Lá fora, a trindade de equinos trotava em um ritmo repetitivo. O mink tentou deduzir o caminho que percorriam através das parcas informações que conseguia captar através dos seus sentidos, mas não demorou para que entendesse que o seu destino estava aquém de qualquer lugar que já havia conhecido. Sentia-se vulnerável naquela situação, mas mantinha a serenidade emoldurada em seu semblante bonito.
– Também não me vejo sendo capacho da Marrinha, muito menos do Governo. – Explicou, o que não era mentira. Liebe não nutria afeição alguma pelo status quo vigente da sociedade, ao mesmo tempo em que era perfeitamente ciente de quem o mantinha operante. Decerto não seria difícil para alguém como ele progredir no berço do Estado, mas mesmo Liebe não ousava encarar a podridão institucionalizada e dissimulada do establishment. – Ao menos, no submundo, as pessoas não escondem o que verdadeirramente são. É um tabuleirro mais limpo, não concorda?
A conversa, no entanto, não demorou para encontrar novos ares, e Liebe se manteve em silêncio enquanto ouvia Sally dissertar as suas desventuras. Mantinha no rosto uma expressão impassível, mas por dentro ele se compadeceu verdadeiramente com a trajetória da ex-escrava, enxergando nela traços de sua própria história; feito escravo após a morte precoce dos seus genitores, ele também foi propriedade de outrem durante boa parte de sua existência. Detinha mágoas à luz da verdade, mas fora igualmente nos ensinamentos da época que sua individualidade se forjou – cheio de bons modos e de sotaque carregado, fingindo não ser um sujeito oportunista quando lhe convinha.
– O destino não foi gentil contigo, ma chère, mas é deverras fascinante que tenha dado a volta por cima de forma tão magestrral. – Comentou ao fim do relato, permitindo que uma sombra de cumplicidade surgisse em seu olhar. Pela garota, um novo sentimento surgiu em seu âmago, algo que ele interpretou como admiração.
Chegaram ao local combinado não muito tempo depois. Liebe seguiu sua anfitriã para dentro da construção de concreto, observando os detalhes do que parecia ser uma oficina. Notou a discrição da mulher ao apresentar o que deveria ser o seu cartão de identificação, e manteve-se ao lado dela enquanto serpenteavam através de ferramentas, peças de carruagens e escadas, até finalmente acessarem o ambiente tão aguardado: o ringue.
Seus olhos estudaram o ambiente, correndo da jaula para os presentes, avaliando cada pequeno detalhe com seus olhos afiados. Sua audição, ele percebeu, parecia estar sendo afetada pela onda de gritos sobrepostos, a excitação escancarada na face da burguesia ao vivenciar a luta que se desenrolava na gaiola de metal. Alucinados, eles urravam como animais, e Liebe não conseguiu sentir outra coisa para além do nojo frente à falta de civilização. Às vezes, mesmo ele perdia a fé nas arapucas em que se metia.
– Quando lutarrei, mademoiselle Sally? – Inquiria quando surgisse a oportunidade. – Já sabemos quem serrá meu adversárrio?
「 C O N S I D E R A Ç Õ E S 」
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「 H I S T Ó R I C O 」
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