Como diria o narrador da famosa esquete cômica protagonizada por Joseph Climber: "a vida é uma caixinha de surpresas.". Os dados arremessados pelo caos chamado vida pretendiam unir duas criaturas completamente distintas em um único objetivo e quando as coordenadas se alinham, nada impedirá.

Maria Denise, uma jovem tão peculiar quanto seu nome, caminhava - algo completamente inesperado, afinal ela era uma sereia - pela ilha mais exótica e receptiva dos blues. Se havia algum lugar inclusivo para as raças, era esta a localização. A mulher-peixe caminhava com suas seis pernas, ou melhor dizendo, tentáculos por Derlund com uma prancheta em suas mãos, onde estava um papel que seria o seu currículo. Ela procurava por um lugar onde pudesse fazer valer suas habilidades, mas sua atenção estava distraída pela atual realidade. Uma vida sofrida a fazia refletir sobre as vantagens da vida real.

Diferentemente da supracitada, Hisoka era um homem de foco. Sua personalidade descolada e aparência agradável, davam-lhe um ar atraente e magnético. Desta forma, estes dois seres tiveram seus caminhos cruzados, passando um pelo outro e um vento do oeste passou por ambos ao mesmo tempo, mexendo suas madeixas e fazendo com que ambos olhassem para a mesma direção. Entretanto, ainda não havia motivos para uma conexão mais forte surgir entre o casal e assim seguiram seu caminho, cada um em sua direção.

Ou será que não!?

Antes que a distância entre eles ficasse maior, uma dupla de homens-peixe que até então estavam seguindo o moreno, agora tinham sua atenção voltada para a bela chicoteadora.

_ Oh… Olha que peixão… Kishishishi

_ É… Essa aí alimenta um cardume inteiro…

_ Kishishishi…

Eles tinham olhares vulgares e ameaçadores e se posicionaram de modo a cercar a jovem "indefesa". As risadas de um dos tritões era alta o bastante para que o espadachim a ouvisse, seja por sua personalidade expansiva quanto pela sensação de impunidade, afinal, não havia símbolos da Justiça na bela e inclusiva Derlund. Olha esta que parecia o desejo utópico de jovens que lutam por uma sociedade inclusiva com bastante e liberdade e fim da polícia. Mas isso é assunto para outra discussão. Qual será o desenrolar desta cena?

Sociedades sempre sofrem com desigualdades. Não importa o quão evoluída sejam, os seres racionais tendem a se sentir insatisfeitos e as transferem em forma de violência para cima de terceiros. Uma frase conhecida diz que "o sonho do oprimido é se tornar o opressor" e na ilha inclusiva de Derlund, isso não poderia ser mais verdadeiro.

Diferente do restante do mundo, humanos eram a minoria e Hisoka parecia não se dar conta disso. A interação entre os homem-peixe que ele presenciou, era bastante parecida com as cenas de machismo vistas em ilhas povoadas por humanos. Embora as raças fossem distintas, os comportamentos continuavam os mesmos.

Incapaz de ignorar aquele ato incomodo, o espadachim fez questão de interferir, mesmo sem saber que a jovem sereia em questão não era indefesa. Pelo contrário, ela já estava em ponto de ataque. Contudo, o cavalheirismo do rapaz despertou um ódio nos tritões, uma raiva inexplicável proveniente de anos de opressão.

_ Quem você pensa que é para tocar em mim, seu lixo humano?

O olhar ameaçador de Hisoka só disparou os gatilhos emocionais subconscientes dos rapazes que por toda sua vida, viram humanos escravizar e comercializar seus demais. Assim, a única reação esperada de um "animal" acuado era o ataque.

POW!

Uma mãozada jogou o espadachim longe. Não bastava segurar a bainha da katana, Hisoka precisaria de muito mais para se defender. Ele foi arremessado vários metros para longe com um golpe só, mostrando o poder dos homem-peixe. Ainda com a adrenalina no alto, o segundo homem-peixe chapou a mão aberta no rosto da sereia que também foi ao chão.

_ Vocês precisam de uma lição. Tá na hora de aprender quem manda aqui!

Caídos em lados opostos, separados por golpes do Dess e Tino. Aparentemente, Dess e Tino não os queriam juntos.

A dura realidade eventualmente batia à porta. Maria Denise acabou de passar por uma situação sexista e desnecessária, sendo obrigada a sofrer por algo completamente fora de seu controle. Ser subestimada constantemente fazia parte de sua vida, tanto por ser de outra raça quanto por ser fêmea. Justo ou não, assim era o mundo!

Entretanto, tal situação por muitas vezes mostrava-se proveitosa. A aparência levemente frágil baixava a guarda de seus oponentes na maioria das vezes e estas brechas quase sempre eram utilizadas em seu favor. Efetuando uma série de ataques coordenados, ela foi capaz de enganar seu oponente com uma finta e arremessá-lo com outro golpe. A tática funcionou e como uma dupla de patetas, ambos inimigos estavam caídos um sobre o outro numa cena pastelão.

_ Sua…

Levantaram-se limpando as roupas e com o orgulho mais ferido que seus corpos. A chicoteadora precisaria de muito mais do que esses golpes simples para derrotar o espírito frágil dos tritões. Embora não tivessem sofrido danos corporais, ser derrubados por uma fêmea doía mais do que um soco no nariz. Assim, avançaram contra a jovem tentando aplicar socos que atingiam o chão e levantavam pedras ao ser destruído. Só esquivar apenas aumentava o ódio sentido por eles. Precisaria ser mais efetiva se desejasse encerrar aquele combate ou teria ela algum outro plano?