[Tutorial] Anakin

Veja se não há no homem uma veia de criminalidade. Uma gota ambivalente que pesa a balança para o outro lado, provavelmente, equilibrando-a. No fim, todo líder está acorrentado ao possível erro. Toda soberania é agarrada numa premissa mal intencionada e superficial. Todo poder é distribuído arbitrariamente, pelo destino ou pelas mãos dos homens. Força, mérito, sangue e conquistas. Os humanos se acostumaram a viver assim.

Las Camp não era diferente. Pelo menos, eu sempre acreditei que não fosse. Aquela cidade que, por vezes, poderia parecer que cheirava a ganância e desprezo. Lançado à mercê da sociedade, eu nunca soube que impressão rondava aquela imagem. Nunca me questionei, se assim pode ser dito. Sentia que não havia ninguém que se importaria se eu acordasse morto, numa manhã qualquer. As autoridades provavelmente comemorariam ou deixariam de lado. Enfim, tudo não passava de pensamentos.

Acordar naquela cidade poderia ser a pior parte. Encontrar-me entre as traças da sociedade. Um mendigo qualquer. Desabrigado, jogado em um beco ou canto que deveria me recordar da noite anterior. Isso quando não fosse acordado por fatores externos. Levantaria e, de qualquer modo, restaria a única ideia de ir a um bar, me embebedar logo cedo. Eu tinha dinheiro? Não faria ideia alguma. Isso importaria? Não mesmo. Aquele havia sido o modo que havia encontrado para viver. Roubando e enganando.

Considerações:

Aquela sensação de pós-embriaguez era uma merda. Uma sensação que me fazia repensar meus atos, toda vez que meu estômago se remexia. Olhei ao redor, percebendo que ali estava aquele lugar que, minha mente, teimava em lembrar poucas e breves lembranças de noites sórdidas e inebriantes. Observei pela janela aquele gigante sentado numa cadeira minúscula. Suas palavras, pouco perturbadoras, me trouxeram um calafrio que subiu por minha espinha.

— Caralho, o que eu fiz? — Me perguntava mentalmente. Sem recordações e zero esforços para tentar traze-las à tona.

Adentraria o local com passos um tanto quanto perdidos e ainda tontos. A sensação de embriaguez ainda se fazia presente e meus olhos, pesados, teimavam em piscar rapidamente à mudança de luminosidade. Olharia ao redor antes de me aproximar do balcão, solitário, onde cujo balconista dormia inconsciente. Ótimo dia para um assaltante. Teimaria em olhar ao redor, o mais discreto possível e de olhos ageis.

— Alguém olhando? — Me perguntava antes de, enfim, fazer algo que pudesse me incriminar.

Avaliando a posição do balconista com olhos atentos, eu poderia ter uma breve ideia de como rouba-lo ou, ao menos, como tentar me aproximar pelo balcão e alcançar seus bolsos por ali mesmo. Quer saber? Antes de tentar, mudei de ideia. Era melhor tentar roubar uma bebida do que arriscar acorda-lo. Novamente, o mesmo ritual, buscando olhar ao redor e achar uma bebida apropriada, talvez um rum mais caro um pouco ou uma bebida um pouco melhor? Sim, sim, é o que eu tentaria roubar. Talvez, duas garrafas fossem melhor. Se necessário, subiria no balcão ou até mesmo atravessaria para o outro lado. Era mais fácil buscar algo que estivesse próximo. Com os ouvidos atentos, também deveria prestar atenção aos clientes, qualquer barulho poderia fazer com que eles tomassem algum partido.

— Tudo bem, tudo bem. — Tomada a iniciativa, tinha que ter alguma certeza que isso iria dar certo e se não desse, eu teria de correr o mais rápido possível. — Okay. — Pensava. — Roubar bebidas não enche barriga. — Se tudo desse certo, porque não roubar algum dinheiro? Se ele acordasse, eu não tinha nada a perder. Ou tinha? Era melhor deixar pra lá. Eu poderia vender as bebidas em algum lugar por Las Camps, a um preço camarada, qualquer um poderia comprar.

Era melhor eu sair dali. E realmente sairia, se tudo ocorresse com esperado, com pelo menos, duas bebidas caras em mãos. Agora, era hora de vender. Qualquer comerciante bom, sabe que a alma do negócio é o lugar. Ou é o produto? Sei lá, eu não sou comerciante. Enfim, eu tinha de achar algum lugar para vender aquelas mercadorias e tinha de ser longe dali. Caminhar um pouco me tiraria daquelas proximidades e, buscando um lugar mais movimentado, talvez, eu encontraria alguém?

— Foda é essa chuva. — Se é que iria chover, mas estava ameaçando. Olhei para o céu algumas vezes, buscando saber se realmente ia.

— RUM BARATO E BOM! — Gritaria, no primeiro ponto bom que pudesse encontrar algumas pessoas passando. — RUM BARATO E BOM! — Colocando as bebidas no chão eu... verdade, poderia beber uma delas. Abri a primeira garrafa e pelo gargalo, daria algumas goladas. Agora, só tinha mais uma garrafa para vender mas, se tudo desse certo, conseguiria arrumar um dinheiro para comprar alguma comida. Não tinha nenhum objetivo gritante e, era algum grande problema? Talvez sim e temo que sim. Bom, naquele dia, pelo menos, senti que estava muito distante de querer algo além de um pedaço de pão para comer. — RUM BOM E BARATO! — Assim soava melhor. Gritaria até que um desgraçado viesse comprar minha bebida.

Considerações:

Aqueles olhos felinos eram perspicazes, ágeis, indevidos, se assim posso dizer. Eu pediria licença se fosse conveniente pedir um minuto de privacidade para roubar um bom, mas nem tão bom, samaritano que dormia em serviço. De qualquer maneira, aquele barulho me trazia certo sono. Que som era aquele? Um violino? Vitrola?

Olharia de novo e aqueles olhos permaneciam ali, fitando e analisando tudo. Não era meu dia de sorte. Uma tosse me atacava de súbito, tentaria contê-la colocando uma das mãos sobre a boca. As duas tossidas soariam abafadas e então, um trovão. Retumbando tão alto que meus pés saltaram e eu acabava dando um passo para o lado. O homem, sobre o balcão, remexendo-se, acabava por acordar com o barulho.

— Merda. — Praguejar foi a primeira coisa que veio à mente, mas manteria o silêncio.

Ele perguntava o que eu queria. Caminharia mais próximo dele, na tentativa de disfarçar certo nervosismo. — Queria bebericar um rum barato, sabe? Mas também não quis atrapalhar sua soneca. — Faria um sinal como se bebesse algo invisível enquanto instintivamente procuraria um lugar pra me sentar, nem tão próximo nem tão longe , na pretensão de me fingir um pouco mais descontraído e tranquilo e, também, manter certa distância do homem.

A ideia era pedir as bebidas e então fugir sem pagar. Por que, então, não pedir um rum mais caro? Ele não acreditaria em mim. Enfim, um dos problemas era o segurança. Porém, a merda já estaria feita.

Se ele me perguntasse se tenho dinheiro? Obviamente, falaria para ele não se preocupar pois eu tinha. E se ele me pedisse pra mostra-lo? Então, teria de inventar a história de que o dinheiro estava em outro lugar. Talvez assim, eu poderia sair do lugar antes de algum problema me encontrar. Nesse caso, porém, eu sairia de barriga vazia, entristecido e solitário como um gato de rum. Sem ofensas ao nosso amigo Mink.

Em outro caso, o de ele me servir, o problema já estaria comprado. — Traz alguma coisa pra comer também, por favor. — Como eu disse, o problema estaria comprado e a partir dali, não haveria volta. Olharia ao redor, nessa situação específica, afinal, a pior saída seria a porta. Havia a grande janela de antes, por onde eu havia olhado o bar. Mas por ali eu podia bater de frente com o segurança grandalhão. Caminharia até o local que me parecesse propenso a me sentar e lá, repousaria.

— Tudo bem, você já fez isso antes. — Tentaria deixar os pensamentos mais tranquilos virem a mente. — Por que diabos tem um segurança aqui? — Questionaria, olhando em direção a porta, na espera pelo garçom. Deixando o corpo relaxar por alguns instantes. Obviamente, tinha a possibilidade dele sequer sair de trás do balcão e eu ter de me aproximar, mas isso não seria problema. Se esse fosse o caso, assim eu faria, com aquele leve sorriso no rosto. Levantaria, pegaria o que me fosse necessário e então, me sentaria novamente, no mesmo local de antes.

Tinha aquele Mink. Ele também era um problema.
— Ele seria capaz de me perseguir? — Essa questão vinha a mente. Aqueles olhos haviam me trazido certo calafrio na espinha, anteriormente. — Tanto faz. — Se nada me impedisse, eu poderia comer e com a fome que estava, um pouco rápido demais, o faria. Bebericando e comendo.

Talvez, um lapso de instinto teria me visitado num momento oportuno e pararia, mesmo antes de finalizar toda a comida. Olharia ao redor. Pegando o gargalo da bebida, dava uma última golada e então, correria. Se alguma janela estivesse aberta, pularia por ela, contando com a ideia que o felino não fosse intervir em minha fuga. Em último caso, a porta era a última opção e, por lá, aos movimentos desordenados, tentaria driblar o segurança e o garçom, fugindo pelas ruas com a garrafa em mãos. Me movendo como podia, desengonçado, tentaria driblar qualquer um que aparecesse a minha frente. Saltos, pontapés, empurrões ou giros, o que fosse necessário para encontrar o refúgio ou beco mais próximo em Las Camps que me levasse para longe dali.

Considerações:

O garçom não parecia com vontade alguma de exercer sua função e, tudo bem, eu entendia, eu também não tinha vontade nenhuma de trabalhar. O problema era que, ele estava trabalhando e eu não, talvez, ele estivesse enraivecido com esta situação e parecia decidido a se vingar. A bebida marrom foi entornada num copo e passada para mim.  Segurei o recipiente e o som de metal tintilando chegou aos meus ouvidos, ao passo que o homem se distanciava.  Me sentei devagar, enquanto via uma agulha arranhando aquela melodia estranha aos ouvidos, tristonha e melodramática.

Levei aquela bebida horrível até a boca. O líquido descia rasgando a garganta e remexendo o estômago. Um calafrio chegou a subir pela espinha e na tentativa de conter a reação natural de meu corpo, minha boca se contorcia e um de meus olhos se fechavam. Talvez meu corpo ainda estivesse fragilizado pela noite anterior. Deixaria, novamente, o copo sobre a mesa. A tontura veio logo em seguida, mais rapidamente do que o esperado.

— Caaaralho... — Sussurrava, passando a mão pelo cabelo, tentando disfarçar a ressaca ou morte iminente ao veneno que me era servido.

Minha atenção à bebida servida fez com que a aproximação do felino que, sem ser convidado, se sentou ao meu lado. Recolhi o tronco para o lado oposto, olhando-o.

— O que esse cara quer? — Seria a pergunta vinda à mente.

Não conseguiria disfarçar meus olhos, curiosos e semicerrados, fitando aqueles bigodes salientes. Seu ronronar trazia uma sensação esquisita ao teor da conversa e, para me sentir mais confortável, ajeitaria o corpo um pouco mais distante do desconhecido. Respiraria fundo, tentando manter a tranquilidade. Não queria que dar a impressão de jovem indefeso. Suas palavras, no entanto, incomodavam.

Lançaria um olhar, desinteressado, pouco convidativo a continuar aquela conversa a partir daquelas duas primeiras frases.

— Que tal você cuidar da sua vida? — Me ajeitaria na cadeira, tentando mostrar tranquilidade contrária a frase. Os ombros para frente e os cotovelos sobre a mesa, trazendo o copo à boca, tomaria outro gole, deixando nítido que não estava confortável com o rumo da conversa. Apesar disso, não demonstraria grande hostilidade naquele ponto, o que permitiria que o desconhecido continuasse a falar, se assim quisesse.

O garçom se aproximava com um prato de comida e esperaria ser aquela a salvação para a situação desconfortável com aquele Mink. Minha mente, naquele curto espaço de tempo, não deixaria de tentar encontrar a verdadeira intenção daquele ser.

O prato, jogado sobre a mesa, tamborilava e certa raiva ascendia em meu peito. Talvez, toda gama de detalhes da situação começava a abalar minhas emoções.

— Foda-se. — Pensei. Olhando o garçom partir e começando a comer.

Ser observado tão de perto podia ser ainda pior, certo? Não para alguém que estava com fome. A comida, apesar de não tão apetitosa, podia saciar minha fome e comê-la seria meu objetivo naquele momento. O Mink, no entanto, parecia ter outras intenções. A medida que eu me satisfazia, instintivamente, pareceria ter uma impressão das insinuações daquele felino. Suas palavras me dariam certa raiva à medida que eu, tentando fingir não me importar, continuaria a comer. Entretanto, sua última frase, me faria parar subitamente.

Com um pedaço de frango em mãos, olharia aquele animal. A partir dali, as diferenças raciais que se fodessem. Olhando-o de canto de olho, tentaria, uma última vez, ter certeza sobre o que ele falava.

— O que caralhos tu tá falando, cara? — Perguntaria. A boca ainda cheia de comida e os olhos enraivecidos com a possível proposta.

A situação teria mudado totalmente, graças àquele felino. Tinha a impressão que tudo havia sido meticulosamente calculado desde o princípio. Olharia ao redor. Haveriam rotas de fuga válidas mas, naquele momento, o felino seria uma ameaça. Pelo menos, era a impressão que teria. Ter certeza de suas intenções era, primeiro, uma necessidade. Tentaria lê-lo. O que meu sexto sentido dizia? Ele era perigoso? Forte? Qual nível de ameaça ele me representava naquele momento? Levando em conta minha necessidade de sair dali, afinal, sequer cogitava entender verdadeiramente sua proposta. Ele estava me dando nos nervos.

Ele poderia continuar com os jogos e, neste caso, provavelmente, eu tenderia a perder a paciência. No entanto, isto não era, de todo, ruim. Seria uma possibilidade de criar uma arruaça para fugir sem pagar. Isso, no entanto, é um caso deveras específico.

O garçom murmurava alguma coisa. A situação estava se tornando desagradável de um modo que a sensação era que, confiar em meus instintos, era a única opção. O garçom estava escutando a conversa? Me perguntaria, antes de tomar uma decisão precipitada.

Considerações:

— Ok, eu vou quebrar esse gatinho manhoso na porrada. — Pensava, quando o garçom soltava um grunhido sem sentido algum. Aquela face daquele felino estava me dando nos nervos e minha intuição me trazia um vislumbre totalmente diferente daquela situação. Olhando-o bem, ele não parecia alguém temível ou fortemente imbatível. Mas, ele também havia ficado irritado e levantando, teria começado seu show.

Aquelas garras pegavam o prato e eu, instintivamente, recuava, levantando as mãos como quem se rendia. Por incrível que pudesse parecer, aquela situação trazia maior sensação de graça do que raiva. — Gaha! O gatinho ficou bravo. — Um detalhe saltava os olhos e minhas sobrancelhas se erguiam. — Ok, não é tão engraçado. — Seriam meus pensamentos, olhando para aquela ultima coxa de frango caída no chão. Minhas mãos desciam até a mesa para toca-las firmemente, enquanto meus olhos conseguiam, por instinto, captar aquela movimentação do segurança lá fora. A situação começava a ficar mais nitida.

— Ok, não é tão engraçado. — Sussurraria, pensando alto e ali, meus olhos desceriam as garras daquele filho da mãe. O berro do garçom provavelmente teria ofuscado aquele sussurro que, normalmente, ja seria inaudível.

Eu estava sem dinheiro, num bar, devendo dinheiro e prestes a entrar numa briga. Não tinha como ficar pior. Pelo menos, eu podia usar aquilo para sair de fininho, certo? Errado.

Igenuamente, achando que havia acabado, o gato pegava a garrafa e jogava-a no garçom, fazendo-a espatifar no peito do gordão. — Merda. — O problema era maior do que o imaginado. Me levantaria, o mais rápido possível, imaginando que as coisas tenderiam a ficar piores a partir dali. As pernas do gato se flexionaram, suas garras à mostra. — Ele está vindo — Pensaria e num ato de reflexo, tentaria empurrar a mesa na direção do mesmo.

Ele é um gato, Anakin. Sim. Eu sei. Nesse mesmo ato, minha base de combate subiria e a ideia seria recuar com três passos rápidos, independentemente. Parando firmemente, esperaria o momento certo, se ele saltasse sobre a mesa, seria a hora para um soco bem na fussa. Estando no ar, seu movimento estaria limitado, afinal, ele é um gato ou um passarinho?

Três cenas viriam a mente. Não que eu houvesse calculado-as mas, instintivamente, meu corpo já estaria preparado para elas. Cortes na altura da cabeça — vindo de cima para baixo —, cortes na altura da cabeça — vindos da horizontais — e cortes na altura dos ombros — vindos das horizontais. A primeira opção, eu teria de retirar meu corpo com um passo para o lado oposto a sua mão de corte e isso demandaria certo reflexo de minha parte para então, desferir um gancho na altura de sua face como contra-ataque. Na segunda possibilidade, eu teria de esquivar me agachando e agora um soco, vindo de baixo para cima, seria desferido na direção do queixo do oponente e, por fim, a terceira opção. Nesta, a defesa seria como recuo, uma ou duas passadas para trás e então, soltaria um soco longo com a destra, num momento de recuo, usando a destra que ficava a frente de minha base de ataque. Havia, também, uma ultima e possível possibilidade que meu corpo estava preparado. A de que seus golpes viessem incessantemente. Nesse caso, eu teria de aproveitar o espaço e as mesas para evita-lo ao máximo até o momento certo. Jogar as cadeiras e mesas seria a opção para que, então, as outras opções finalmente pudessem ocorrer e eu pudesse finaliza-lo.

Considerações:

— ALGUÉM SEGURA ESSE FILHA DA PUTA! — Gritava pro garçom a medida que minha barriga era cortada pelas garras do gato manhoso. A medida que uma passada para trás e uma careta me recuperavam, eu me repunha e num segundo golpe o felino caia em pé, ou melhor, de quatro.

— Que desgraçado astuto... — Pensei, ainda em guarda e olhando o Mister Bigode Torto se preparar para continuar o combate. A medida que isso ocorria, uma sombra enorme surgiu e grandes mãos seguraram meu pescoço. Bati as pernas no ar, na tentativa de me soltar. A respiração ficava dificil com aquelas mãos envoltas em minha garganta. Levei as minhas mãos até a daquele grandão mesmo que, inutilmente, tentando tira-las de mim. Ouvi, ao longe, o garçom numa gritaria enlouquecida.

— O GATO, ALASTOR, O GATO! — Eu tentaria gritar com a voz embargada pela mão que pressionava a passagem de ar. Tudo aconteceu de uma maneira tão despercebida que, naquela posição, só pude ver o gato que, prestes a fugir, recebia uma bela de uma lapada na mente. O golpe o fez cair de imediato e, na tentativa de encontrar o bem-feitor, salvador da pátria que teria destituido o grande vilão — na minha humilde opinião — de toda a história, movia os olhos por todo o canto. O bêbado permanecia onde estava mas, o homem que, antes estava ao fundo do salão, se mostrava em pé.

— Quem é esse cara? — Me perguntaria mentalmente, ao ouvir aquele discurso. Seria óbvio seu conhecimento a cerca das questões do submundo.

Alastor soltando meu pescoço seria o alívio da noite. Afagando minhas mãos na garganta para, só por precaução, ter certeza que todos os orgãos estariam inteiros. Mais duas tossidas seriam suficientes para me certificar que tudo estava certo. Recuperando-me após alguns segundos, poderia me aproximar do herói da história.

— Hey, quem é você, grande homem? — Ele realmente era grande e, eu sorriria para ele como um jovem que — eu era —, via seu herói. — Quer beber alguma coisa? — Perguntei, indicando uma cadeira ao longo.

Ah, verdade, eu não tinha dinheiro algum. Bom, isso é história para continuar outro dia...

Considerações: