A dupla de idiotas estava tão preocupada com poder ver o sol de novo que sequer lembraram de pegar as armas de graça.

Estavam juntos naquela, mesmo que trocando ofensas para decidir qual seria o melhor primeiro passo. Blumayden queria voltar para o bar, enquanto que Takamoto queria ir atrás da primeira loja, onde tudo havia começado. No fim das contas, o Homem Mais Forte do Mundo terminou sendo mais convincente, e os dois seguiram, com as suas roupas de civil, para o destino na

Realmente, a principal vantagem de Tammy, durante todo aquele tempo, era conhecer aquela cidade e como ela realmente funcionava. Para vencê-la, entender a cidade seria um ótimo primeiro passo.

Três lojas haviam sido roubadas: um açouge, uma loja de roupas e uma loja de armas. A única que eles haviam investigado pessoalmente era a loja do velho Abraham, o homem que os havia ameaçado com uma escopeta.

A placa de ''Fechada'' estava à frente da porta, por isso, os dois não puderam entrar. Parando para pensar, era horário de almoço.

- Oi, amorzinho. - A voz de Rosa, a senhora casada que havia dado em cima de Takamoto Lisandro alguns dias antes, soava. - Soube que os dois foram presos de tão empenhados em prender a malandra, kufufufu... Me pergunto o que o Abraham pensaria sobre marinheiros tão comprometidos. Perderam os uniformes e ainda assim não desistiram da missão? - Se aproximava de Lisandro e alisava seu queixo. - EI, ABRAHAM, PODE ABRIR ESSA JOÇA PORRA. - Falava com um tom de voz extremamente grave, como se fosse um militar, fazendo a porta de vidro chacoalhar com sua capacidade de intimidação ainda maior do que a de Blumayden, mas logo depois dava um sorriso.

Abraham abria a porta, sorridente. - Hihihi. Oi, vamos tomar um chá? - Seu tom de voz era de intimidado e simpático. - Ei, vocês são os rapazes da marinha, hã? Venham. Podem entrar. Os convidados da Rosa são meus convidados também. - Apesar de a loja sequer ser da senhora, ela parecia ter bastante poder sobre aquele homem estranho, que da última vez os havia recebido armado e descrente na Marinha.

Os três se sentaram à mesa, tomando cházinhos. Rosa ao lado de Takamoto e Blumayden ao lado de Abraham.

- Quando eu soube que vocês, rapazes, destruíram a mansão do burguês e então foram presos por isso, eu pensei: É esse tipo de comprometimento que estou buscando em marinheiros! Eles são verdadeiros heróis da justiça! Hoje em dia, ninguém mais arrisca tudo pelo que acredita! - Dizia Abraham, quase tomando sua xícara de chá, enquanto Rosa colocava o braço sobre os ombros de Takamoto. Com os lábios próximos à bebida, não a consumia, a pondo de novo na mesa. - A essa altura, já devem saber: Tammy Purity, a líder do Puri Puri Team, é uma famosa Agiota. - Aproximava a xícara do bebedor de líquidos de novo, a afastando sem beber, para continuar a falar. - Shells Town tem um grande problema, garoto: os melhores comércios são tão bem estabelecidos, que é difícil para qualquer outro conseguir crescer competindo de forma justa. Ao perceber isso, Tammy começou a investir em comércios pequenos, fazendo eles prosperarem. Somos gratos por essa parte. Entretanto, em meses ruins, ela nos rouba caso não consigamos pagar. E a verdade é que se ela for presa, seria pior para todos nós, pois precisamos dos seus empréstimos muitas vezes. Acontece que, de qualquer forma, como ela conseguiu todos os bens daquele burguês burraldo, ela dificilmente vai continuar investindo em pequenos comércios. - Dava de ombros, um tanto triste. Quase bebericava o chá mais uma vez, o aproximando de novo na mesa, intocado. - Não temos mais ninguém para nos apoiar. Além disso, ela comprou diversos juízes aqui. Ela sempre soube como agir o suficiente para não se incriminar e como usar as leis ao seu favor. Provavelmente, ela nunca os mataria, enquanto fossem marinheiros, apenas a partir de agora, que ninguém ligaria se os dois sumissem. Se quiser prendê-la de verdade, vai ter de ir para outra ilha depois de derrotá-la aqui. Talvez, se soubessem disso antes, fossem capazes de vencer. - Era nesse momento em que ele finalmente parecia não ter mais nada para falar. Aproximava a xícara da boca. Encostava os lábios. Começava a virá-la, erguendo o queixo para que o líquido adentrasse com mais facilidade.

E então uma corrente entrava pela porta de vidro da loja e acertava a xícara em cheio, a espatifando em vários pedaços. - AAAAAAHHHHHHH! - Berrava.

- AAAAAAAAHHHHHHHHH - Rosa saltava no colo de Takamoto, o abraçando.

- Hehehe.. Eu segui o meu antigo chefe até a prisão. E então, vi os dois saindo. Achei tão estranho que os segui e veja só o que encontrei. - Um homem de paletó e gravata possuía duas correntes amarradas aos antebraços. As duas espiralavam, e ele começava a adentrar a loja, pronto para dar uma surra em todos.

Ele não parava de sorrir, como se aquela luta já estivesse ganha.

- Han? Você é burro? Impressionante. Você é muito burro. Pelos céus! Que porta! - Dizia o dono da loja, se recuperando do susto da invasão do homem da corrente, após a pergunta estúpida de Takamoto. - Estúpido. - Coçava a têmpora. - Eu acabei de dizer que ela comprou juízes por aqui e que a melhor forma seria derrotá-la AQUI e então LEVÁ-LA para outro lugar. Estúpido! Como ela poderia estar em outra ilha se eu acabei de te explicar como essa aqui funciona para você derrotá-la. Nossa, que bom que você saiu da marinha. Eu retiro tudo o que eu disse antes. - Nem mesmo Rosa discordava, mas parecia achar aquela burrice atraente.

Abraham nem mesmo secava o rosto cuspido por Takamoto, virando-se para assistir a confusão generalizada que acontecia dentro de sua loja.

O oponente de Blumayden ria, mas o grisalho permanecia sério. Devagar, proferia insultos e pegava uma cadeira, o que fazia, pouco a pouco, o homem da corrente transformar o sorriso em uma expressão de medo e estranhamento. A aura do yakuza era assustadora, por vezes, até mesmo sem querer.

O homem da corrente espiralava e amarrava uma das pernas da cadeira, enquanto Blumayden corria, e, em determinado ponto, puxava o usuário de corrente para diminuir ainda mais a distância entre os dois enquanto este puxava a cadeira em contraponto.

A perna da cadeira quebrava, mas Blum já estava perto o suficiente. - Cavalooooooo… - Seu punho se fechava, pronto para um soco - ENDIABRADOOOO! - Dizia ao dar um chute tão potente quanto um coice contra o inimigo, que saía rodopiando e arrastando o rosto no chão.

Instantes depois, estava sentado à mesa, tomando chá, com o rosto inchado. - Desculpem. A Tammy está na fábrica de armas do meu antigo chefe. Eu não quero mais apanhar. Achei que derrotaria vocês facilmente com essas armas, mas agora estou com muito medo.

- HÃ? Ir com um burro como você? - O mercenário da corrente respondia à proposta de Takamoto. - Não, não. Eu não quero mais me envolver com confusões. Mas, se quiserem, posso levar vocês lá. Mas já vou avisando: os dois seguranças mais fortes, Los Cuervos, devem estar protegendo a fábrica. - De maneira extremamente conveniente, o antigo adversário revelava informações para os ex-marinheiros e até mesmo se transformava em uma ferramenta narrativa ridícula para adiantar ainda mais a trama, tudo sob o pretexto de que havia sido intimidado.

Em uma carroça que estava escondida na esquina da rua, os dois seguiram até os arredores da cidade, em imediações onde encontrava-se a fábrica. - Bem, é aqui. Adeus.

O vento trespassava o cenário ao som de folhas flutuantes e da carroça que se afastava. Os dois ex-marinheiros se encontravam em uma situação confusa, após a virada de personalidade do inimigo que ia embora, diante da construção.

Uma chaminé negra soltava fumaça cinzenta aos céus. A fábrica, uma construção medianam, negra e retangular, possuía um anexo à sua frente, como uma espécie de casa, onde provavelmente estavam as instâncias administrativas, sendo separada da estrada apenas por uma grade de três metros, com alguns espinhos na parte de cima.

Haviam quilômetros e quilômetros de nada ao redor da fábrica, com a estrada atravessando planícies sem vegetação. Aquele era um local realmente incomum para a ilha.

O som de equipamentos pesados podia ser ouvido e sentido em vibrações até mesmo do lado de fora.

Takamoto e Blumayden encaravam a fábrica. O ruivo não tinha sua sacola do tamanho de uma cabeça, mas o grisalho tinha trazido a sua empolgação em compensação. - QuuueebraaaaaAAAA - Acertava uma voadora com tudo na grade, fazendo-a se deitar na diagonal, suspensa apenas por outras grades, de uma maneira que se tornava possível passar andando sem muitos problemas.

Após pouco tempo andando, chegavam à instância administrativa.

A sala tinha um piso de madeira, alguns quadros, um sofá ao lado da porta, uma mesa e uma segunda porta, do outro lado, que dava para a fábrica em si.

Usando sua boina na cabeça, com os dois pés sobre a mesa e sentada em uma opulenta poltrona vermelha estava Tammy. Três guarda-costas se prostravam atrás dela: Johanna, mais próxima, com seu corpo enorme e dois homens mais atrás, colados à parede, vestindo Sombreiros na cabeça, mas vestidos como ninjas. Provavelmente eles eram os Los Cuervos. - Arriba!

- Vocês acabam de fazer a pior escolha das suas vidas. - Ela dizia, pondo o charuto na boca e puxando o isqueiro para acendê-lo. O isqueiro falhava por três vezes, mas finalmente ligava.

A agiota puxava a fumaça vagarosamente. - Agora não tem mais negociações. Eu já tenho tudo que queria. É o fim de vocês.

Takamoto fazia um discurso heróico de shonen para Tammy, que mantinha a postura sombria, segurando a boina com a ponta dos dedos, apenas ouvindo.

De maneira absolutamente infantil, o Marinheiro Mais Forte do Mundo dizia para Los Cuervos que eles pareciam cornos, fazendo até Tammy ficar desconcertada com a ofensa e observar Los Cuervos para ver que respostas teriam para aquilo.

- Yo no lo entiendo nada que hablas! - Os dois respondiam, confusos. E então, Tammy voltava a ficar sombria.

Takamoto continuava discursando e Los Cuervos começavam a atacar ele com as suas kusarigamas. O marinheiro recebia um corte no peito, outro na cintura, mais um no rosto. - Tammy! Preste bastante atenção!!! - Gritava Takamoto, demonstrando toda a sua determinação, o que fazia os Los Cuervos atacarem com ainda mais velocidade. - EU SOU O HOMEM MAIS FORTE DO MUNDO!

Bem neste momento, Tammy puxa sua pistola e atira contra o ombro de Takamoto, fazendo-o pender para trás e cair de joelhos no chão, sangrando. - Patético.

Logo após isso, Blumayden saltava e começava a gritar o nome do seu golpe recém-feito, o guaxinim do alasca.

O salto fazia parecer que iria de frente, diretamente contra a principal guarda-costas de Tammy. Contudo, com um movimento acrobático selvagem, estava atrás da mulher. Seu corpo girava, começando a fazer o coice do jumento, quando seu corpo se desequilibrou para trás.

Uma corrente tilintava, prendendo bem seus músculos do antebraço. Os Los Cuervos haviam amarrado o marinheiro antes que pudsse acertá-la por trás, desfazendo seu golpe.

- Calmate! Tu lo diciste Guaxinim Del Alasca? - Os dois falavam, abismados. - La legendaria tecnica de los kung fu?? Como tu sabeste de eso??

Tammy e Johanna passavam pela porta, entrando ainda mais na fábrica.

Os dois teriam de enfrentar Los Cuervos, que pareciam conhecer algum mistério sobre o estilo de luta de Blumayden.

Takamoto tinha o braço dolorido e com menos mobilidade após o tiro que o pegou de raspão, além de estar sangrando.