Fala ~~ Pensamento
Que belo dia não é? Ou melhor, que bela noite! Eu saí de casa, faz o que? Dois dias, com certeza devem estar me procurando em todos os cantos da ilha, eu nunca fui muito do tipo de ficar em casa e seguir o caminho que os outros escolheram para mim, eu sou o tipo de cara que segue os próprios instintos e vive as próprias aventuras. Hahahaha, é engraçado pensar como o mundo é estranho, mas que se dane o mundo e os idiotas que vivem nele.


Agora eu vivo por conta própria, nada melhor do que andar armado, bem armado, aliás. Caminhei alguns passos e segui até uma loja de armas, aquele era um lugar modesto, o dono era um velho conhecido meu e também conhecido como senhor do Metal. Não tinha nenhuma arma sequer que ele não fosse capaz de criar. Eu olhei a fachada, nela dizia “Metal King”, sorri de canto da boca e então dei passos largos para dentro. Um tapete negro meio acinzentado cobria toda a extensão da loja, mas ao pisar sobre ele era possível sentir a madeira sólida que rangia em alguns cantos. Fui até a bancada de atendimento, coloquei a mão em cima do Mogno daquela bancada. E olhei nos fundos dos olhos do Trao.
- E aí Trao, tem o que eu te pedi na semana passada? - Falei isso sacando o dinheiro do meu bolso e jogando na mesa.
O velhote sorriu, a longa barba dele escondeu parte do sorriso, e os piercings tintilaram ao levantar a sobrancelha, seus olhos acinzentados pareciam ainda mais cinzentos. - Consegui sim, mas vou te contar que isso foi uma merda de conseguir. Precisei pedir para os meus contatos lá da Grand Line para conseguir. - Ele remexeu o dinheiro com o indicador e olhou com desdém. - Isso daí só paga a espada, o resto é mais caro. -
Fiquei estupefato com aquilo. - Só a espada? Como assim? Tínhamos combinado que daria para comprar tudo com isso! - O sorriso do homem se fechou, e eu o encarei com um olhar fuzilante, aquilo ia contra todo nosso acordo e isso me deixou puto de verdade. Trao abriu um sorriso. - Os 250.000 mal pagam o custo de trazer essas coisas para cá. - Franzi meu cenho com raiva. - Mas porque você é meu amigo, podemos resolver isso de uma forma diferente. Você pega essa espada e vai encontrar um amigo meu lá no porto, ele precisa de alguém para fazer um servicinho. -


- Servicinho? - A raiva tomava espaço para a curiosidade, apenas uma sobrancelha permanecia abaixada enquanto a outra se levantou? - Que tipo de serviço? Não é nada do tipo fetiche bizarro, né? - O velhote abriu um sorriso e depois se virou deixando a espada no balcão. - Eu vou saber? Ele disse que precisava de alguém forte e armado, e você é forte que nem um touro, vai lá e eu te dou o que você me pediu de graça… Mas claro, o seu pagamento fica para mim! - Bocejei, agora menos irritado, mas mesmo assim incrédulo com a situação, peguei a arma e sai para o porto sem nem me despedir, consegui ouvir ele falando algo mas só o ignorei, estava irritado demais para continuar ali.

Fala ~~ Pensamento
Os meus passos foram apressados, queria logo começar o meu sonho, encontrar uma banda e então fazer a nossa turnê pelo mundo. Esses passos me levaram até o local em questão, passando pelas ruas de pedra e cruzando pelo enorme quartel militar de Shells Town me deparei então com uma questão, quem era o homem que eu deveria encontrar? Não tinha a menor ideia de quem era o homem que eu tinha que encontrar e também não estava nem um pouco afim de voltar lá no Trao.


Os humanos desgraçados me olhavam com cara feia, eles não tinham se acostumado a ver um tritão sem correntes, eu acho, afinal eram todos uns escrotos. Enquanto caminhava para o porto simplesmente me desviei e fui rumo à Mansão Abandonada lá na Alta Shells Town. A espada balançava na minha cintura, presa ao meu cinto. Continuei seguindo ignorando os olhares dos desgraçados, até chegar à mansão. Aquele era um lugar decrépito caindo aos pedaços, dava para ver uma pequena movimentação lá nos fundos, provavelmente era o pessoal que ia tocar hoje. Fui até o portão de metal desgastado pelo tempo e me agachei para passar por um pequeno vão que havia ali, o cinto ficou momentaneamente preso, mas depois de dar uma puxada ele se soltou.


Cheguei até onde era a antiga piscina, agora totalmente drenada, em cima dos ladrilhos brancos estavam os equipamentos da banda que iria tocar aquela noite. Uma pequena multidão se preparava para ouvir aquele belo som e eu também quero ouvir, eu amo rock, é a coisa mais foda que existe. Eu fui até a borda da piscina e me sentei com os pés jogados ao ar. Eu ia ficar ali por mais um tempo quando repentinamente senti um toque no meu ombro. - Thin, cara! Preciso de uma força! - Eu olhei de soslaio, aquele era o Edgar, o maldito estava elegante como sempre.


- E esse cabelinho, aí, já trocou de cor de novo? - O Edgar pintava muito o cabelo e agora parece que era a vez do laranja, me levantei para cumprimenta-lo, mas ele não parecia estar querendo perder tempo então me arrastou para dentro da mansão para conversarmos. - Cara to precisando de ajuda que merda! - Ele parecia muito preocupado, mordia os lábios e andava de um lado para o outro, colocava a mão na cabeça e tentava se acalmar. - Calma e Edgar, o que rolou? Qual é o problema? -


Ele começou a morder os dedos, era um hábito bizarro que ele tinha, quando estava tão nervoso que não se aguentava mordia as unhas, e como não tinha mais unhas agora era a vez dos dedos. - É aquele filho da puta do Price, o cara quer me matar! E o Junior também. To devendo uma grana desgraçada para os dois. Eu não sei o que fazer e eu to fodido, eles vão me matar. - Olhei para ele com um pouco de pena , coloquei a mão no cabo da minha espada e falei. - Calma, lá. Porque você não mata eles? Aí não vai dar merada para você, não acha? Só que tem que tomar cuidado… - Ele deixou sua mão direita repousar no coldre da pistola que carregava no cinto e saiu correndo pelo mesmo caminho que entrou. Eu fiquei ali parado, olhando a porta e então aí que eu me toquei o que iria acontecer… O Edgar iria tentar matar um dos dois e o outro ia acabar esfolando a pele dele inteira, quando me toquei, sai correndo atrás do Edgar.

Fala ~~ Pensamento
Saí em disparada, minha jaqueta ao vento e meus olhos procurando pelo Edgar. Se ele chegasse atrás dos dois sozinho ia acabar espatifado no chão, ou afogado no próprio sangue, continuei procurando com os olhos, coloquei a mão no cabo da espada, naquele momento me senti meio receoso, mas lá longe consegui ouvir a voz dele. Corri o máximo que pude até me deparar com ele. Não tinha prestado muita atenção, mas agora eu estava na Baixa Shells Town, o lugar estava todo decrépito e caindo aos pedaços, havíamos entrado na pior parte da cidade.


Mais alguns passos e puxei ele pelo ombro. - Você está doidão? Que merda você fumou? - Encarei ele bravo, pronto para dar um soco no meio da fuça dele, mas respirei fundo e soltei tentando me acalmar. - Eu tenho que matar eles, você mesmo que falou isso! - Dei um tapa na cara dele, um tapa suave, mas para colocar ele na realidade. No exato momento do estalo os olhos dele pareciam retomar a realidade, deixaram de ser fundos e se voltaram para mim. - Eu vou te dar uma força! É bem simples, a gente mata eles e depois toca fogo em tudo, ninguém vai saber o que rolou e pronto, fim da história. - Falei calmamente, como se estivesse falando sobre uma folha que caiu de uma árvore. - Você tem certeza disso!? - Ele parou por um instante, ainda preocupado mas então retomou completamente a racionalidade. - Sim, você tem razão, vamos acabar com esses putos e depois a gente dá um fora. Com isso em mente ele começou a me guiar rumo a casa dos dois agiotas.

O cheiro pútrido aumentava conforme nós avançávamos na rua. Antes as casas eram abandonadas. Haviam muitos moradores por aqui, mas quanto mais fundo entramos, mais era possível ver que havia um descaso maior com o lugar, lixo tomava conta do ambiente, vozes podiam ser ouvidas por todos os cantos, algumas conversavam, outras gritavam, havia até mesmo as vozes de bêbados.

Então acabei esbarrando em Edgar. - Chegamos, é aqui! - Olhei para a casa e como era de se imaginar, a casa era mais bonita do que se podia esperar em um lugar como aquele. Uma bela fachada avermelhada, janelas escuras que não permitia que ninguém olhasse o lado de dentro, uma cerquinha bonitinha também pintada de vermelho, as telhas então nem se fale eram um pitelzinho. Coloquei a mão na espada, saquei a mesma, corri em direção a parede e depois saltei para dentro da casa. Pulei de ombros protegendo meu rosto, estilhacei a vidraça, pousei com uma cambalhota, agora estava do lado de dentro e pronto para acabar com os desgraçados.

Fala ~~ Pensamento
Eu havia acabado de entrar naquela espelunca que o Junior chamava de lar. Os vidros que estilhaçei com a entrada estavam no chão, e eu não iria pagar por aquilo - afinal, quem iria pagar seria o Junior. Segurei o cabo da espada com firmeza, sabia que o metal de uma arma produzida pelo Trao não me deixaria na mão. Meu sapato tocou naquela madeira rubra, e um ranger da madeira frouxa pôde ser ouvido depois que levantei o pé.

Voltei minha atenção para o ambiente. Havia um sofá azul bem à minha frente, ao qual tratei de cortar para experimentar a lâmina da espada. Em um rápido "Vushg", a espada rasgou o couro do sofá e fez a espuma cair para fora. Ouvi quando o estúpido do Edgar adentrou na casa. Ele conseguiu arrombar a porta ao invés de utilizar o caminho pelo qual eu havia entrado. Continuei caminhando, dessa vez utilizando minha audição aguçada para ouvir onde o desgraçado poderia estar. Conseguia ouvir uma respiração em algum lugar da casa, mas não sabia de onde estava vindo. Continuei caminhando, ora lentamente, ora apressado, tentando controlar meu instinto impulsivo de sair correndo e atacando todo mundo que eu achasse ser inimigo. Um passo para frente, um passo para trás - era o que eu estava fazendo.

Comecei a revirar a casa. Olhei nos armários feitos de um fino carvalho, por debaixo dos panos das mesas - diga-se de passagem -, olhei até dentro do fogão e da geladeira, mas não encontrei nada do Junior por ali. -Edgar, o filho da puta está em algum lugar, mas não sei dizer onde é. - Continuei caminhando pela cozinha do local. Era bonita, branca e bem limpinha, diferente da sala que agora estava uma bagunça. Olhei nos armários e, quando me virei para olhar Edgar, senti uma facada em minhas costas. Aquilo doeu pra caramba. O filho da puta havia aparecido de um caminho secreto atrás da despensa e da pia da cozinha.

Fala ~~ Pensamento
Com aquele incidente, eu saltei para frente e me joguei por cima da bancada. A dor nas costas era muito forte, aquele filho da puta havia me dado uma bela facada.

- Cara, quando eu botar as mãos em você, vou acabar com a sua existência. - Esbravejei, com os olhos firmes e vidrados nele, como se fosse um gato olhando para um pequeno ratinho que viria a ser minha janta. Edgar, por outro lado, pulou para trás. Estava assustado.

O homem que saía de trás da passagem secreta, que se mostrou na geladeira com uma enorme faca na mão, tinha cabelos negros azulados com algumas pintinhas brancas brilhantes. Parecia, de fato, um céu estrelado.

- Edgar! Você veio até aqui e revirou minha casa todinha. Espero que esteja trazendo uma boa compensação para isso. - Ele abriu um sorriso. Sua boca parecia ter bem mais dentes do que um humano devia ter, parecia quase infinita a quantidade de dentes.

Me apoiei na bancada para me levantar.

- Seu maldito, eu vou acabar com você! Não vou te dever mais merda nenhuma! - A voz de Edgar era trêmula, como se estivesse prestes a sujar as calças. No mesmo instante em que ele terminou de falar, Junior pulou tão rápido que só percebi quando já estava em cima da bancada, armando um bote para saltar sobre Ed. No mesmo instante, ergui minha espada e acertei-o bem na cara. Por sorte dele ou azar meu, bati apenas com a parte sem corte da lâmina devido à surpresa de sua ação.

Edgar caiu de supetão. Aquele incidente havia sido uma completa surpresa para ele. Eu, conhecendo bem o rapaz, sabia que estava assustado, apesar de estar cheio de energia. Mas naquele momento, eu não poderia perder minha atenção. Meus olhos tinham que estar focados no sujeito à minha frente.

Pulei por cima da bancada e fui em direção à entrada secreta onde Junior havia caído. Era um corredor estreito e totalmente escuro. Não sabia de onde ele viria, mas muito provavelmente era da frente. Com a espada apontada para frente, continuei seguindo a direção até que senti outra pontada, dessa vez na minha panturrilha.

Instintivamente, brandi a espada e dei um golpe no chão. Nós dois gritamos de dor ao mesmo tempo, mas ele estava gritando mais alto.

- Thin, você está bem? O que aconteceu? - Edgar me chamou assustado, pelo menos era o que parecia. Agora eu conseguia ouvir as gotas de sangue pingando do corpo de Junior, assim como sua respiração ofegante. Sem dar nem um segundo de descanso, corri para frente e ataquei de cima para baixo, usando a lâmina da minha espada desta vez em vez de apenas a ponta. Mais uma vez ele gritou de dor, e então jogou uma faca em minha direção. Eu consegui me esquivar parcialmente, me virando para a direita, mas a faca cortou uma pequena lasca do meu ombro. - Filho de uma cretina! Eu vou te matar, vou acabar com você! - O grito de lamento dele era música para os meus ouvidos, comecei a rir escandalosamente, meus lábios não se seguravam, era engraçado ver ele guinchando de dor. Os passos do desgraçado se apressaram rumo à parte mais funda do corredor. Eu, por outro lado, me mantive lento, andando enquanto a parede fria e úmida de pedra servia de apoio.

Fala ~~ Pensamento
Continuei avançando, mancando, com o sangue pingando no chão. A dor era excruciante, mas não me deixei abalar por ela. Enquanto andava meio cambaleando e, ora ou outra, eu mordia os lábios para tentar segurar a dor, ainda sim me mantinha firme. Segui até o final do túnel onde havia uma luz, até aquele brilho poderoso, e então entrei na sala.

Meus olhos ficaram um pouco ofuscados após passar tanto tempo no escuro, mas era bom ver luz. Aquela sala parecia ser um tipo de armazém, tinha uma boa quantidade de caixas amontoadas e algumas outras coisas que mantinham o lugar bem abarrotado. Consegui ouvir que Junior estava ali dentro, mas não identifiquei de onde vinha o som de sua respiração. Segurei a espada bem firme e avancei rumo ao desconhecido. Dessa vez, entretanto, não agiria feito um idiota, afinal, fui pego desprevenido duas vezes pelo maldito do cabelinho estrelado.

Ali, em cima daquele piso de madeira velha e dentro daquela sala de paredes de pedras cinzentas, fechei meus olhos e respirei fundo. Deixei meus ouvidos se concentrarem e assim que percebi que o Junior se encontrava em uma caixa ao meu lado, me virei impulsivamente e cravei a espada por entre uma das aberturas da caixa, perfurando-o e ouvindo um grito de dor. O golpe pareceu fatal, afinal depois disso não ouvi sequer um murmúrio da parte dele, mesmo eu chacoalhando a espada um pouco. Naquele instante, me sentei no chão e então me deixei cair ali mesmo, arfando, cansado pela briga, mas me sentindo um vencedor, afinal, eu tinha derrotado aquele mané sozinho.

Ouvi o Edgar se aproximando, mas estava cansado demais para continuar de olhos abertos. Simplesmente me deixei ser levado pelas sombras do cansaço e também pela fadiga que meu corpo carregava, como uma cruz impiedosa.

Fala ~~ Pensamento
Depois de me cansar naquela luta, acordei em cima de algumas caixas. Não era nem um pouco confortável ficar deitado ali, mas era melhor do que ficar no chão. Quando tentei me levantar, percebi que meu corpo estava dolorido, doía em muitas partes diferentes, mas onde sentia mais dor eram nos pontos onde havia levado golpes de faca. Também me sentia um pouco dolorido por causa da falta de exercícios. Fazia tempo que não me metia em confusão daquele tipo.

Ainda me encontrava no armazém secreto do Junior. Era um lugar estranho e silencioso. Estranho porque não é algo comum ter um armazém em uma passagem escondida atrás da geladeira e o local era totalmente isolado de sons externos. Levantei-me lentamente e comecei a vasculhar por ali. Aquele lugar era repleto de coisas bizarras: estatuetas, obras de arte, drogas, partituras de músicas, instrumentos. Com certeza, era o armazém de contrabando dele. Tudo o que estava ali ou veio de fora da ilha ou iria para fora da ilha, tudo por baixo dos panos.

Enquanto vasculhava o local, notei que Edgar não estava em lugar nenhum. Então, olhei para minhas roupas que deviam estar empapadas de sangue, mas estavam bem limpas. Verifiquei por debaixo delas e vi faixas com pequenas gotas de sangue. Continuei a vasculhar o local sem me preocupar com o que tivesse acontecido com Edgar. Ali me deparei com algumas coisas bem interessantes. A primeira foi uma mochila. Ela era bem diferente das que normalmente eram vendidas. Aquela mochila era preta, com pequenos detalhes prateados em seus fechos. Outro item que me chamou a atenção foi uma guitarra. Era uma guitarra velha e empoeirada, parecia estar ali por muito tempo, talvez tivesse sido largada ali há anos. Coloquei a guitarra em seu estojo e então coloquei tanto a mochila quanto a guitarra nas costas e me levantei.

Andando vagarosamente pelo corredor, agora iluminado por tochas acesas ao longo dele, pude ver as marcas da nossa luta, inclusive os locais onde nos ferimos. Manquei lentamente, me apoiando na parede, e saí por trás da geladeira da cozinha do Junior. Daquele ponto de vista, o lugar todo estava uma bagunça. Os móveis que cortei anteriormente agora estavam amontoados em um canto. Mas o que mais me chamou a atenção foram as marcas de que alguma coisa foi arrastada. Para ser mais preciso, as marcas mostravam que um cadáver foi arrastado para fora da casa.

Fala ~~ Pensamento
Aquela trilha levava ao exterior e eu a persegui para verificar o que estava acontecendo. No fim, me deparei com uma situação que jamais havia visto antes: Edgar estava levando o corpo de Júnior para o lado de trás da casa, parecendo cansado e exausto por transportar algo tão pesado sozinho. Naquele momento, eu dei uma gargalhada do fundo dos meus pulmões e um sorriso fixo e duro se estampou em meus lábios como aço. Tentei tapar a boca com a mão, mas o resultado não foi bom, já que meu amigo ficou com raiva.


- Quem você pensa que é para ficar rindo? - Seus olhos encontraram os meus, estavam sérios e seus lábios comprimidos, ele com certeza estava bravo comigo. - Foi mal. - Peço desculpas por expressar minha alegria com aquela cena cômica. = É muito engraçado ver você se matando para carregar esse corpo por aí sem nem se preocupar em colocá-lo em um tapete ou algo assim para evitar ser visto. - Eu continuei rindo, apesar de alguém ter provavelmente notado o que fizemos ali, mas isso não era um problema agora. - Quem você pensa que é? Você acha que seu corpo apareceu enfaixado do nada? Fui eu que o enrolei todo com o que achei naquele lugar podre. - Eu soltei um suspiro e aquilo tirou toda a graça da cena, me deixando tenso, como se estivesse atendendo às ordens de um capitão. - Okay, okay, não precisa ficar bravo, vou te ajudar com esse carinha aqui. - Eu apontei para os pés de Júnior e ajudei Ed a levar os restos mortais daquele imbecil até os fundos, onde já havia uma cova aberta para o agiota. Jogamos o corpo ali e fechamos o buraco, nunca mais ninguém ouviria falar de Júnior, ou perderia dinheiro emprestado a ele a juros exorbitantes.


Eu me virei para meu parceiro e o encarei fixamente. - E agora, qual é o próximo passo? Vamos atrás do Price ou deixamos isso para lá? - Eu enfiei as mãos nos bolsos da minha calça e encostei minhas costas na parede fria da casa do defunto. - Que nada, fizemos um bom negócio com ele... - Ele virou a cabeça e deu um assovio, o que nunca é um bom sinal. - Ou melhor, nós fizemos um bom negócio com ele. - Eu levantei uma das sobrancelhas, fitando-o com descrença e um tanto perplexo. - Como assim, "nós"? O Price não ficou com raiva que "nós" demos um jeito no Junior? Eles não eram amigos? - O loirinho deu uma gargalhada. - Eles eram apenas conhecidos. Como tiramos o Junior de circulação, agora o Price é quem manda nos negócios. E também, seria meio difícil lidar com ele... Ele é filho do Capitão. -