[TUTORIAL] - Ghast

— Argghh! merda merda merda!

Rugiria tais palavras aos céus antes de mais nada, porra, a situação em que eu estou é de fazer o sangue ferver sem sombra de dúvidas! Algumas horas atrás consegui jogar todas minhas economias (e pertences!) no lixo após uma partida de cartas, perdi minha grana, minha marreta e até a droga dos meus sapatos! Desde então, tô perambulando (pela... cidade? Ou... floresta? Nem sequer sei mais onde estou!) enquanto tentava pensar em uma explicação pra ter me fodido tanto em tão pouco tempo e, ao mesmo tempo, tentava bolar um plano para recuperar minhas coisas de volta.

O sangue quente que subiu a minha cabeça me fazia ficar alheia aos meu arredores, mas eu também não era idiota de arriscar meu corpo estando numa situação dessas! Então se estivesse caindo uma nevasca, procuraria abrigo abaixo de qualquer teto para aquecer os pés e pensar bem no que fazer, caso não, continuaria meu caminho, sem rumo, com as mãos no bolso e expressão furiosa enquanto refletia mais sobre essa lama na qual me enfiei.

Independente de onde estivesse e ainda um pouco apática do ambiente, e pessoas, ao meu redor, pensaria em voz alta


— Errr… hmm… t-talvez?... ah! sim, sim, só pode ser isso! —

Finalizaria meus pensamentos enquanto chocava meus punhos uns contra os outros como se tivesse alcançado um momento… momento… momento eureka! Essa é a palavra!

— É isso! Tá claro como o dia, me trapacearem porra! —

E com essa conclusão imediata que, embora não quisesse admitir para mim mesma, tirei da bunda,  iria até a taverna que começou essa merda toda para checar se o sujeito que desgraçou-me estava lá. No caminho, procuraria qualquer galho de madeira mais grosso (caso estivesse em floresta/bosque) ou tábua de construção que coubesse em minhas mãos (caso estivesse em um assentamento) para ter algo para enfiar na cara do filho da puta se ele não tivesse afim de de devolver minhas coisas.

Chegando sem interrupções, só respiraria fundo para esfriar a cabeça e tentar lembrar com quem eu tava jogando, observaria bem o puto e tentaria checar se ele estava sozinho ou acompanhado, armado ou não.

Caso me parassem no caminho, nem olharia na cara! Só seguiria meu rumo enquanto falaria de modo meio ranzinza

— Deixa quieta porra, tô legal não… —

Pequenos flocos de neve caíam sobre as cabeças dos aldeões, que naquele início de tarde em Minion Island pisavam sobre a camada branca e macia da neve no chão. A maioria dos transeuntes era cautelosa ao deixar suas casas, bem embrulhados, mas o frio de ranger os dentes, como a primeira tempestade, era considerado um presságio agourento. O frio queimava seus rostos e seus cabelos desgrenhados pelo vento, mas isso não inibia que as pessoas ainda saíssem de casa para o que quer que fosse que elas deveriam realizar. Portanto, diante de todos os infortúnios e doenças que afligiam aquela vila, os moradores reuniam forças dia após dia para tornar a vida menos dolorosa possível.

Uma das pessoas que mais se destacavam nessa data era a nossa protagonista, Anastasia Alekseeva, que após perder todos os seus bens em apostas mal-sucedidas, agora trabalhava com a hipótese de ter sido passada para trás e estava disposta a fazer justiça e recuperar seus bens. Retornando para o último estabelecimento, as janelas abafadas tornavam difícil ver através dela, mas o barulho de copos de cerveja brindando vindo do interior denunciava que aquela animação era a mesma compartilhada momentos antes. No caminho nossa bárbara havia tomado o cuidado de se precaver com um pedaço de tronco de madeira, só que ao tentar ingressar pela porta de madeira do estabelecimento armada, foi barrada pelo responsável que fazia sua segurança. — Com licença, senhorita, mas se quiser passar daqui vai ter que descartar a arma. — Orientou o segurança.

Atendendo a expectativa do segurança e continuando, poderia confirmar que o garçom, reconhecendo o seu rosto familiar, a recebeu com um aceno amigável. Desde sua última visita, a clientela pareceu ter aumentado. Várias mesas longas estavam ocupadas por grupos de amigos e as outras mesas menores eram ocupadas por pessoas solitárias, no máximo um casal, mas todos pareciam se animar com o som ambiente que tocava.

O indivíduo que Anastasia acusava de tê-la aplicado o golpe era um semelhante. Assim como ela, um mink, só que da raça lobo-cinzento. Sua vestimenta era composta por um uniforme escolar e muito provavelmente parte estratégica do seu plano, afinal, as pessoas não tendem a desconfiar de um colegial. Apesar disso, era bom desconfiar, pois ele parecia ser perfeitamente capaz. — Vejam só se não é a moça de antes. — Gabava-se perante os seus pares. Ele era cortejado por três mulheres, duas no seu ombro esquerdo e uma ao seu lado direito. — Eu achei que tivesse te deixado sem nada... Não está satisfeita? — Provocava o instinto impulsivo de Anastasia que a fez perder todos os seus bens. — É uma pena que você não tenha mais nada para oferecer... — Esboçou o mink, sendo repreendido por uma figura misteriosa na mesa oposta, de costas.

— Não tão cedo, Wolfie. — Com a cadeira debruçada para trás, sustentando-se apenas nas duas pernas traseiras, ele parecia usar um casaco longo e o seu chapéu cobria todo o seu rosto. — Você acha que possui o que é necessário para vencê-lo, senhorita? — Mostrou-se interessado o dono daquela voz, ainda sem revelar a sua identidade.
— Você não existe, cara. Eu já a derrotei uma vez e posso fazê-lo uma segunda vez. Isso que é gostar de perder dinheiro. — Rebateu o mink, mostrando os dentes visivelmente contrariado.
— Se envolve arrancar dinheiro do seu bolso, eu estou dentro. — Respondeu o outro. — Ainda trabalha com a quantia inicial de 180.000 ฿S? — Continuou.
— Bem, se você vai entrar na jogada, que tal aumentarmos para 300.000 ฿S? — Propôs Wolfie.
— Claro, esse é um preço que eu estou disposto a pagar para conhecer o caráter de uma pessoa. Desde que a senhorita aceite a condição de 70% para mim e 30% para você com os ganhos obtidos. — Finalizou, aguardando pela posição de Anastasia.  

Considerações: