A situação da dupla de aventureiras passava a ficar mais tensa conforme o tempo corria. Sinistro desistia da sua refém e se colocava em uma posição que para Sasha parecia um tanto quanto estranha, porém, o que mais a preocupava era o fato daquelas pessoas não parecerem capangas daquele homem. Essa situação subitamente passava pela cabeça das duas, acompanhada de um temor inigualável de estar lutando contra inocentes agindo contra a própria vontade. Gritos e protestos eram ouvidos das duas, que naquela situação, apenas podiam esperar pelo melhor e batalhar infinitamente por ele.

Certas de um destino inevitável, escolhiam por agir de maneira ética. Shiori passava a usar a ponta de seu bastão contra os dois capangas que ainda restavam. Apesar de não sentirem dor física, as reações involuntárias do corpo começavam a se mostrar no momento em que começavam a cambalear após se levantarem pela enésima vez, mostrando que até mesmo corpos sem sentimentos e sem razões eram limitados em alguns aspectos. Esse fato, se chegasse ao conhecimento da dupla, poderia virar o campo de batalha aos seus favores.

Sasha, por outro lado, parecia tão tocada quanto sua companheira. A ignorância em certos casos poderia ser uma bênção, como era agora, porém, um sentimento ruim ainda tocava sua mente e seu coração, mesmo não sabendo exatamente o que era. Ela pretendia acabar com isso de uma vez só, porém, lutar contra cinco inimigos ao mesmo tempo acabava por deixá-la mais fadigada que o normal. Pretendia trocar de posições com sua loba, mas imediatamente a mulher lhe convencia do contrário. Sua postura, posição e modo de ataque eram trocadas em súbito, partindo agora para ir contra o mandante de tudo aquilo.

Com seu escudo e sua espada, desferia cortes com a parte não letal e empurrava os "bonecos" com a sua massiva defesa. Alguns deles, como os capangas que Shiori lutava contra, acabavam mostrando sinais de problemas em suas partes do corpo, mesmo que muito mais cedo que os mascarados, podendo ser um fruto do que Sinistro descrevia como "inacabados". De qualquer forma, desabilitar aqueles soldados sem vontade própria não causando nenhum ferimento grave era mais que ideal para a missão delas, que até o momento parecia estar bem desfavorável.

Em meio ao pandemônio que a gata passava, conseguia, por um breve momento, escapar dos 4 capangas que restaram após um cair. A janela de tempo que ela possuía era minúscula, porém, aproveitava da melhor maneira possível. Utilizando sua acrobacia, ambos os armamentos e sua prontidão, passavam pelos corpos que tentavam se levantar e fazia algumas poses diferenciadas no processo. Seu algo era ninguém menos que o vilão principal do lugar, buscando levá-lo para qualquer outra posição que não a atrapalhasse por ali.

No momento em que Sinistro sentia a aproximação da mink, abria seus olhos apáticos e rapidamente se punha de pé, porém, antes mesmo que pudesse fazer qualquer coisa para reagir, era atingido por uma gata que mais se aproximava de um trem imparável. Quatro dos capangas do Sinistro iam atrás dela, porém, a velocidade deles jamais poderia se igualar a dela, deixando-os para trás em um piscar de olhos. O homem, insano, começava a gargalhar novamente. Um sorriso não de felicidade, mas completa insanidade ecoava pelas paredes e galerias daquela mina sem fim.

Quando parava, tentava olhar profundamente nos olhos da mulher que o levava para longe, mas isso não era possível, pois o escudo a tampava. Desistindo desse ato fútil, ele apontava seu punho para uma das paredes e disparava algo que não podia ser visto com aquela iluminação. Seja qual tenha sido a coisa que ele disparava, aquilo conseguia o ancorar a uma das paredes mais arenosas da caverna cavada, o tirando dos trilhos daquela locomotiva. Ele cambaleava um pouco antes de se levantar, e sem delongas, apontava o disparador para as pernas de Sasha, que continuava em seu caminho.

De repente, a felina sentia um ardor estridente em sua panturrilha. A dor interna parecia um choque, mas tudo piorava quando o vilão puxava o projétil de sua carne. Como se houvessem fisgado sua carne, aquilo rasgava de dentro para fora, causando uma dor difícil de suportar por um momento. O sangramento começava logo após, como resposta natural do corpo, enquanto a vítima se levantava do chão cambaleando da perna direita. Em sua frente, Sinistro e os quatro capangas "inacabados" que restavam, prontos para acabar com o serviço que começaram.

Shiori, enquanto sua parceira passava por um perrengue, se mostrava em uma situação não tão problemática, mas similar. Lutando contra dois capangas em simultâneo, ela conseguia derrubar um deles e deixar o excedente no limite. Seus corpos já pareciam não aguentar tantos golpes, mesmo que passasse a utilizar a ponta da haste de sua lança para atacar. Mesmo que não possuíssem nenhum senso de dor, ainda possuíam limites. Baseado nisso, a loba conseguia, em meio a respirações ofegantes, suor e sangue, ela era capaz de derrubar mais um, sobrando apenas o último, e aparentemente, mais forte.


Após receberem as informações, partiam então para o porto onde deveriam encontrar Leon e seu navio de cargas. O tempo que lhes fora dado parecia ser o suficiente, porém, mesmo correndo até seus pulmões arderem de dor, acabavam por chegar ao local em cima da hora, sem planos em mente. Essa situação acabava culminando neles presenciando a chegada triunfal do enorme mink, que obviamente, escondia seus olhos da Lua. Algumas palavras eram proferidas, restando apenas o improviso da dupla que estava prestes a lutar.

Às, naquele momento, tentava desapertar a situação dos dois com um belo improviso e um pouco de atuação. Enquanto falava, o gigantesco pirata tirava um charuto do bolso, cortava sua ponta e o acendia, antes de olhar atentamente para as duas figuras que conversavam em sua frente. O ruivo, enquanto sua irmã entrava no personagem, não conseguia disfarçar sua expressão mal-encarada e os olhos virados para o homem. Essa atitude o chamava a atenção, o fazendo logo abrir a boca.

— Quem são vocês? — perguntava retirando o fumo de sua boca, em suspeita por causa de Akira e a atuação não tão convincente da mulher. Nesse momento, seu charuto retornava à sua boca, enquanto o mais "esquentado" entrava em posição de combate e rapidamente iniciava a ofensiva. Em um ímpeto, ele saltava até a altura do inimigo, desferindo uma poderosa joelhada antes mesmo que levantasse suas mãos para o ataque. O seu mais novo oponente, porém, já esperto e intrigado com a estranheza de tudo aquilo, era capaz de levantar seu grande escudo antes que fosse atingido em cheio pelo golpe.

— HAHAHAHA! — gargalhava Leon. — Minha cara não vai estar bem? Me render? Se vocês vieram preparados para um combate, então vamos logo para ele! — exclamava, finalmente entrando em posição de luta. Seu tronco se abaixava levemente, enquanto seu enorme escudo guardava parte de seu corpo e suas partes vitais. Com a outra mão, o cetro era posto de maneira ofensiva, mirado diretamente para os inimigos, pronto para cortar até mesmo o ar envolta de si mesmo.

Akira colocava um largo sorriso em seu rosto, que era retribuído de maneira semelhante pelo mink. Às, por outro lado, parecia estudar se era realmente uma boa opção seu irmão tomar a dianteira daquele conflito. Não podendo fazer muito quanto a isso, visto que seu irmão partia novamente para a ofensiva, apenas levantava sua guarda e se preparava para quaisquer ataques que pudessem vir. Da parte do pirata, porém, não vinha o primeiro ataque, escolhendo esperar pelos seus inimigos, como se os provocassem.


Naquele bar, Rango pegava algumas informações e finalmente marcava um horário para um encontro com o cartel. Inicialmente, parecia não apreciar a maneira como era atendido, talvez de maneira soberba ou esnobe, porém, isso não o fazia baquear ou reclamar; de maneira totalmente oposta, tal evento parecia o convidar a mais uma vez crescer na vida de caçador e / ou apenas se tornar alguém conhecido pelas bandas. De qualquer forma, o que estava ali para fazer era terminado, e para sua alegria, podia sair daquela pocilga.

Seus pés o levavam até a porta do lugar, que saía sem reclamações, apenas agradecimentos por finalmente deixar o estranho lugar. Seu próximo destino era então marcado bem facilmente: Guilda dos Aventureiros. A caminhada até o local não era demorada, sequer trazia alguma novidade para o rapaz. As ruas, no entanto, estavam completamente em silêncio e em maior parte vazia pelo horário já avançado da noite, adentrando a madrugada. O que iluminava seu caminho era a Lua no céu e postes de luz que atraíam diversos insetos. De maneira análoga, sua presença ali parecia atrair alguns olhares de canto e curiosos, talvez de indigentes, ladrões da noite ou seres misteriosos de mais para se ter qualquer pista.

Chegando no local, ele imediatamente adentrava o salão, apenas para ver uma visão similar. Algumas moças trabalhavam ali para o que julgava ser o turno noturno, e eram subitamente abordadas por Hollyday para obter algumas breves informações. Em um susto, vendo que não havia ninguém naquele local naquele horário, a atendente acordava de um grande cochilo, possuindo ainda seus olhos rodeados por olheiras.

— Anh? Ah! — demorava um pouco para processar devido à sonolência, mas logo partia para o que lhe era pedido. — Eles estão no porto H, atrás de Leon e o navio de suprimentos. Yawwwnn... — bocejava um pouco, não se prendendo a formalidades ao não cumprimentar o homem lhe dando uma breve despedida; preferia seus cochilos em horário de trabalho. Rango obtinha a informação desejada, lhe restando apenas executar seu caminho até seus companheiros.