação, mas Tensei não era assim. Ele se incomodava com a felicidade alheia, sua vida suja lhe deu uma visão distorcida do que era ser feliz e isso mexia com sua cabeça psicótica. Alheio ao festival, reduziu suas vontades às necessidades básicas: transar, comer e dormir.

Não necessariamente bonito e pouco atraente, ele não teve sorte flertando e foi ignorado brutalmente em todas as tentativas, algumas até ríspidas demais. Falavam frases pesadas como “se enxerga!”, “sai daqui, seu pobre”, “você nem deveria estar entre nós, ridículo” e por aí vai. O homem de cabelos roxos não deu muita atenção e tampouco pareceu se incomodar naquele momento específico pois as outras vontades podiam ser sanadas, então deu preferência para elas.

Exigente na hora de comer, rodou alguns minutos até finalmente encontrar algo que o agradasse. O valor era 20 mil berri, o qual ele pagou e comeu até satisfazer sua fome. Em seguida, buscou abrigo e encontrou uma casa humilde com um casal por volta dos 50 anos oferecendo hospedagem pelo valor simples de 50 mil por noite. O chef aceitou a proposta e foi dormir. Sem perceber, estava em um local seguro o qual sequer merecia após tirar duas vidas por nada, mas a vida era feita de injustiças e assim o cozinheiro dormiu como há muito tempo não o fazia.

BOOOOOOM!

Explosão e gritaria. Tensei acabou de acordar, ainda tonto, porém, conseguia ouvir o desespero das pessoas fora do quarto. Algo grande estava acontecendo e o medo das pessoas aquecia seu coração nefasto e corrompido. Pela janela ele podia ver marinheiros indo em direção ao mar e o semblante raivoso das pessoas que observaram o que tinha acontecido. O casal estava abraçado preocupado, pareciam boas pessoas, pois até café-da-manhã tinham preparado para os clientes. O que Tensei fará agora?

Tensei:

NARRAÇÃO

- QUE PORRA!!! -

Não existe expressão melhor para descrever a sensação que Tensei sentiu ao acordar com aquela bagunça toda. Para uma pessoa sádica, a sensação de causar dor também envolvia um certo nível de controle sobre a vítima. Não era apenas ferir e sim saber que foi você quem o fez. Para uma pessoa ligada diretamente à uma situação controlada, acordar no meio de uma bagunça parecia aterrorizante. A ausência de controle da situação não era algo amigável ao sádico e para o chef não era diferente. Por conseguinte, não perdia tempo em se levantar e ir para o centro do furacão a fim de entender o cenário.

Despediu-se do casal que o abrigou por uma quantia leve de berris tão curioso que até poupou as suas vidas. No caminho, procurou por pessoas indo no sentido oposto tentando entender o que estava acontecendo, mas quem viu, parecia não acreditar e falava coisas sem sentido como “monstro com garras”. O cozinheiro conseguia sentir o desespero alheio, podendo até ter ereções de tão forte que eram. No meio de todas aquelas pessoas, finalmente uma parecia menos desesperada do que as outras e falou sobre um monstro que estava assassinando as pessoas perto dos barcos.

O chef moveu-se em direção a bagunça e finalmente foi capaz de presenciar uma cena complexa demais para ser crível sem fotos. Um urso pelado, não, um homem com máscara, botas de urso e máscara? Talvez? Não… Parecia real demais para ser um simples enfeite. Aquele ser estava em um barco matando pessoas e marinheiros ao seu bel prazer. O homem de três olhos conseguia notar que quanto mais tempo passava, mais aquela outra aberração ficava cercada no porto. Como ele irá lidar com a situação?

Tensei: