Finalmente eu havia conseguido me alistar na marinha. Meu sonho de infância enfim tinha se realizado, e agora eu mal podia esperar para começar a trabalhar de fato no cargo de marinheira. Há muitos anos, desde da minha infância, eu me pego com frequência imaginando o quão maravilhoso deve ser colocar piratas atrás das grades, e agora, estava na hora de descobrir aquilo seria realmente tão satisfatório. Eu mal podia esperar para fincar minha lâmina em alguns criminosos imundos, mas por enquanto ainda faltavam alguns preparativos a serem realizados. Antes de tudo, eu precisaria de uma boa espada, afinal, nas pressas acabei deixando minha arma anterior lá na minha casa em Sirarossa. Mas nada disso era problema pra mim, pois eu já sabia que a marinha fornecia armas para seus integrantes novatos.

Andaria até o arsenal do quartel, sempre com a cabeça bem erguida, olhando para os outros ali presentes sempre de cima mesmo que fossem mais altos. Meu rosto expressava pura arrogância, afinal de contas, eu sabia que era a possuidora do maior talento natural entre todos os marinheiros daquele quartel que tinha o mesmo rank que o meu. A minha idade não importava nem um pouco, pois por mais que meu talento tenha sido desperdiçado em dez anos de vida pacata, ele ainda existia, e eu estava muito bem preparada para mostrá-lo ao mundo.

Ao chegar no meu destino, não falaria com ninguém e simplesmente pegaria uma katana com bainha das que estivessem disponíveis ali. Caso algum marinheiro pedisse explicações, eu responderia, em um tom de deboche, como se estivesse falando com alguém desprovido de inteligência. - Eu achei que os quartéis dessem armas simples para marinheiros recém alistados. Por acaso isso mudou recentemente? - Deixaria o sarcasmo propositalmente óbvio na entonação, para que o meu interlocutor não tenha dificuldades em percebê-lo. Feito isso, eu andaria até a sala onde os marinheiros recebem missões e esperaria até ser chamada por algum superior para ajudá-lo em alguma coisa.

Histórico:

A vida de Nekkyoto não havia se tornado mais fácil após sua entrada no Governo Mundial. Talvez o rapaz jamais esperava que isso acontecesse, no fim das contas; quiçá imaginava que mudaria tanto de uma semana para outra. A influência de pessoas na sua vida terminava por ser maior que esperava também. Tanto Robin, quanto Nekkyoto, lidavam com os acontecimentos marcantes da última missão. Perguntas não respondidas eram repetidas vez após vez em sua cabeça, enquanto a imagem de seu mentor inapto o acertava cada vez mais forte.

Seu ânimo, no entanto, se mantinha alto como nunca. Seu abalo psicológico era escondido por trás de uma máscara de confiança e carisma, que conquistava qualquer um que estivesse no mesmo humor, mas raramente aqueles que não estavam. Este último caso se mostrava agora, enquanto contava sua história ao atendente posto em um lugar um tanto quanto parado da base da Marinha e do Governo Mundial.

— Me mostra seu documento, por favor. — falava em uma voz de marasmo e sem tom; cansada assim como seus olhos que caíam sobre números e mais números. Assim que o que foi pedido fosse feito, entregaria a quantia de 3.400.000 berries referente às duas missões bem sucedidas. — Vejo que você tem uma captura, mas ele não tinha recompensa. Isso é tudo que temos para você. — terminava, entregando-lhe o documento novamente antes de se despedir sem ao menos olhar nos olhos do noviço.

Sua parada após ali, no entanto, fazia seu coração tremer com certa antecipação, não o permitindo a sequer reagir à apatia daquele atendente. Ouvia-se que Clyde já havia sido reposto, mas a figura misteriosa ainda não havia sido notada por Nekkyoto, ou Robin. Sua posição, apesar do desconhecimento de sua própria face, era conhecida, se tornando apenas uma questão de interesse até que o agente encontrasse a pessoa que lhe daria ordens em seguida. Seus pés corriam até o local de destino, e sua garganta vociferava as conhecidas palavras ditas comumente pelo novato...



Pang, assim como muitos dentro daquela enorme sede, possuía um sonho que movimentava seu próprio ser e biomáquina, rumados para um objetivo supremo e maior que tudo e todos. A vida como Agente, no entanto, não se importava com qual quer que fosse sua desculpa para realizar alguma ação, seja lá a magnitude desta. Sendo um tanto quanto cruel, na verdade, o Governo Mundial buscava muito mais do que uma pessoa poderia entregar, embora muitas vezes essa realidade fosse velada sobre o holofote de uma Ordem Mundial.

Tornar Zou um lugar seguro era nobre como qualquer outra motivação. Mas será que sua força poderia o levar até lá? De forma mais incisiva, será que seu objetivo era contra as vontades da organização para a qual ele trabalhava ou ajudaria esta? De um jeito ou de outro, seus passos iniciais precisavam ser tomados, e para uma meta tão grande quanto aquela, esses se mostravam um tanto quanto pequenos como levantar de sua cama pela manhã.

O gigantesco navio estacionário que servia como sede da Marinha e do Governo Mundial se mostrava cada vez mais deslumbrante, quanto mais o tatu se aventurava por sua grandiosidade comparada a uma fortaleza dedicada à justiça. As pessoas que compunham sua extensão, no entanto, pareciam olhar de forma desdenhosa para o rapaz, seja pela sua baixa patente ou pela sua aparência um tanto quanto exótica.

De qualquer forma, sob a pressão de olhares maliciosos, seguia seu rumo até o local de se coletar armas. Para um Agente como ele, os ônus eram muitos, inclusive o de poder usufruir daqueles serviços de forma franca. Dentro dos labirínticos corredores que compunham o navio, encontrava uma pequena sala habitada apenas por um carismático senhor de idade. Seu sorriso senil era um tanto quanto contagiante, embora a animação de sua alma já não alcançasse mais a falta de vigor do seu corpo.

— O que deseja hoje... cof, coff... meu querido? — indagava com certa dificuldade, até ser respondido de maneira igualmente energética pelo recruta. — Óh...Sim! Claro. Eu tenho o que você precisa logo aqui. — dizia, saindo de seu balcão que mais lhe parecia um sarcófago para procurar pelas estantes, até encontrar um par de luvas que batiam a descrição. Elas tinha um aspecto novo, embora empoeirado; de toda forma, aquelas lhe serviriam bem.

O pó de suas novas armas era soprado pelo ancião, que se curvava levemente em uma despedida que ele mesmo já não podia mais fazer por conta de sua coluna. Assim, o mink rumava novamente para as partes principais daquele castelo flutuante. Tendo realizado todo o necessário até aquele ponto, partiria para a parte mais essencial de sua profissão: realizar missões. Inicialmente, talvez não fossem tão elaboradas, porém, como o pequeno passo de levantar de sua cama pela manhã, escalaria aquela grandiosa escada até o topo.

Sua jornada até o escritório de seu novo inspetor era marcada pela introspecção em suas obrigações e treinamentos, bem como o questionamento sobre a efetividade de alguns caminhos que o levaram até ali. Querendo ele ou não, tais escolhas corroborariam para suas metas em algum momento da jornada que ele trilharia. Naquele ponto, focava-se no seu momento, vendo, inclusive, um recruta já saudando aquele que seria responsável pelas suas missões...



Dentro da sala que antes pertencia a um tal de Clyde, estava uma mulher. Uma figura estranha de se ver por ali, mas definitivamente imponente e organizada; quiçá, a coisa mais desorganizada em seu novo escritório era apenas seu cabelo, que por rebeldia não se mantinha no fluxo dos fios negros que formava as madeixas dela. Seus olhos verdes se mantinham fixos em documentos assinados por ela naquele exato momento, enquanto sua boca larga formava uma espécie de bico, como uma pose de concentração.

Inicialmente, a figura ignorava ambos os noviços que esperavam na sua porta para receber uma missão. Ela parecia nova e vigorosa, mas inicialmente se via como alguém com foco centrado, uma vez que só partia para responder ambos assim que terminava suas anotações em um papel. Seu corpo magro - que combinava bem com seu rosto fino - se levantava da cadeira que uma vez descansara o antigo detentor daquela sala, e se prostrava em uma posição oficial de saudação.

— Bem, o que temos aqui? — dizia a moça fitando ambos os noviços. Seus globos oculares penetrava a própria alma dos dois, buscando por respostas antes que eles mesmos mexessem a própria boca. — Meu nome é Yennefer, mas eu prefiro que me chamem pelo meu cargo. Eu estarei responsável por vocês no momento, e espero que prestem um serviço satisfatório. — falava com uma seriedade sem igual. Após o monólogo, olhava especialmente para Maramune.

— Especialmente você, Nekkyoto. — finalizava, sentando de volta em sua cadeira e preparando uns papéis antes de seguir com suas orientações. Ela os organizava por pilhas diferenciadas por cores. O perfeccionismo naquela sala era um tanto quanto exagerado para alguns, mas para ela, se tratava de um modo de vida. — Vocês trabalharão em dupla daqui para frente, então espero que se conheçam bem. — olhava novamente para Nekkyoto e abria sua boca, dirigindo-se para ambos ali. — Espero que não deixe mais nenhum Agente tetraplégico, Maramune.

Histórico:

Legenda:

Considerações:

De dois mundos distantes, noviços em um caminho que não perdoava ninguém acabavam por se encontrar nas mesmas circunstâncias. Um, mais experiente naquele caminho - e já sábio em suas dores e espinhos -, se mostrava flexível, porém, inquebrável no que tangia agora a interação entre sua nova superior. A amargura dela era devolvida por um olhar do rapaz, que se explicava para seu novo colega de trabalho quase imediatamente.

Este, ingressando agora naquele universo, mostrava-se animado para o porvir e enérgico com a nova parceria. Suas convicções e ideais eram, aparentemente, tão duros quanto sua pele de mink; seriam, no entanto, resistentes o bastante para lidar com as pressões que seriam colocadas sob cada uma de suas escolhas? De uma forma ou de outra, nada poderia pará-lo em seu objetivo nobre de transformar Zou, o que ele havia deixado muito claro ali mesmo.

Como se estivesse acalmando o furor acelerado daquela dupla ali mesmo, ela voltava a falar. — A missão que vou delegar a vocês é simples. — falava, retirando daquela pilha colorida um único pedaço de papel, provavelmente uma folha de relatório. — Alguns revolucionários atacaram uma localização de lutas clandestinas envolvendo animais selvagens contrabandeados. — ela dizia, olhando os agentes nos olhos para captar qualquer sinal de pensamento. Como diziam, os olhos são a janela para a alma, e Yennefer sabia bem disso.

— Quero que investiguem o ataque e descubram quem está por trás disso. Efetuem capturas, se necessário, e reportem tudo para mim. — colocando o papel na mesa novamente, agora em outra pilha, anotava algumas coisas e assinava outros papéis; ações rápidas que visavam a maestria sobre o próprio tempo. — Sobre os animais, se o encontrarem, preciso que me digam suas localizações para que os marinheiros cuidem deles e os levem para seus hábitats naturais. Isso é tudo. Dispensados. — com sua voz imponente e gesto de mão, sinalizava que poderiam partir para a próxima aventura.

Histórico:

Legenda:

Considerações: