[Narrada/Fechada] 1. Dance with Wolves

Minutos, horas, dias… Já não podia contar quanto tempo se fazia desde que eu havia embarcado naquele navio. - Waaaaaah! Que preguiiiçaaa… - Eu disse de maneira preguiçosa enquanto esticava as mãos para cima, espreguiçando os braços em um alongamento simples. - Eu não aguento mais a cor azul…- Disse enquanto olhava para o vasto oceano. Se não me engano faziam duas semanas que estávamos ali, rumando até o nosso novo destino, Kuraigana. - Será que chegaremos logo… - Uma dúvida pertinente.

Eu não conhecia muito da ilha a qual tínhamos de ir, mas a explicação que tivemos é que deveríamos auxiliar no que fosse necessário por ali. Inóspita, acho que era a palavra certa. Tudo que eu sabia sobre aquele local era que era inóspito, afinal eu nunca havia ouvido falar de tal ilha… Você já?

As ordens eram simples. - Ajudar no que precisa… Isso a gente sempre fez! - Eu disse para o oceano de fora da pequena janela de minha cabine no navio. Os papéis sobre a minha escrivaninha eram claros. Relatórios de consumo de materiais médicos e do estoque de alimento do navio… Atribuições que eu costumo fazer, afinal não é todo dia que se encontra uma garota metódica com a economia de recursos e com prazer de organização.

- Bem, vou perguntar ao navegador se estamos perto do nosso destino, alguém aqui deve saber quando iremos chegar… Até porque nossos recursos foram calculados… Então devemos estar perto… Eu espero! - Eu disse enquanto calçava as minhas botas, ajeitando o uniforme e alisando seu tecido para tirar qualquer amassado. - Vamos Cris, você consegue, sem vergonha pra falar com o navegador… - Impossível, mas eu não desistiria de ter a informação mesmo assim.

Sairia da minha cabine, olhando pelo corredor a fim de evitar que eu fosse abordada de maneira repentina por alguém que ali passasse, sairia de meu quarto após ver que ninguém estava por perto. Caminharia calmamente para a parte externa, indo em direção ao Timão do Navio. O navegador da Marinha geralmente ficava por ali. Procuraria por ele(a) e o cumprimentaria de maneira amigável. - O-Olá! P-Preciso saber se estamos nos aproximando de nosso destino, é-é para que eu relate os nossos recursos com precisão… Não queremos que a nossa água a-acabe não é mesmo Kya-ha-ha-ha… - Diria de maneira tímida para a pessoa, não sabendo muito bem como me aproximar dela, mantendo uma distância razoável e confortável e rindo baixinho com todo o embananamento.

Caso não encontra-se nosso navegador por ali, daria uma volta no convés a fim de encontrar alguém que estivesse no comando da direção do navio, ou mesmo algum outro marujo para perguntar sobre o fato. - S-Saberia me dizer se estamos chegando próximo ao n-nosso destino…? - As mãos para frente do corpo, segurando uma a outra de maneira acanhada ao questionar a pessoa sobre isso. Se não encontra-se ninguém aquela hora por ali, esperaria que alguma alma aparecesse, se não, seguiria até a cabine do capitão. Evitaria locais muito movimentados e se o estivesse, me esquivaria tentando passar despercebida por todos.

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O balançar do barco e a chuva do lado de fora não eram tão agradáveis quanto eu gostaria. Eu não gosto de raios, trovões ou relâmpagos, de certa maneira eles me assustam um pouco e me pegam desprevenida às vezes. Em alto mar isso não era diferente, embora estivéssemos em uma estrutura de madeira gigante e em teoria…Em teoria, segura. O balançar do navio já era algo de praxe, embora antes de sair da cabine médica eu tivesse colocado alguns remédios pra náusea em minha bolsa, só para garantir.

O corredor do navio que me levava até a sala de comando era iluminada por candelabros singelos e pelas pequenas janelas, pude ver as ondas, a chuva e… Ah sim… Um arrepio passou por minhas costas. O oceano aberto era cheio daquelas enormes criaturas, também conhecidas como reis dos mares. Não podia negar que elas eram fascinantes, mas ao mesmo tempo me apavoraram. Respirei fundo. - É só um bicho… Nada demais… Nada demais… - Disse para mim mesma na tentativa de me acalmar. Estávamos seguros, afinal vários navios da Marinha foram e vieram por aqueles mares e eu não me lembro deles serem afundados por essas criaturas.

Dei uma risadinha sem graça enquanto meus passos iam a frente. O cheiro suave de madeira molhada era reconfortante, me fazia lembrar de casa, dos jardins da mansão que eu morava. Não posso dizer que eu sentia falta do conforto do lar, estar fora da redoma de vidro, a gaiola me fazia ter mais esperança em encontrar uma solução para meu problema de nascença. Ah sim… Esse problema que talvez nunca se resolvesse. Porém a esperança ainda existia.

A cabine de comando tinha apenas um único homem ainda acordado. Talvez todos estivessem dormindo naquela noite, será que eu deveria estar fazendo o mesmo? Que horas eram afinal? Passei a noite toda catalogando suprimentos será? Bem, não seria a primeira vez. Meu sorriso singelo para o capitão acompanhava de minha destra sobre minha testa em sinal de respeito para o meu superior.

Eu sorri aliviada ao ver que ele estava tranquilo quanto a água do navio. - B-Bem, fico feliz em ouvir isso… Talvez com a chuva dessa tempestade possamos captar mais água potável. - Era uma ideia boa, se me recordava, todo navio digno possuía um sistema de cisterna para captação da água da chuva. Meu sorriso continuava ao ouvir o velho homem comentar sobre a tempestade.

- Confesso q-que eu tenho um pouco de medo de raios e trovões… Kyahaha. - Dei uma risadinha sem graça enquanto levava a destra sobre meus cabelos, puxando os fios do mesmo de maneira ansiosa. - M-Mas tenho certeza q-que o senhor está acostumado, é um g-grande capitão Sr. Nagume. - Eu olharia ao redor, tentando identificar o que estava a nossa volta. Mapas talvez e os observaria antes de me voltar ao homem. - O que mais m-me assusta de verdade são os reis dos mares e os p-peixes grandes… Eu vi um não tão distante pela janela… O-O senhor já chegou a vê-los d-de perto? É-É verdade que alguns são tão grandes quanto ilhas? - Eu estava anciosa mas ao mesmo tempo curiosa para saber qual seria a resposta do homem. Era bom ter alguém para conversar.

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Eu não podia evitar de não soltar uma leve risadinha ao ver aquela cena. A pose so capitão era hilária! Mas mostrava o quão bem humorado o velho homem do mar era. Algo positivo com certeza, ou talvez ele estivesse exibindo sua grande massa muscular para uma moça como eu. De qualquer forma, notei a grande cicatriz que ele levava sobre a sua pele. Ao dizer pela cor, o ferimento havia sido profundo, mas aparentemente bem costurado para o homem ainda ter o movimento dos braços perfeitamente. - Eu imagino que não t-tenha sido mesmo… - Respondi dando um leve sorriso gentil a ele antes de começar a ouvir sua história.

Eu escutava aquelas palavras com um fascínio em meus olhos… Realmente, o mar era cheio de mistérios, aventuras e claro, de perigos… - M-Me é familiar esse nome… - Cocei o queixo enquanto meus olhos se direcionaram para cima de maneira pensativa. - Meu irmão já comentou sobre ele a um bom tempo, fico feliz que ele esteja longe de encrencas! - Um pirata a menos a solta era um alívio, afinal eles eram muito impiedosos e malvados. A informação que seu barco havia sido engolido por uma criatura tão grande quanto uma ilha fez os pelos de meu corpo se arrepiarem todos.

- E-Eu espero que ilhas n-não sejam apetitosas a ponto de serem engolidas p-por eles…- Comentei de maneira tímida enquanto coçava a cabeça singelamente. Meus olhos piscaram algumas vezes quando o capitão logo chamou-me para perto de si. Eu fui sem hesitar, observando as grandes janelas que nos separaram daquela tempestade. Cerrei os olhos e de maneira atenta olhei para fora.

