[TUTORIAL] - Mizzu

~ Uhrgg...Uhurg ~ Engasguei e em seguida a mesma saliva que me engasgava, ia a minha boca e depois voltava a minha garganta, me engasgando novamente. Tal ação gerava uma reação, e só aí percebi que deitado esse empecilho apenas continuaria, então me levantei.

Não de pé, mas também não deitado, sentado ainda eu apenas levantava meu tórax para melhorar a descida do refluxo em meu estômago. ~ Caralho, que morri! ~ Uma tamanha hipérbole era gerada ali, eu nunca iria morrer por apenas me engasgar com o próprio cuspe, mas vocês sabem né… O que seria de um homem sem seu drama.

Sentado às margens de um rio, eu aos poucos ia lembrando de como eu havia ido parar ali, e juntamente com lembranças, fortes dores de cabeça chegavam, e isso não me agradava nem um pouco. ~ Bebi demais ontem! Maldita ressaca ~ Logo em seguida eu percebi que estava falando comigo mesmo, criando uma grande neurose em minha mente. “Mas que porra, além de me acordar no meio do nada, agora eu também estou falando só?” Pensei, e ainda sentado puxei um maço de cigarro do bolso, isso me aliviava um pouco, saber que não havia sido roubado, ou melhor, saber que meu cigarro ainda estava sob minha posse.

Com a mão direita eu posicionava uma unidade daquele cigarro entre meus dedos indicador e médio, levando a boca para assim com o isqueiro acendê-lo. “Ahhh… Só assim para essas dores sumirem!” Pensava sobre as dores de cabeça que a ressaca trazia, mas a fragrância da nicotina que entrava em meus pulmões me dava um alívio que fazer tais dores sumirem.

Sentado às margens de um rio qualquer, eu recolhia as pernas e quase em uma posição de meditação eu fumava um cigarro ali, me desafiando a sair apenas quando o mesmo acabasse.  

EU não entendia o que estava acontecendo, deitado em um chão que não sabia se estava frio ou quente, minha cabeça naquele momento só girava, e foi por isso que com umas engasgada eu havia acordado no meio do nada, nada devido a eu não estar raciocinando muito bem naquela hora.

Aos poucos eu ia me levantando, sem muito prestar atenção ao meu redor, eu me sentava ali mesmo, e a única coisa que vinha em minha cabeça era dor, dor esa que se parecia quando a vontade de fumar começava a se apossar do meu corpo, e era isso que me fazia procurar meus cigarros e o isqueiro para saciar esse vício, mas ai que estava o problema, eu não os achava.

“Maldição, será que me roubaram ontem no bar?!” Pensei enquanto me erguia do chão pressionando a minha mão sobre o joelho e me levantando aos poucos. A minha pressão poderia estar um pouco baixa, ou apenas foi devido a circulação do sangue ainda estar acostumada comigo deitado, fazendo eu ter umas certas tonturas enquanto me levantava, mas nada que me fizesse cair.

Batia um pouco as roupas, estava trajado com um belo de um terno, porém aquele chão poderia tê-lo melado de alguma forma, e isso me irritaria um pouco, e foi nessas batidas que eu percebia que mais uma coisa havia sido extraviada de mim, meu humilde revólver calibre 38. ~ Porra! ~ Dei um mero grito, transparecia um pouco a raiva que senti quando percebi que o objeto não estava mais comigo, mas aos poucos me acalmava, levando a mão a cabeça enquanto ajeitava meus cabelos bagunçados, missão essa que era quase impossível.

Agora com as mãos nos bolsos da calça, eu começava a caminhar lentamente pelas ruas daquela ilha, não conhecia muito a mesma, porém se eu ficasse parado ali não me ajudaria muito, e em meio a tudo isso a dor que eu sentia na cabeça não parava, me fazendo ter que realizar o que eu mais odiava na vida, pedir cigarros emprestados.

~ Você pode me dar um?! ~ Com um belo de um sorriso simpático de quem acabou de acordar com olhos remelados, eu enquanto caminhava procuraria achar alguém que estivesse fumando, ou alguém que eu percebesse que fosse um fumante, para pedir um cigarro, o vício já estava forte, e a abstinência só me deixava mais inquieto.
 

O sol brilhava sobre os arranha-céus de Sirarossa naquela manhã. Os comerciantes começavam a abrir as suas janelas para que entrassem aquela dose de ar necessária e assim permitissem um ambiente bem arejado, eles também alternavam a condição da placa de "Fechado" para "Aberto" e assim davam início as suas atividades diárias. Funcionários dos hotéis da vizinhança batiam na varanda tapetes, muito provavelmente para deixar os quartos com cara de arrumado para receberem os novos viajantes que surgissem. Um ferreiro forjava uma arma em sua tenda ao céu aberto já há algum tempo, bem antes do sol nascer. Suas batidas eram fortes o suficiente para provocar faíscas e o seu esforço era evidenciado no suor que escorria pelo seu corpo torneado.

Nada faltava para os pássaros que voavam no céu, nem para os peixes que viviam nos rios, mas o mesmo não podia ser dito de Uzz Howd. Tendo passado a sua última noite como um indigente, dormindo em uma ponte de madeira, na falta de uma moradia ou força em suas pernas para prosseguir viagem, Uzz despertava com os primeiros raios de luz atingindo os seus olhos com claros sinais de abstinência do cigarro.

Perto dali, o nosso protagonista poderia ouvir o barulho crescente do som do motor dos barcos que trafegavam pelos muitos rios de Sirarossa que interagiam entre eles e que prejudicavam ainda mais a sua dor de cabeça. Chamava a atenção da comunidade em geral a chegada de cinco homens que desceram de um barco e começaram a analisar a vizinhança, claramente à procura de algo. Todos eles usavam ternos elegantes e casacos sobre os ombros, sem os braços nas mangas. Destacava-se no meio deles um homem completamente careca com um machado em mãos e um charuto entre os lábios. Ele ergueu o armamento de aproximadamente um metro e meio de comprimento facilmente para o alto e o colocou sobre seus ombros, na diagonal.

Eles acessaram a ponte pela extremidade direita e começaram a atravessar indicando que o que quer que fosse que eles procuravam estava do outro lado. O grupo transmitia categoria, com seus narizes empinados eles olhavam através dos ombros e chegavam até a passar por cima das pessoas. Aqueles que assistiam a cena procuravam desviar deles, mas nunca duvide do esforço que um dependente está disposto a fazer para saciar o seu vício. Dito e feito. Uzz parou o grupo para pedir por um cigarro e obteve do bárbaro uma estudada dos pés à cabeça. Sem precisar falar uma palavra sequer, ele acenou positivamente com a cabeça e dois dos seus homens saíram da fila para atender o seu gesto. Um deles levou o cigarro até a boca de Uzz, enquanto o outro acendeu o cigarro com alguma dificuldade, pelo vento que fazia. — Saia dessa vida, jovem, isso pode te causar um câncer. — Leu o bárbaro, ainda que com o charuto na boca não se mostrasse como a pessoa mais indicada para dar uma lição dessas.

Com o seu vício saciado e o dia apenas começando, qual seria o próximo passo de Uzz Howd?  
 

Considerações: