[Narrada/Aberta] Colors

Viajar estava sendo algo novo para mim, afinal esta era apenas a segunda vez que estava indo de uma ilha para outra. Mas o que sentia era diferente, algo estranhamente familiar, como se já fosse uma antiga viajante do mar. A brisa do vento, o cheiro salgado do mar, os sons das ondas se quebrando e chocando-se contra o navio. Tudo era incrível, tão vivo e que me fez sentir a vontade de permanecer por ali por um bom tempo. É engraçado quando penso que a alguns anos atrás eu somente poderia imaginar como era o azul do mar, às vezes até duvido que estou realmente vivendo a realidade.

Mas nem sempre esse sentimento tão bom é constante, a mansão Kinderheim ainda é objeto frequente dos meus pensamentos e sonhos. Em alguns momentos consigo escutar gritos de desespero daqueles que não “serviam” para estar ali, situações chocantes para crianças ainda em formação. O medo de acabar como aqueles que sumiram fazia com que os restantes aos poucos abandonassem seus próprios sentimentos, transformando-se em um soldado perfeito para usufruto de Hans Kinderheim.  

Muitas vezes estive nessa dualidade de sentimentos, não sabendo como expressar corretamente o que estava sentindo. Shunsuke me disse que isso era um processo de “autodescoberta” e que eu ainda passaria por isso mais algumas vezes. Falando nele, precisava encontrá-lo porque em breve iríamos desembarcar e não queria que estivéssemos separados nesse momento. Não sabia exatamente onde começaria a procurar, esse garoto sempre está no lugares mais aleatórios possíveis, por sorte estávamos num navio e isso limita as opções - Ei, não tá vendo que a gente já tá quase chegando? diria de imediato quando o avistasse. Tá, talvez estivesse sendo muito grudenta, mas o fato de não conhecer ninguém além dele me fazia querer estar sempre próxima.

Rubeck de longe não foi a nossa primeira escolha, mas quando não se tem tanto dinheiro é preciso escolher o que está dentro do orçamento. E bem, sou uma péssima negociante então era capaz de piorar as coisas ao invés do contrário, então era mais fácil optar por algo mais realista. Nesse meio tempo acabei vendo algumas coisas sobre a ilha, a respeito das cervejarias, mas nada que passasse muito disso. Prefiro descobrir mais quando estivesse lá para ser um pouco mais divertido, não que estivesse esperando também o melhor lugar do mundo, mas que fosse agradável.

Uma das primeiras coisas que queria fazer era provar o sorvete daqui, era bem provável que não se diferenciasse muito de outros lugares já que o forte de Rubeck é a cerveja, mas a tentativa é válida. Conseguir dinheiro era a maior urgência, já que estou precisando de materiais de pintura e isso não é algo barato de se conseguir. Claro, tinha toda essa lista na minha mente, mas tudo tem o seu tempo, então faria cada coisa com liberdade e com calma.