Curiosa como era, seguiu na direção do senhor mais afastado. Como quem não quer nada, passou por trás deste e olhou por cima do seu ombro. Ele lia sobre Geografia! Celeste comemorou discretamente, como se já soubesse disso, apesar de não ter a menor ideia antes. Com a sua curiosidade satisfeita, seguiu adiante sem rumo pré definido, com seus lentos passos ecoando no chão de madeira polido.

Aquele serviço era tranquilo, além de monótono, mas não podia reclamar. Era só uma soldado no momento e não podia esperar por batalhas que virariam épicos contados por gerações! Sentindo-se tranquila, passou por entre as estantes dando uma olhada nos livros, pensando em qual leria à seguir, e um acabou por atrair a sua atenção.

O livro era bem menor aos demais e tinha uma capa dourada, com o título manuscrito e tão cursivo que era impossível de se ler. Uma fração de segundo e a celestial já estava puxando o livro para vê-lo melhor. Na capa havia o mesmo nome da lateral e, embora fosse maior, ainda era quase impossível de se ler. Com esforço, a marinheira deduziu: "Jornada ao Oeste". Abaixo do título havia um desenho bem caricato do que parecia ser quatro pessoas e um cavalo.

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Com a sobrancelha erguida devido a achar aquele livro estranhamente atrativo, seguiu de volta para a entrada da biblioteca, enquanto permanecia o observando. As folhas eram comuns, mas suas bordas também eram douradas de forma que, com o livro fechado, parecia ter folhas de ouro. O texto era todo escrito de forma cursiva e, embora bonito, tornava difícil a leitura.

Alcançando a recepção, colocou o livro sobre o balcão, atraindo a atenção da senhora. — Martina-san, que livro é este? Não lembro de já ter o visto antes. — A mulher também ergueu uma sobrancelha. — Pensei que você estivesse aqui para proteger a biblioteca e não para ver livros! — Ralhou, como sempre. Mas com boa memória, Celeste conseguiu reagir rapidamente: — Estou procurando por traças. — Para complementar, deu uma piscadela para a senhora e um leve sorriso zombeteiro.

Dona Martina suspirou, embora a celestial tivesse quase certeza de que ela queria rir, e respondeu: — Um monge veio a uns dias e deixou isso aqui. — O monge da praça voltou imediatamente a memória da garota, fazendo-a perguntar: — Ele jogou sal na senhora? — Eu sou o diacho de um espírito, por acaso?!

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— Não, não! Não é isso! — Celeste gesticulava com ambas as mãos enquanto a dona Martina pegava um pesado livro para bater nela. — Eu acho que vi esse mesmo monge na praça e ele jogou sal nos meus olhos. Canalha! — Cerrou o punho à sua frente para dar mais ênfase à sua fala. Não sentia raiva ou nada do tipo do estranho homem, mas imaginou que tal ação pudesse ecoar com a velha e fazê-la se acalmar mais um pouco.

E sua ideia sucedeu quando a bibliotecária baixou o pesado tomo. — Oras! — Antes que ela pudesse mudar de ideia novamente, a celestial continuou: — Ele falava sobre prêmios, caçadas e sábios, não entendi muito bem. — A velha bufou. — Então era o mesmo.

Celeste olhou mais uma vez para a capa do livro, pensando se deveria levá-lo e lê-lo mais tarde. Aquele volume parecia atraí-la, de alguma forma. — Leve. — Sem entender, a marinheira olhou para a senhorinha na sua frente. — Está olhando demais! Se quiser levar, leve. Esse livro sequer faz parte do acervo da biblioteca.

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— Awn! Eu sempre soub— O levantar de um tomo que era maior do que a sua cabeça fez a celestial se calar. — Ok, ok, não falo mais! — Com um beicinho, foi para a lateral da entrada, voltando ao seu posto. O livro dourado embaixo do braço.

Não demorou muito para os garotos e o velho partirem, cada qual com sua direção, sendo que outros chegaram. Celeste observava cada pessoa que chegava e cada pessoa que partia com atenção. Ela não acreditava que ninguém ali seria capaz de cometer algum crime, inclusive furto de livros, mas era sua missão e a faria da melhor forma possível.

Não revistou ninguém, pois acreditou que estaria indo longe demais, mas também ninguém lhe deu motivo para tal. Todos passavam pela entrada olhando-a por um momento e depois esquecendo da sua presença, como se ela fosse uma estátua. Eles estavam ali com outros objetivos em mente, buscando conhecimento, que era o que todos deveriam fazer.

O passar das horas voltou a toldar a mente da marinheira com monotonia, mas agora ela possuía um livro novo e isso a animava o suficiente para manter o sono afastado. Até que a porta se abriu e outro marinheiro entrou.

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— Soldado Túlio se apresentando. — O marinheiro falou, alto demais, e bateu continência. — Olá! Quer dizer, soldado Ritter! — Celeste respondeu, com um terço do volume, sentindo os olhos reprovadores da dona Martina sobre ambos. Sussurrando, disse ao seu semelhante: — Eu falaria mais baixo se fosse você, a Martina-san não gosta que façam barulho na biblioteca. — O soldado olhou para a velha e deu um sorriso de escárnio. Celeste rezou por sua alma.

— Martina-san, estou indo. — Disse, se aproximando dela e dando um leve tapinha no balcão. — Eu volto em breve para devolver o livro! — A velha apenas bufou, sem sequer olhar em sua direção. — Tem mais um biscoitinho aí?

Um minuto depois, Celeste passou apressada pelas portas da biblioteca, pulando os degraus e correndo assim que tocou no chão. A senhora Martina apareceu um segundo depois, segurando ameaçadoramente um pesado livro em mãos. A sorte da celestial era que ela não tinha coragem de jogar os livros, para não estragá-los. Na verdade, Celeste duvidava que a bibliotecária sequer já tivesse acertado alguém com um livro, mas preferia fugir e levar aquilo na esportiva, correndo da senhorinha com um largo sorriso no rosto, como uma criança sapeca fugindo de uma bronca.

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A noite já havia caído e Celeste seguiu o resto do caminho andando, tranquila, aproveitando a brisa suave que sua ilha tinha naquele horário, quando o sol partia e levava o pior do calor consigo. O livro dourado estava firme em sua mão direita e sua esquerda pendia próxima à espada. Sentia-se imensamente feliz por ter sequer tirado sua espada da bainha, queria que todos os dias fossem assim.

Chegando ao QG, se dirigiu ao refeitório, cumprimentando todos pelo caminho com enorme simpatia, como era do seu habitual. Jantou fartamente, após tantas horas sem comer, e partiu em busca da tenente de antes. — Olá, boa noite! Soldado Ritter se apresentando! Vim relatar o progresso em minhas missões! — Bradou, muito mais alto do que havia feito na biblioteca.

Resumiu tudo em poucos minutos, já que nada de grave havia ocorrido durante o seu dia, e seguiu para a tesouraria após a dispensa da sua superior. Lá, pegou seu salário e partiu de volta para casa. Mais um dia havia se encerrado e, desta vez, tudo havia dado certo. O sucesso renovava a sua esperança por dias melhores. Apesar de saber que dificuldades são inevitáveis, assim como a tristeza e a dor da perda, deixaria isso de lado e aproveitaria aquele momento, focando no presente e deixando o futuro, para o futuro.

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