Escuridão e de repente o clarão dos raios. Tive a impressão de que havia algo lá mas de repente… Sumiu. O capitão logo fez o sinal da cruz ao ver aquilo. Eu estava com um pouco de medo, não vou negar, mas ao mesmo tempo que o desconhecido era assustador, também era fascinante. Respirei fundo. - E-E-Eu acredito que o mar gosta de se m-manter assim, misterioso e indomável… - Eu disse me afastando um pouco antes de arregalar os olhos de maneira assustada. - EEEEEH??? F-F-Fantasmas?!?! - Gaguejei ao tentar mencionar tamanho absurdo. - C-Como assim, m-mas marinheiros morreram aqui C-Capitão? - Eu agarrei a minha bolsa e comecei a chacoalhar a cabeça para me acalmar.

Eu conhecia várias histórias, muitas delas das quais eu não tinha certeza se eram verdadeiras ou apenas lendas. Marinheiros as vezes gostavam de contar certos absurdos para pegar os mais supersticiosos desprevenidos e claro, manter os homens sobre controle e disciplina exemplares. Afinal o que era um espírito que saia apenas depois da meia noite para pegar quem estivesse fora do posto não é? - Bem meu p-pai e meu irmão costumavam me contar histórias s-sobre o mar. O meu pai disse que uma v-vez enquanto ele era um cadete, ele viu uma mulher l-loira sair de dentro do banheiro… Do banheiro m-masculino! Ela tinha uma face cadavérica e seus olhos eram brancos! - Eu contava aquilo de maneira um tanto entusiasmada e alegre.

Sentia falta de casa e relembrar essa época da minha infância era algo muito precioso para mim. - Ele até f-falou que levou ela p-para jantar, mas isso eu já acho que era história de pescador… Não que o resto não seja. Kyahaha. - Eu ria de forma alegre enquanto me entretia com a companhia do velho capitão.

Mas nosso tempo parecia ser perturbado pelos gritos de uma pessoa. Olharia para fora da cabine para ver a figura que fazia aquele escândalo. - Oh p-parece que uma de minhas pacientes acordou… Se me der licença capitão… Irei ver o que ela precisa. - Diria de maneira gentil, fazendo continência para o homem antes de me retirar da cabine. Meus passos calmos me levariam até a alta mulher loira.

Daria a ela um caloroso sorriso. - Senhorita Lyn, que bom que acordou, vejo que conseguiu recuperar suas forças. - Eu me aproximaria dela enquanto levava as mãos até a mochila, tirando dali um pequeno frasco de remédio. - Pensei que dormiria um pouco mais, aqui. Esse remédio vai te ajudar por enquanto… - Entregaria a ela o frasquinho. - Como está se sentindo? - Perguntaria enquanto a observava de maneira a examiná-la.

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A mulher loira e alta na minha frente parecia ser uma exemplar soldado, sua continência para mim me fez abrir um pequeno sorriso envergonhado. Embora já fizesse um tempo que eu era de uma linha de comando superior a outros, parecia que eu nunca iria me acostumar a isso. - Descansar, soldado. - Disse para a mulher enquanto eu observava a arma em suas costas. Aquilo parecia pesado!

Meus olhos verdes ficaram fixados na arma por um tempinho, quando voltei a observar a loira mais alta. - Hum? É um remédio normal… - Levei a destra sobre meu queixo, pensando em como poderia ter surtido efeito tão rápido, será que a garota era exemplar em sua saúde? - Fico feliz que está melhorando, pensei que não iria acordar tão cedo, talvez essa dor seja um pouco de fome ou falta de água também, você tem dormido já faz um bom tempo… Pode me dizer se lembra do que estava fazendo antes de cair no sono? Seu relatório não é muito preciso quanto a essas informações… - Eu disse enquanto olharia ao redor.

Se os marujos estivessem rindo e cochichando diria a eles em um tom amigável. - Por favor, voltem ao seu posto. - E logo olharia para a loira. - Senhorita Lyn, por favor se acalme. - Meu tom de voz para com ela era sereno e gentil. A pergunta de se eu precisava de ajuda logo viria a tona. Eu de fato precisava de um par de mãos extras, mas não sabia se a mulher estava em plena saúde para realizar tal coisa no momento.

- Bem, precisar de ajuda eu sempre preciso para falar a verdade… Eu conferi nosso estoque de comida e água hoje a tarde, mas receio que falte um pouco, pelo menos de água… Não sei se essa embarcação possui um sistema de captação de água interna, não tenho tanta expertise em engenharia marítima para ser franca, mas precisamos de mais dois barris de água no mínimo para conseguirmos sobreviver de maneira confortável até chegarmos em nosso destino. -

Eu respirei fundo e suspirei. - Se puder me ajudar nisso, eu ficaria muito grata! - Disse a mulher enquanto olhava para ela. - Você me parece bem forte, acho que consegue pegar os barris… Eu infelizmente não sou tão fisicamente apta. - Diria dando uma piscadinha com o olho direito, mostrando a ponta da língua enquanto exibia meus bracinhos finos em uma pose engraçada, mostrando os músculos que claramente não existiam ali.

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O sono tranquilo que me envolvia foi abruptamente quebrado pelo agitar frenético da embarcação, acompanhado pelo estrondo ensurdecedor dos trovões ecoando pelo convés. Uma onda poderosa colidiu contra o navio, sacudindo-o com violência, e eu fui arremessado da cama. Com um grunhido, abri os olhos, deparando-me com o caos absoluto que tomara conta da minha cabine. Roupas estavam espalhadas desordenadamente pelo chão, garrafas vazias de saquê rolavam perigosamente de um lado para o outro, e duas calcinhas estavam jogadas perto da cama.

Despertei nu e confuso, lutando contra a ressaca que ainda persistia em me atormentar. Com os olhos semicerrados e a mente embaçada, iniciei minha busca pelas jovens marinheiras, que haviam desaparecido mais misteriosamente do que meus sonhos de ganhar na loteria e nunca mais ter de trabalhar. - Cadê as primas? - Perguntei em voz alta, vasculhando freneticamente a cabine em busca das damas, derrubando mais roupas e garrafas no processo.

De repente, em um lampejo de lucidez que atravessou a neblina de confusão em minha mente, eu me dei conta de que estava em uma missão oficial. Como  um tenente oficial da tripulação, percebi que não podia me dar ao luxo de ficar nu e desarrumado, sob o risco de enfrentar consequências desagradáveis. Com movimentos desajeitados e cambaleantes, agarrei o uniforme de marinheiro e comecei a me vestir, o cheiro de álcool impregnado em minha pele estava tão forte que quase podia vê-lo pairando no ar ao meu redor, e em pouco tempo, se misturava ao cheiro de minhas roupas.

Com um movimento hábil e preciso, deslizei minha Katana para fora de sua bainha, tratando-a com o cuidado e respeito que ela merecia. O metal polido reluzia à luz fraca da cabine, enquanto eu a prendia novamente, firmemente à minha cintura, garantindo que estivesse pronta para qualquer eventualidade que a missão poderia trazer.

Em seguida, faria meu caminho em direção ao convés, bisbilhotando tudo que acontecia, me esquivando sorrateiramente de qualquer trabalho, enfrentando o balanço errático da embarcação com firmeza. Buscando me segurar em quaisquer objetos ou superfícies ao alcance, utilizando cada artífice para evitar ser lançado ao chão pelas violentas sacudidas do navio se necessário.

Ao avistar qualquer oficial superior, mesmo sob a fúria dos elementos do mar, minha postura se tornaria imediatamente rígida e disciplinada. Com uma reverência militar, minha mão direita erguia-se em continência. - Tenente Kaito se apresentando, senhor(a). - Anunciaria em tom sério, torcendo para que o odor do álcool em meio a tempestade não fosse forte o suficiente.

Se porventura me deparasse com Crisbella e Lyn no convés, minha abordagem seria marcada por uma mistura de cortesia e admiração. Com uma expressão polida no rosto, eu me aproximaria saudando-as com um cumprimento adequado.- Olá, senhoritas - Iniciaria, com a voz carregada de modéstia e elegância. - Permitam-me apresentar-me: sou o Tenente Kaito. Parece que nossos caminhos não se cruzaram anteriormente. - Meus olhos, embora discretos, vagariam pelos traços delicados de Crisbella e pela expressão cativante de Lyn, como se eu estivesse apreciando obras-primas cuidadosamente esculpidas pela natureza. No entanto, minha atenção seria sempre acompanhada por uma reverência respeitosa, consciente do decoro e da etiqueta que governavam as interações entre cavalheiros e damas a bordo.

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